PREJUÍZO BILIONÁRIO

Economia de áreas afetadas pela enchente deve encolher R$ 3,3 bilhões até agosto

Estimativa de pesquisadores da Unisinos se atém a cidades diretamente afetadas pela enchente, mas impacto em todo o Estado será ainda maior

Publicado em: 06/06/2024 21:10
Última atualização: 06/06/2024 21:11

Na quinta-feira (6), um grupo de pesquisadores da Unisinos apresentou os resultados de uma pesquisa preliminar que avalia o cenário econômico dos municípios atingidos pelas enchentes. Somadas, as perdas nas atividades econômicas devem totalizar R$ 3,36 bilhões até o mês de agosto.

O Vale do Sinos é uma das regiões mais afetadas, com perdas já somadas de R$ 686,9 milhões apenas em maio. A estimativa é que até o final de agosto esse valor some R$ 1,52 bilhão.


Mais de 16 mil estabelecimentos comerciais foram alagados no Estado Foto: Gustavo Mansur/Palácio Piratini

O levantamento aponta que o cenário de queda da atividade econômica deve se estender ao longo dos próximos meses, e para alguns dos municípios a situação já se mostra muito severa. É o caso de Eldorado do Sul, que segundo o levantamento da Unisinos, deve amargar uma queda de 36,3% na atividade econômica apenas no mês de maio. A cidade da Região Metropolitana foi praticamente devastada pelas cheias do mês passado.

Fundamentais para o PIB gaúcho, Canoas e São Leopoldo também amargam perdas significativas. Na primeira, a atividade econômica já teve uma queda de 19,8%, enquanto em São Leopoldo foi de 18,3%. Juntas, as duas cidades somam quase 5% de participação no Produto Interno Bruto (PIB) do RS.

Dos 278 mil estabelecimentos comerciais do Estado, 16% estavam em áreas inundadas, segundo levantamento da Secretaria da Fazenda do Estado (Sefaz/RS). Um cenário que faz os responsáveis pelo estudo da Unisinos preverem perdas bilionárias nos próximos meses. A estimativa do grupo é que Canoas tenha uma queda acumulada de R$ 909,7 milhões até o mês de agosto.

Porto Alegre vem na sequência no ranking do impacto nas maiores economias, com uma previsão de queda de R$ 859,3 milhões perdidos em atividade econômica. São Leopoldo deve perder R$ 415,8 milhões, enquanto Novo Hamburgo deve ter uma derrocada que soma R$ 77,4 milhões.

Para além das áreas diretamente atingidas, o problema também se estende a outras regiões e estabelecimentos que não tiveram enchentes. As dificuldades de infraestrutura se mostram como o principal entrave para a retomada da atividade econômica. De acordo com a Secretaria Estadual da Fazenda, 91% dos estabelecimentos comerciais foram afetados.

Setores como turismo já são seriamente afetados por problemas causados por estradas bloqueadas e falta de aeroporto, enquanto o agronegócio vive as dificuldades de escoamento da produção pelo mesmo motivo. “Em termos gerais, mais macros, a gente consegue visualizar os setores mais atingidos e com mais dificuldade de se recuperar, por exemplo, o turismo. O problema logístico vai acabar afetando outras regiões”, resume Camila Flores Orth, professora e uma das pesquisadoras.


Só Porto Alegre deve ter retração de R$ 859 milhões até agosto Foto: Gustavo Mansur/Palácio Piratini

Só ICMS teve queda de R$ 710 milhões

Em boletim recente, a Secretaria da Fazenda (Sefaz-RS) aponta uma queda de R$ 710 milhões em maio apenas com arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) no Estado.

Mesmo com os balanços semanais, a Sefaz diz que apenas a partir das próximas semanas será possível avaliar e projetar o real tamanho do impacto para as receitas. “O balanço de junho oferecerá uma boa referência para entender os movimentos do futuros, uma vez que empresas localizadas em municípios não afetados também perceberão impactos em função de distorções na cadeia de suprimentos, queda na demanda e dificuldades logísticas”, afirma a Sefaz, em nota.

A secretaria ainda aponta que o setor rural é o mais prejudicado até o momento, não apenas no campo, mas também na parte de vendas de insumos e implementos. “O segmento de insumos agropecuários foi o mais impactado, com uma queda de 47% nas vendas entre 1º e 26 de maio em comparação com o mesmo período do ano anterior. O setor primário gaúcho foi fortemente impactado pelas enchentes, sendo mais de 206 mil propriedades rurais atingidas”, aponta a Sefaz.

De acordo com a análise do assistente técnico estadual da área de culturas da Emater/RS-Ascar, Alencar Rugeri, os produtores rurais deverão enfrentar ainda grandes dificuldades nas próximas safras.

“A expectativa é que esse cenário persista por algum tempo devido a fatores logísticos e interrupções em diversos pontos da cadeia de suprimentos. A reversão deverá ser gradual, à medida em que ações de incentivo à retomada do setor produtivo, como flexibilizações tributárias, recuperação de infraestrutura e aportes financeiros via bancos públicos, forem implementadas pelas empresas”, afirma a Sefaz, que é responsável pela política tributária do Rio Grande do Sul.

Apoio do poder público pode evitar queda brutal e ser essencial para a retomada

Superar o cenário persistente de crise exigirá uma ação enérgica dos governos. Os pesquisadores da Unisinos destacam que os programas anunciados pelo governo federal de repasses à população, empresas e municípios são passos importantes. São eles que podem garantir, neste primeiro momento, que a queda na atividade econômica não seja tão brutal. “A velocidade da volta vai depender do investimento público”, ressalta Magnus dos Reis, outro professor envolvido no estudo.

Durante a pesquisa, os estudiosos usaram como parâmetro o caso do Vale do Taquari, que em 2023 sofreu com as enchentes. O cenário poderia ser animador, já que quatro meses após as enchentes, as cidades da região registraram uma recuperação expressiva na atividade econômica. Contudo, os professores da Unisinos alertam que essa situação não deve se repetir agora, pois as áreas afetadas foram muito maiores.

Incerteza no setor industrial

De modo geral, a incerteza é o principal sentimento em relação ao futuro econômico do Rio Grande do Sul, já que uma previsão neste momento é considerada impossível, reforça a Sefaz.

No setor industrial a incerteza é ainda maior, pois de acordo com a Secretaria Estadual da Fazenda, este segmento depende de uma série de fatores, desde as demandas até a capacidade de recuperação de cada cadeia produtiva.

Estudo da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) sobre o impacto da catástrofe climática no setor industrial gaúcho mostra que nos municípios afetados, estão localizadas 47 mil do total de 51 mil indústrias do Estado.

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