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Especial Semana da Água

Dia Mundial da Água: especialistas falam de desafios e soluções para os recursos hídricos

Reduzir o uso de agrotóxicos, microplásticos e metais, aumentar os investimentos públicos, mudar padrões de consumo e diminuir a incidência de água em processos de produção são ações a serem tomadas

Publicado em: 22/03/2023 às 03h:00
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Por Marcelo Kenne Vicente

Há 30 anos, era oficializada pela Organização das Nações Unidas (ONU), por meio de uma resolução, a data de 22 de março como sendo o Dia Mundial da Água. O objetivo era incentivar a sociedade a desenvolver medidas concretas de preservação e de garantia de acesso da população aos recursos hídricos.

Principal fonte de água da região, o Rio dos Sinos precisa de monitoramento constante



Principal fonte de água da região, o Rio dos Sinos precisa de monitoramento constante

Foto: Vandré Brancão/GES-Especial

De lá para cá, a cada ano, são realizadas campanhas no mundo com finalidade de reduzir o impacto das ações do ser humano à natureza. Neste ano, por sinal, a ONU definiu como tema do Dia da Água “Acelerando Mudanças – Seja a mudança que você deseja ver no Mundo”, usando como exemplo a fábula do beija-flor que apaga o incêndio carregando gotas de água em seu bico.

Para Arno Kayser, ecologista e fiscal ambiental na Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam-RS), o Dia Mundial da Água contribuiu muito para trazer o debate da escassez à pauta política e social. Segundo ele, no Brasil, esse tema evoluiu bastante com a criação dos sistemas nacional e estaduais de gestão. Muitas intervenções destinadas a garantir água de qualidade e em quantidade suficiente à população e às atividades econômicas surgiram no País. Também aumentou a participação da população nesses fóruns ajudando a definir melhores as prioridades de investimento na proteção hídrica”, lembra.

Porém, alerta Arno, ainda há questões pendentes, como no Rio Grande do Sul onde, desde 1994, com governos diferentes, não foram implementados todos os elementos previstos para o sistema funcionar plenamente. Além disso, explica Arno, a crise hídrica se agravou com os eventos decorrentes das mudanças climáticas. “Isso mostra que o assunto deve seguir na pauta de todos os setores da sociedade preocupados com o futuro por ser um tema relevante à vida de todos os seres do planeta.”

A degradação das águas, frisa o ecologista, é resultado do somatório de ações humanas nas bacias hidrográficas. “A qualidade dos rios, arroios e lagoas é refletida no modo como a população, as empresas, a agricultura e outros setores econômicos tratam a região. Onde há cuidados, as águas são mais limpas.”

Governos devem priorizar proteção ambiental e saúde da população

Arno explica que a Fepam atua na fiscalização com suas equipes atendendo a denúncias da população, do Ministério Público e de outros agentes. “Em 2022, foram atendidos mais de 850 casos em todo o RS”, conta. Mas essa é uma tarefa, reforça o ecologista, também de responsabilidade dos municípios, da União e da polícia ambiental executarem. “Sabe-se que há muito por fazer e, nos últimos anos, alguns setores no Brasil trabalharam a fim de desorganizar a fiscalização ambiental em nome de ocupação de áreas para corte de floresta, garimpo, pesca e mineração, sem cuidados ambientais tanto por grandes ou pequenos contraventores. Os reflexos podem ser sentidos no aumento do desmatamento, liberação de novos agrotóxicos, mineração de ouro, invasão de unidades de conservação, pesca predatória, ataque a reservas de povos indígenas e tradicionais.” Para ele, sem um governo atuante na proteção ambiental isso tende a acontecer com mais frequência, puxado por grupos que priorizam o lucro a qualquer cuidado com o meio ambiente ou com a saúde da população. Arno informa que em 2023 será iniciado pela Fepam um trabalho de monitoramento dos agrotóxicos no rio Gravataí.

Leis ambientais são consequências de mudanças de comportamento das pessoas sobre o consumo

?É preciso, de uma vez por todas, reduzir os causadores da degradação dos recursos hídricos – como os microplásticos, metais pesados e agrotóxicos – prejudiciais não só à saúde humana mas à vida como um todo. É o que afirma o professor da Ufrgs e diretor técnico-científico da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), Francisco Milanez. Segundo ele, desde a criação do Dia da Água, muitas campanhas já foram feitas, mas a grande virada só virá com uma mudança significativa no comportamento dos consumidores.

?Um passo a ser dado, explica Milanez, é o que já ocorre em países mais desenvolvidos do ponto de vista ambiental, onde a população exige alterações nas leis e consome produtos com menor impacto ao meio ambiente. “A essência para mudanças está nas pessoas. Todas as regras ambientais são consequências da mobilização da população e da alteração de comportamento.” Ele dá como exemplo a proibição, em países da Europa, de defensivos agrícolas cancerígenos e poluentes. “A população tem um papel importante nesse sentido, pois o consumo consciente fará as empresas reduzirem o uso de poluentes em seus processos de produção.” Exemplo bem conhecido, sugerido pelo ambientalista, são alimentos orgânicos, que não se utilizam de agrotóxicos..

Mercado pode contribuir reduzindo o uso de água no processo produtivo

Os processos que utilizam água para produção de bens – a chamada “água virtual” – representam outra frente que merece atenção quando o assunto é conservação dos recursos hídricos. Segundo a Agência Nacional da Água (ANA), a agricultura irrigada e a pecuária são responsáveis por 60% de toda a água retirada no País. Já a indústria consome 9,1%. Sendo mais específico, para produzir um quilo de carne bovina são necessários 15,5 mil litros. Já a produção de 250 ml de cerveja pode consumir 75 litros de água.

De acordo com a professora da Unisinos Feliciane Brehm – formada em Química, doutora em Engenharia Metalúrgica, Minas e Materiais e especialista em química ambiental -, todos são responsáveis pela preservação. E as empresas, sejam indústrias ou propriedades rurais, têm um papel importante neste cenário. Hoje, ela afirma, há tecnologias disponíveis e outras em desenvolvimento que podem contribuir para reduzir o consumo e a poluição da água. “Entre elas estão sensores industriais, sensores de irrigação e, outro exemplo, drones que sinalizam os locais onde há presença de pragas nas lavouras, possibilitando o uso mais restrito de agrotóxicos”, lista a pesquisadora.

Os conteúdos da Semana da Água são produzidos pelo Grupo Sinos 360 e têm o oferecimento de Agesan/RS e Comusa.

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