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OCUPANDO ESPAÇOS

DIA INTERNACIONAL DA MULHER: Mulheres dominam áreas da ciência em universidades do Rio Grande do Sul

Mesmo com números positivos, o caminho em busca de equidade é longo

Laura Rolim
Publicado em: 08/03/2024 às 10h:24 Última atualização: 08/03/2024 às 10h:32
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Neste 8 de março, Dia Internacional da Mulher, destacamos o trabalho de mulheres na ciência e na pesquisa, além de mostrar os desafios enfrentados na área. Elas, que estão cada vez mais ocupando espaços dentro da sociedade – seja na vida profissional, pessoal ou acadêmica -, também são maioria em universidades gaúchas, segundo levantamento de dados referentes a 2022 e 2023 pelo projeto Mulheres na Ciência: parceria UK-Brasil para equidade de gênero.

Com o objetivo de apoiar ações de promoção à igualdade de gênero nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática, o consórcio envolve três universidades britânicas e quatro gaúchas.

Da esquerda pra direita: Mariana, Alana, Juliane, Gabriela e Bruna | abc+



Da esquerda pra direita: Mariana, Alana, Juliane, Gabriela e Bruna

Foto: Laura Rolim/GES-Especial

As atividades do projeto incluíram a coleta de dados sobre a participação das mulheres em diferentes cursos, nos últimos dois anos, em quatro universidades do Estado: Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e Universidade Feevale.

A análise quantitativa, que avaliou os resultados entre as integrantes do consórcio, apurou o número de mulheres em cursos de graduação e pós-graduação. Também avaliou o total de professoras, funcionárias e pesquisadoras de destaque pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em relação ao número de homens.

Entre estudantes

Na Universidade Feevale, por exemplo, do total dos estudantes de graduação, 57,27% são mulheres. Nos cursos das áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática, esse percentual é um pouco maior: 54,68%. A maior representação feminina dentre os campos pesquisados está nos cursos de estética e cosmética (100%) e biomedicina (90,1%). Os cursos com menor presença de mulheres são as engenharias eletrônica (3,3%) e mecânica (5%). Já a maior paridade encontrada nestas áreas é evidenciada na quiropraxia (50,9%) e na engenharia química (56,8% são mulheres).

Entre professores

Na análise docente, a presença feminina é de 55,75%. Na relação geral da Feevale, somando professoras, funcionárias e estagiárias, 61% do quadro é formado por mulheres.

Os cursos que possuem maior representação de professoras nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática são nutrição (100%) e estética e cosmética (85,7%). Já o curso com maior paridade de docentes femininas e masculinas nessas áreas é biomedicina (50%).

Em relação ao números de bolsistas de destaque no CNPq, 54% do total de pesquisadores da Feevale são mulheres.

Os desafios ainda são grandes

Apesar das mulheres serem maioria na instituição de ensino, essa representatividade não é a mesma nas posições de liderança. Conforme a coordenadora do mestrado em Virologia da Feevale, Juliane Fleck, a responsável pela pesquisa na instituição, algumas discussões realizadas no evento Mulheres na Ciência, promovido pelo projeto em 2023, refletiram sobre o papel das mulheres na sociedade ser atrelado ao cuidado (com a casa e família).

“Esse é um pensamento que está enraizado em todos nós. E, às vezes, faltam oportunidades na nossa área porque as mulheres são muito mais cobradas. Por exemplo, para se candidatar a uma vaga de mestrado ou doutorado, as mulheres, normalmente, são questionadas se pretendem engravidar durante o processo. Já os homens não são nem questionados quanto a isso, pois não é visto como um empecilho”, observa.

Para Juliane, na área da ciência o problema ganha ainda mais força. “A nossa área exige que a gente esteja o tempo todo pesquisando, esteja inserida no meio, se não, ao voltar de uma licença maternidade, por exemplo, é mais uma dificuldade”, salienta.

A coordenadora destaca a importância de ações de equidade. “Precisamos pensar em ações que provoquem mudanças. Se a gente conseguir entender a realidade da mulher na ciência, promover ambientes em que se sintam confiantes, vamos contribuir para que mais mulheres queiram fazer parte.”

Pesquisadoras apontam os desafios que ainda encontram

Diferentemente da maioria das mulheres que se tornam mãe, Mariana Soares, 36 anos, professora de medicina veterinária da Feevale e docente de mestrado acadêmico em virologia, foi contratada quando a filha tinha apenas seis meses. Algo incomum. Pesquisadora da área de vírus em animais e humanos, ela também atuou no diagnóstico laboratorial de Covid-19 para cidades da região. Além disso, lidera um grupo de pesquisa composto somente por mulheres que estudam virologia veterinária.

“É muito diferente trabalhar em um grupo somente de mulheres. Conseguimos compartilhar coisas em comum, que só nós entendemos. Vejo as mulheres como pessoas muito fortes. Tenho exemplos de fortaleza em casa e no trabalho, e obviamente isso repercute em resultados científicos”, diz.

Biomédica e responsável técnica do Laboratório de Microbiologia Molecular da Feevale, Alana Witt também encontrou na pesquisa uma forma de colaborar com a sociedade. Ela ressalta que, nos últimos processos seletivos, mulheres são a maioria. “Elas estão conquistado seus espaços. Mas vejo, também, que muitas ainda se sentem inseguras quando precisam colocar suas ideias para outros homens”, afirma a biomédica de 35 anos.

Representatividade

Bruna Saraiva Hermann, 30, fala com orgulho sobre estar rodeada por pesquisadoras – é biomédica e mestre em virologia e doutora em qualidade ambiental: “Vejo um número grande de mulheres durante a carreira, e isso é muito bom”. Ela observa que dirigir-se a uma mulher em um cargo de liderança é mais confortável. “A gente se sente mais acolhida quando é outra mulher nos ouvindo”, destaca.

Bióloga responsável pelo Laboratório de Microbiologia Molecular da Feevale e mestre em qualidade ambiental, Gabriela Saldanha Monteiro pontua a importância de ver mulheres em cargos de liderança. “Precisamos ter mulheres em destaque, que preencham cargos importantes e tenham maior representatividade”, completa a bióloga de 39 anos.

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