COMUNIDADE

Dois meses após a enchente, São Leopoldo ainda tem quase 700 pessoas em alojamentos

Na cidade ainda são cinco espaços ativos prestando apoio a quem não tem para onde voltar

Publicado em: 02/07/2024 13:30
Última atualização: 02/07/2024 13:41

Dois meses depois do começo da maior enchente da história do Rio Grande do Sul, São Leopoldo ainda conta com muitas pessoas fora de suas casas. Até esta terça-feira (2), segundo dados da Secretaria Municipal de Assistência Social (SAS), eram 695 desabrigados na cidade, atendidos em cinco alojamentos ainda ativos no Município.

Os locais que concentram um maior número de pessoas são o Centro de Eventos, no bairro São Borja e o Monte Alverne, no bairro São José. Os outros alojamentos estão localizados no Centro de Espiritualidade Padre Arturo (Cepa), no bairro Arroio da Manteiga, na Associação da Vila União, na Vila União e na Associação Alta Tensão, no bairro Scharlau. 

Valdirene Carvalho dos Santos com a filha Emily Foto: Renata Strapazzon/GES-Especial

Segundo a titular da SAS, Márcia Martins, no momento mais crítico da tragédia a cidade contou com 130 espaços, abrigando cerca de 17 mil pessoas. Além disso, outros 11 municípios da região acolheram leopoldenses. Agora, os alojamentos remanescentes na cidade recebem pessoas que não têm para onde voltar e que precisaram deixar outros abrigos que foram fechando nas últimas semanas. “Nossa expectativa é ao longo do mês de julho providenciar o aluguel social para estas famílias e desativar os últimos alojamentos que ainda temos na cidade”, projeta Márcia.

Conforme ela, o aluguel social no valor de R$ 882 será repassado pelo período de um ano para que as famílias possam alugar imóveis temporários enquanto aguardam uma opção definitiva para morar. “Como no território onde estas famílias moravam não tem lugar para alugar, ampliamos a possibilidade para municípios que fazem fronteira com São Leopoldo como Sapucaia, Novo Hamburgo, Portão, Estância Velha”, conta a secretária.

Suporte 

No Monte Alverne, são 123 famílias, totalizando 235 pessoas, aguardando uma definição para suas situações. No local, elas têm acompanhamento psicossocial, alimentação quatro vezes ao dia e atendimentos de saúde. Além disso, todos os dias da semana são preenchidos com atividades extras, com práticas esportivas, cantigas de roda e capoeira, voltadas, especialmente, para crianças e adolescentes.

“Aqui estas famílias têm todo o suporte que precisam para superar esta situação. Organizamos questões referentes a benefícios e à proteção básica e oferecemos todo o acompanhamento necessário para a superação deste luto, por terem perdido tudo o que tinham”, comenta assistente social e coordenadora do alojamento, Melina Rodrigues de Oliveira.

Aniversário no alojamento

Aos 11 meses, Emily é uma das 58 crianças que vivem provisoriamente no alojamento no Monte Alverne. A proximidade do aniversário de um aninho da caçula, a ser celebrado no próximo dia 31, faz a mãe da pequena, a autônoma Valdirene Carvalho dos Santos, 29, imaginar que a comemoração será longe da casa da família.

“Ainda não sabemos se vamos ter como voltar para onde morávamos”, lamenta Valdirene. Ela, o companheiro e três filhas viviam na Ocupação Steigleder, no bairro Santos Dumont. “Saímos de casa no dia 29 de abril para irmos para o abrigo na Paróquia Santo Inácio. Logo depois fomos para a Unisinos e agora estamos aqui. É um alojamento bom, temos quartos separados, nossa privacidade, mas nada é como a casinha da gente”, desabafa Valdirene.

Na casa da família, além de todos os pertences, a água da enchente levou, também, a carrocinha que a jovem usava para coletar material reciclado nas ruas. “Perdi até o meu meio de trabalho, de sustento”, lamenta. Segundo ela, em setembro do ano passado, a família já havia perdido todos os bens com os alagamentos que atingiram o bairro. “Daquela vez eu perdi todo o enxoval da nenê”, recorda.

O recomeço empreendedor de Irenildes

Moradora do bairro São Miguel, Irenildes Alves Pinto, 65 anos, também está abrigada no Monte Alverne depois de ter ido inicialmente para o abrigo montado na Unisinos. Com a aposentadoria de um salário-mínimo, e ainda sem saber se poderá voltar a morar na antiga casa que foi invadida pelas águas, ela aposta no empreendedorismo para dar a volta por cima.

Irenildes Alves Pinto revende doces e salgado para reconstruir a casa perdida na enchente Foto: Renata Strapazzon/GES-Especial

Logo na porta de entrada do alojamento é possível encontrá-la com um sorriso largo no rosto, oferecendo doces e salgados. Os quitutes são pegos de terceiros por Irenildes, que os revende. É dessa forma que ela está juntando dinheiro para recomeçar. “Não adianta ficar parado. A gente tem que ter atitude, fazer algo. Não dá pra esperar que os outros façam pela gente. Esta é a oportunidade que encontrei de gerar uma renda para reconstruir minha casinha”, conta.

Os doces e salgados que fazem sucesso entre servidores que trabalham no alojamento e moradores provisórios do local, devem ganhar as ruas de São Leopoldo. “Minha ideia é sair daqui de dentro, vender para mais pessoas, já que além da unidade, também aceito pedidos em quantidades maiores”, projeta. Para ampliar o negócio, Irenildes busca ajuda. “Gostaria de ter um carrinho com o qual pudesse sair oferecendo os doces na rua”, diz. Interessados em ajudar, podem entrar em contato com ela pelo telefone 99148-1404.

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