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SE UM É BOM, IMAGINA DOIS

DIA DOS PAIS: Comemoração é em dobro para família que gerou bebê com DNA dos dois pais

Moradores de Imbé, Jarbas Mielke Bitencourt e Mikael Mielke Bitencourt, geraram Antonella com uma barriga solidária; conheça o método

Kassiane Michel
Publicado em: 11/08/2024 às 08h:19 Última atualização: 11/08/2024 às 09h:20
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O Dia dos Pais é uma data emocionante para todos os pais, mas a primeira vez que é comemorada é ainda mais especial. Depois de muita expectativa, em um processo que levou mais de um ano, o casal Jarbas Mielke Bitencourt, de 48 anos, e Mikael Mielke Bitencourt, de 35, vai comemorar neste domingo (11) com a filha, Antonella, nos braços. A família mora em Imbé, no litoral norte.

Os pais Mikael Mielke Bitencourt (esquerda) e Jarbas Mielke Bitencourt (direita) com a filha Antonella | abc+



Os pais Mikael Mielke Bitencourt (esquerda) e Jarbas Mielke Bitencourt (direita) com a filha Antonella

Foto: Histórias do Nascer/Divulgação

A menina nasceu em maio. O primeiro a segurar a bebê no colo foi Mikael. “Lembro que eu só chorava e eu não conseguia conter as emoções, não conseguia conter o choro. A alegria estava estampada na minha cara. A partir daí caiu a ficha que realmente eu me tornei pai, então foi uma emoção inexplicável”, descreve.

Os pais Jarbas Mielke Bitencourt (esquerda) e Mikael Mielke Bitencourt (direita) com a filha Antonella | abc+



Os pais Jarbas Mielke Bitencourt (esquerda) e Mikael Mielke Bitencourt (direita) com a filha Antonella

Foto: Histórias do Nascer/Divulgação

O momento também foi emocionante para Jarbas, que traduz como “surreal” o que sentiu. “Foi uma coisa além de qualquer sentimento que a gente possa ter. Tu ter um sonho realizado, de tu saber que aquele peso de qualquer problema que pudesse dar, não deu. A Antonella chegou saudável, perfeita, com toda a saúde que Deus providenciou, e foi surreal, foi uma coisa absolutamente linda.”

Nascimento no dia de combate à LGBTfobia

A menina nasceu em uma data marcante: 17 de maio, Dia Internacional Contra a LGBTfobia. Mas o significado só foi constatado pelos pais dias depois, pois o nascimento foi às 20h06 e os dois ficaram muito envolvidos nas horas que o antecederam. “Coincidência não existe. Para mim, tudo já estava programado para que acontecesse dessa forma”, afirma Jarbas.

Os pais Jarbas Mielke Bitencourt (esquerda) e Mikael Mielke Bitencourt (direita) com a filha Antonella | abc+



Os pais Jarbas Mielke Bitencourt (esquerda) e Mikael Mielke Bitencourt (direita) com a filha Antonella

Foto: Vivi Santanna Fotografia/Divulgação

Até o início do mês de maio, antes das enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul, eles não sabiam quando a bebê chegaria. Eles aguardavam o fim da gestação de Jéssica Konig, a amiga que foi a barriga solidária.

Com o planejamento de o parto acontecer no Hospital Divina Providência, em Porto Alegre, decidiram se hospedar em um hotel da capital. Assim, poderiam evitar o risco de encontrar uma estrada bloqueada, devido às chuvas. Afinal, moram a cerca de 130 quilômetros da capital. “Nós tivemos que mapear uma nova história, fazer todo um planejamento, e a nossa obstetra nos sugeriu que nós induzíssemos o parto com 39 semanas”, explica Jarbas.

Jarbas Mielke Bitencourt e Mikael Mielke Bitencourt com a amiga Jéssica Konig | abc+



Jarbas Mielke Bitencourt e Mikael Mielke Bitencourt com a amiga Jéssica Konig

Foto: Arquivo pessoal

Rotina adaptada

Hoje, há quase três meses como pais, eles já estão adaptados e muito felizes. Jarbas chegou a tirar licença paternidade e férias, mas já voltou a trabalhar. Já Mikael é fotógrafo autônomo e consegue dedicar mais tempo do dia à filha. O casal ainda conta com uma rede de apoio com pessoas como avó e tias que ajudam a cuidar da pequena no dia a dia.

O laço de sangue é notável para quem vê Antonella com os pais, assim como os traços físicos que puxou aos pais, já que foi gerada com o DNA de ambos. “Ela tem uma conexão muito forte com a gente. Então, essa adaptação já se deu assim nos primeiros dias de vida dela nós já estávamos extremamente conectados foi uma coisa muito impressionante”, destaca Jarbas.

Com 90 mil seguidores no Instagram, o perfil @2paisdaantonella é usado para compartilhar detalhes do dia a dia da família.

“A nossa história tem um propósito e é isso que a gente está fazendo nas redes sociais, divulgando a história, mostrando para a sociedade a normalidade de um casal homoafetivo construir a sua família. Ter a sua própria filha. Independente da modalidade, se ela for pelo método de Fertilização in vitro (FIV) ou de adoção”, conclui Jarbas.

O que é barriga solidária

A barriga solidária é um método em que um casal homoafetivo pode gerar um embrião através da FIV e ele ser inseminado em uma mulher, que se voluntaria para fazer a gestação do bebê. Esse método não é uma alternativa apenas para gays, mas sim para qualquer pessoa ou casal com alguma condição que impeça ou contraindique a gestação.

Foi recentemente, em 2013, que o Conselho Federal de Medicina (CFM) passou a permitir a realização de tratamentos de reprodução assistida para pessoas do mesmo sexo no Brasil. Desde então, as normas vêm sendo atualizadas.

No caso da Antonella, o diferencial é que tem a genética das famílias dos dois pais. Pois, ao invés de usar um óvulo doado por uma desconhecida, eles usaram um oferecido por Marrie Bortolanza, irmã de Mikael, que foi fecundado com o sêmen de Jarbas.

Diferença entre barriga solidária e barriga de aluguel

O ato de gerar o bebê de outra pessoa ou casal é popularmente conhecido como barriga de aluguel, porém a comercialização da gestação não é permitida no Brasil. Conforme resolução do CFM, “a doação não pode ter caráter lucrativo ou comercial”. Assim, a única forma permitida no País é a barriga solidária.

Diferente da barriga de aluguel, a barriga solidária se trata de uma atitude altruísta e a mulher assina documentos que comprovam que ela não tem direitos sobre a criança. Para os pais, a única obrigação financeira é que paguem um plano de saúde para a mulher no período da gestação.

Conforme resolução do CFM, a mulher que empresta o útero deve pertencer à família de um dos parceiros em parentesco consanguíneo até o quarto grau (primeiro grau: pais e filhos; segundo grau: avós e irmãos; terceiro grau: tios e sobrinhos; quarto grau: primos). Na impossibilidade, o Conselho Regional de Medicina precisa autorizar que alguém sem parentesco com os pais seja a barriga solidária. Outro pré-requisito é que a mulher tenha pelo menos um filho vivo.

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