CHUVAS EXTREMAS

EL NIÑO: 2023 foi o ano mais chuvoso em quase quatro décadas no RS; entenda

Fenômeno climático foi o principal causador de enchentes e chuvas intensas que atingiram o Estado ao longo do ano

Publicado em: 31/12/2023 11:38
Última atualização: 31/12/2023 11:39

Até as 9 horas de quinta-feira (28), a estação do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) totalizava um acumulado de chuva de 1.914,6 milímetros ao longo de 2023. O resultado já coloca o ano que está terminando como o terceiro mais chuvoso da história do Estado.

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Ao longo do ano, Campo Bom acumulou 2.251,0 mm de chuvas, o segundo maior volume da história Foto: Arquivo/GES

Somente em 1972 e em 1941 choveu mais na capital gaúcha, sendo que os eventos da década de 1940 foram os que impulsionaram a criação do Muro da Mauá, que neste ano precisou ser acionado e mesmo assim não suportou toda a carga acumulada no Guaíba.

Com os resultados registrados até o momento, o acumulado de chuva de 2023 é apenas 70,2 mm menor do que em 1972, segundo maior registro da história, de acordo com o levantamento do Inmet. 

Mas não foi apenas a capital que sofreu com as chuvas intensas ao longo do ano. Responsável pela Estação Meteorológica de Campo Bom, Nilson Wolff aponta que até o início desta semana o volume acumulado do ano no município totalizava 2.251,0 mm. Assim, 2023 foi o segundo ano mais chuvoso da cidade em 39 anos, sendo superado apenas por 2015, quando o total de chuva registrado na cidade foi de 2.458,50 mm.

Em quase quatro décadas, o acumulado chegou a casa dos 2 mil milímetros apenas em outras três oportunidades: em 1987, em 2002 e em 2014 - neste último, acumulando um índice pluviométrico de 2.099,8 mm

Foram diversos os episódios que deixaram marcas de destruição, alagamentos e mortes ao longo de 2023. "Sem dúvida nenhuma, o El Niño foi o vetor principal do clima nesse ano de 2023. Ele foi o protagonista e causador desse excesso de chuva", aponta a meteorologista da Metsul Estael Sias.

O coordenador-geral de Operação e Modelagem do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), Marcelo Seluchi, faz coro com Estael e vai além, apontando que mesmo os ciclones que aconteceram no Estado tiveram menos influência para esse alto volume pluviométrico registrado ao longo do ano.

"Todo problema que houve na Região Sul, o transbordamento dos rios Taquari, Uruguai e Sinos, as inundações em Porto Alegre... esses fenômenos não estiveram associados, pelo menos diretamente, a ciclones", afirma categoricamente Seluchi.

O Inmet também tem o mesmo diagnóstico sobre as chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul, e preocuparam autoridades e população. "Cenário de forte contraste térmico, calor no Brasil central e mais frio ao sul do continente, sobretudo na primavera com anos de El Niño, gera volumes elevados de chuva, temporais e granizo", afirma o Inmet em nota.

Ciclones superdimensionados

Especialista em ciclones, Seluchi avalia que estes eventos climáticos ganharam mais atenção do que deveriam ao longo do ano. "Eles são muito mais comuns do que a gente imagina. Mas aquele caso do Rio Taquari foi erroneamente atribuído a um ciclone", garante e reforça que o El Niño foi o verdadeiro responsável pela intensidade das chuvas.

"Durante anos do El Niño, justamente as frentes tendem a ficar estacionárias sobre a Região Sul. Frentes estacionárias são sistemas que provocam chuva, como o solo fica muito úmido, o ar fica úmido e qualquer frente já consegue fazer chover", explica.

O que esperar para 2024?

Embora os especialistas digam ainda ser difícil fazer uma previsão concreta para o próximo ano, o Inmet já aponta um cenário para o primeiro trimestre do ano. Entre janeiro e fevereiro a tendência é de que as chuvas se concentrem mais nas regiões Centro-Sudeste do País.


Estael Sias, da MetSul, confirma oscilações térmicas Foto: Metsul / Divulgação

Já para a Região Sul são esperadas precipitações mais irregulares, com possibilidade de ficar acima da média na área mais ao norte do Paraná. O cenário de irregularidade na Região Sul se mantém em março, contudo o Inmet aponta para um aumento de volumes no final de fevereiro.

Seluchi ressalta ainda que, mesmo se não houvesse o El Niño, o risco de desastres já seria real no verão. "Todo ano isso ocorre. Independente da chuva estar acima ou abaixo da média, você tem eventos pontuais intensos. Então mesmo dentro de uma estação de chuvas abaixo da média você pode ter eventos de alguns dias ou de algumas horas, às vezes, que podem causar desastres."

De acordo com ele, o maior ponto de atenção a tragédias deve se concentrar na região Sudeste, que tem historicamente problemas com chuvas nesta época do ano, mas sem deixar de lado o risco para outros pontos do país. “ Claro que com o fenômeno ainda em curso, a região sul sempre merece atenção porque sabemos que tende a chover mais e a região nordeste é muito vulnerável também.”

Estael complementa, deixando claro a dificuldade em previsão com tanta antecedência, que a probabilidade é que o El Niño mantenha força ainda durante os meses de outono, só que passando para o status de neutralidade. “Mas a chuva e a temperatura ainda terão uma forte influência do fenômeno e, por isso, eventos de chuva excessiva e com impacto nos rios podem acontecer nos meses de outono”

A meteorologista também deixa um alerta para o risco de uma virada no final de 2024, com menos chuvas. “Ainda é cedo para falar, mas a gente pode terminar 2024 com uma redução drástica de chuva, de volumes. O quanto isso vai impactar a agricultura num primeiro ano, após o El Niño, que a gente vai ter que avaliar mais no curto prazo”, aponta.

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