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CORRUPÇÃO

Diálogos apontam que quadrilha da jogatina pagava propina a policiais civis e militares no Vale do Sinos

Membros do esquema milionário mencionam investimento em suborno para evitar operações contra casas de bingo e caça-níqueis

Publicado em: 27/11/2023 às 21h:00 Última atualização: 27/11/2023 às 21h:01
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A quadrilha da jogatina desbaratada pela Polícia Civil na manhã desta segunda-feira (27), liderada há mais de dez anos por um casal de Novo Hamburgo, é suspeita de pagar propina a profissionais da segurança pública em troca de proteção. Conversas telefônicas entre membros do grupo criminoso tratam de suborno. Não é a primeira operação no Vale do Sinos contra bingos e caça-níqueis que levanta suspeita de corrupção policial.



A investigação, da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) de Viamão, cumpriu sete mandados de prisão preventiva a partir das 6 horas. Três deles em uma residência de alto padrão na frente do presídio de Novo Hamburgo, no bairro Ouro Branco. É onde mora o casal que gerencia o esquema, capturado com uma comparsa ao amanhecer. Outros dois suspeitos foram presos na cidade, em apartamento na Rua Tupi, no Centro, um em Tramandaí e um em Pelotas.

Lavagem de dinheiro

Somente o casal tem movimentação superior a mais de R$ 10 milhões em dinheiro e negócios. “O foco da nossa investigação é a lavagem de dinheiro relacionada à exploração de jogos de azar, com o objetivo de descapitalizar o grupo criminoso”, declara o delegado da Draco, Guilherme Calderipe.

Entre as empresas de fachada utilizadas para ocultar o dinheiro da contravenção, há uma promotoria de eventos com endereço em um prédio desocupado em Gravataí. Está em nome da chefe do bando. Foram sequestrados judicialmente quatro automóveis, uma lancha e imóveis, entre eles a casa em Novo Hamburgo e uma à beira-mar em Tramandaí, além de seis contas bancárias bloqueadas.  

Investigados não citam nomes

Conforme o delegado, a investigação levantou indícios de propina. “A gente tem elementos de que existe esse tipo de pagamento, mas nada de concreto quanto a quem recebe, quem solicita.” Nas conversas interceptadas, segundo ele, os investigados não falam em nomes. “Os alvos conversam sobre pagamento de suborno e citam, de forma genérica, Polícia ou Brigada.”

Os indícios devem ser encaminhados às corregedorias das instituições. Com poder econômico, a quadrilha teria atraído proteção policial. Além da propina para evitar batidas em casas de bingos e caça-níqueis, há denúncias da participação de agentes até no transporte de valores.

Em março do ano passado, 20 brigadianos de São Leopoldo foram afastados pela Corregedoria da corporação por suspeita de envolvimento com a jogatina. Dois chegaram a ser presos, dentro do quartel, com droga, celulares sem procedência e uma arma sem identificação. Quase todos voltaram ao serviço.

Rede clandestina para idosos

De acordo com o delegado, o casal dirigia mais de cem casas de jogos no Estado, com bingos e caça-níqueis. Ele observa que, como a contravenção não resulta em prisão, a estratégia foi provar a lavagem de dinheiro. Nas interceptações telefônicas, os investigados combinavam a programação das máquinas para tirar mais dinheiro dos apostadores. A maior parte do público é de idosos, que não se importava de frequentar ambientes fechados, com pouca ventilação. Eles eram cortejados com lanche e bebidas de cortesia.

Para facilitar o acesso, os espaços costumavam ser montados em áreas centrais não só no Vale do Sinos, como também no litoral e região sul. Em Novo Hamburgo, várias salas e pavilhões no entorno da antiga rodoviária, no bairro Rio Branco, já serviram como casas clandestinas de jogos. Em Pelotas, o casal mantinha duas na região central.

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