DETALHES DA INVESTIGAÇÃO

"É um golpe novelesco", afirma delegada gaúcha que participa do Linha Direta sobre esquema de nudes

Atração televisiva será exibida nesta quinta-feira (25), na Rede Globo. A região de Novo Hamburgo foi tida pela investigação como o centro de operação do crime que fez vítimas pelo País

Publicado em: 25/05/2023 07:43
Última atualização: 26/03/2024 17:18

O esquema de extorsão a partir da troca de nudes entre organização criminosa e vítimas espalhadas pelo Brasil será tema do programa televisivo Linha Direta, da Rede Globo, nesta quinta-feira (25). “É um golpe novelesco”, descreve a delegada Luciane Bertolleti, responsável pela investigação do golpe dos nudes no Rio Grande do Sul. Ela participou da atração televisiva que será exibida a partir das 23 horas pela emissora em rede nacional.


Delegada Luciane em diligência na casa de um dos suspeitos do golpe dos nudes Foto: Polícia Civil

Luciane revela que o programa abordará a ação criminosa de uma forma geral, detalhando como os criminosos agiam: desde a sedução das vítimas através de redes sociais até a extorsão financeira com direito a tortura psicológica. Segundo a delegada, foram mais de 130 prisões desde que as operações envolvendo o golpe dos nudes começou no ano passado. No entanto, ela destaca que algumas pessoas envolvidas no esquema já estavam no sistema prisional e que outros envolvidos foram presos depois pela prática de outros crimes.

Um exemplo, é a moradora de Campo Bom que não foi encontrada durante ação policial em junho de 2022 numa residência no bairro Imigrante. A mulher e o marido, que já estava encarcerado em um presídio de Charqueadas, seriam os principais agentes do esquema. Na época, ela foi rastreada pela Polícia Civil de São Paulo com base do sinal de telefonia para contato com vítimas daquele estado. “Ela ficou foragida por um tempo, cerca de três meses, que era o prazo da temporária, depois foi presa por tráfico de drogas”, conta a delegada. Luciane revela que outros foragidos serão evidenciados no programa televisivo, com o objeto de obter informações sobre o paradeiro dos criminosos.

O Vale do Sinos ganhou destaque na prática desse crime, a investigação apontou a região como centro da ação criminosa. Duas delegacias clandestinas, que eram usadas pela quadrilha para aterrorizar as vítimas, foram descobertas em Novo Hamburgo. Nos locais, a Polícia apreendeu réplicas de documentos com logotipo do Ministério Público e da Polícia Civil gaúcha.

Golpes continuam

A delegada gaúcha conta que após as grandes operações realizadas no ano passado, crimes relacionados ao golpe dos nudes continuaram acontecendo. Ela pontua que o número de casos diminuiu. "Ele (golpe) não vai terminar, que nem o golpe do bilhete”, afirma.  “Eu vi, isso não fui eu que falei, são os plantonistas aqui da região, uma diminuição significativa do golpe dos nudes depois das operações”, reforça sobre a queda de casos.

Outras vítimas surgiram após as ações policiais e contribuíram com o avanço da investigação para chegar aos criminosos. Conforme Luciane, o perfil das vítimas, de forma majoritária, são “homens com família, vida financeira boa, pois, às vezes, pagam quantias altíssimas. São pessoas que tem muito a perder, pai de família, avô, que temem sofrer um processo ou 'inquérito', como diziam os falsos policiais”, detalha.

Além desse grupo que costuma ter uma estrutura familiar e profissional sólida, a investigação observa que outros tipos de pessoas também se tornaram alvos dos criminosos. “Tem várias nuances o golpe dos nudes, naquilo que eles chamam de 'golpe amoroso' ou 'golpe afetivo'. Observamos que agora homossexuais também são alvos”. A prática é a mesma, perfis de jovens atraentes instigam as vítimas, após conversas e troca de nudes, supostos pais desses meninos ou meninas aparecem fazendo chantagens em troca de dinheiro e depois os falsos policiais cobrando propina para não prender as vítimas.

A delegada enfatiza que na medida em que a Polícia atua no combate a essa prática criminosa, a quadrilha adiciona novos elementos, incluindo perfil de vítimas, como forma de seguir com o esquema, na tentativa de ludibriar as investigações.

No começo de maio, a 3ª Delegacia de Polícia de Canoas, comandada por Luciane, em apoio à Polícia Civil de São Paulo, prendeu três pessoas durante operação em Porto Alegre. Vítima de São João da Boa Vista, usou economias e chegou a fazer empréstimo em agência financeira para pagar golpistas, que chegaram a simular suicídio de jovens para exigir dinheiro dos alvos do esquema para supostos enterros. Neste caso, o homem pagou R$ 50 mil aos criminosos.

Na ação policial mais recente, na última sexta-feira (19), a investigação cumpriu mandados de busca e apreensão em Campo Bom, Torres e Osório com o objetivo de levar à cadeia os criminosos que aplicaram o golpe em um empresário de Canoas. O prejuízo da vítima foi em torno de R$ 5 mil. Duas pessoas foram presas e dois telefones celulares usados nos golpes foram apreendidos.

Investigação Complexa

No programa, detalhes da investigação definida como complexa pela delegada Luciane serão comentados. “É uma investigação muito técnica, que demandou um esforço de toda a equipe”, pontua.

Ela conta que não foi fácil, pois em alguns momentos a demora de autorização para quebra de sigilo bancário, por exemplo, fizeram com que o processo de apuração fossem mais “complexas e demoradas”. 

Sobre a participação no programa de rede nacional, a delegada afirma que foi um grande prestígio poder evidenciar o trabalho realizado com o apoio dos seus colegas. "Eu não faço nada sozinha, temos um time. Somos eu e mais 16 agentes. Time muito qualificado e técnico. Uma investigação dessas, mesmo que seja eu, dois, ou três agentes, ela influência em toda a dinâmica da delegacia, porque os outros colegas acabam abraçando outras coisas para que nós possamos nos dedicar ao assunto", conta. 

"É a valorização do nosso trabalho e a equipe está muito feliz, com a repercussão e os resultados já obtidos", finaliza. 

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