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DENGUE: Retorno do calor pode facilitar aumento de casos? Veja o que diz virologista

Rio Grande do Sul já soma quase 181 mil casos em 2024 e 279 óbitos pela doença

Laura Rolim
Publicado em: 23/07/2024 às 17h:21 Última atualização: 23/07/2024 às 17h:48
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As semanas de frio intenso, que deixaram o Estado desde o final de junho com mínimas abaixo de 10°C, frearam gradativamente o avanço das confirmações de casos de dengue. No entanto, o número ainda elevado – e com recorde para o período – é preocupante.

No Rio Grande do Sul, os casos confirmados pela doença já chegam a quase 181 mil casos e 279 óbitos, segundo a última atualização do Painel de Casos de Dengue desta terça-feira (23).

Assim como dengue e zika, o chikungunya também é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti  | abc+



Assim como dengue e zika, o chikungunya também é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti

Foto: Divulgação/Prefeitura de Montenegro

A projeção feita por especialistas era de que a doença começasse a apresentar menores números com a chegada do inverno, dado o comportamento do vírus, que por conta das baixas temperaturas, impedem a eclosão dos ovos do mosquito transmissor.

De fato, houve uma queda. No entanto, o avanço da dengue, assim como já observado ao longo de 2024, segue alcançando patamares históricos.

No panorama geral do Rio Grande do Sul, Santa Rosa segue na liderança no número de casos, com 14.924 confirmações, seguida de Novo Hamburgo (14.903) e São Leopoldo (13.518). Já no número de óbitos, a cidade leopoldense lidera o ranking, com 23 mortes em decorrência da dengue, seguida de Santa Rosa (22) e Novo Hamburgo (20). Já Canoas, que possui 7.455 confirmações, tem 17 óbitos.

Na comparação com o dia 8 de junho, São Leopoldo teve um salto de 1.173 casos e 1 óbito; Novo Hamburgo 2.254 novos casos e 2 novos óbitos; e Canoas de 3.923, para 7.455. Já os óbitos, saiu de 14 para 17.

Além disso, dos dez municípios com mais casos no Rio Grande do Sul, seis são do Vale do Sinos: pela ordem, Novo Hamburgo (2º lugar, só atrás de Santa Rosa), São Leopoldo (3º lugar), Canoas (4º lugar), Campo Bom (5º lugar), Sapiranga (7º lugar) e Sapucaia do Sul (9º lugar).

Outro dado que chama atenção, é que desde o início do inverno, marcado pelo dia 21 de junho, em cinco semanas epidemiológicas, o Rio Grande do Sul soma 2.870 novos casos de dengue. Esse número é 30,8% maior que o registrado em todo inverno do ano passado: nas 14 semanas epidemiológicas, foram 2.194 casos.

Mesmo que nas últimas semanas o número de pessoas com a doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti esteja caindo, o que preocupa são os patamares altos.

Na 23ª semana epidemiológica (entre 2 e 8 de junho), foram 1.584 confirmações, e nas semanas seguintes, os números foram baixando: 878, passando para 342, depois, 60, e na semana passada (29ª semana epidemiológica – 14 a 20 de julho), o total ficou em seis casos.

Calor volta a preocupar

Em junho, a preocupação das autoridades de saúde era relacionada ao período pós-enchente, já que o lixo acumulado nas cidades afetadas pelas cheias era propício para a proliferação do mosquito Aedes aegypti. O mesmo olhar atento segue para julho, no entanto, outro cuidado entra em cena: o retorno das temperaturas elevadas.

A coordenadora do mestrado em Virologia da Universidade Feevale, Juliane Fleck, exemplifica que o calor desta semana se assemelha à semana 25 (entre 16 e 22 de junho), quando o Rio Grande do Sul também passou a ter um leve aumento das temperaturas e entrou nas condições favoráveis para a transmissão. Ou seja, as máximas mais elevadas desta semana podem impactar num novo pico de casos.

“Aliada à questão de que a gente ainda tem muitos locais com lixo acumulado e uma umidade bastante elevada, existe essa possibilidade de termos um aumento no número de infectados. Não quero alarmar ninguém, mas sabemos que pelas condições que se apresentam, estamos num linear de favorecimento da transmissão”, reforça Juliane.

A coordenadora, no entanto, ressalta que o Rio Grande do Sul vive uma fase melhor atualmente. “Se compararmos, nós estamos com uma situação semelhante à semana epidemiológica 6 (entre 4 e 10 de fevereiro). Estamos muito melhor do que foi março, abril, maio, que tivemos um número expressivo de casos. Nosso pico foi na metade de abril”, recorda Juliane.

A virologista observa que as questões climáticas impactam diretamente na transmissão do vírus. “Esse frio que tivemos nas últimas semanas, evita, sim, a transmissão, pois acaba que temos uma diminuição na proliferação do mosquito. Temperaturas mais baixas tendem a ser desfavoráveis para o vetor, por isso tivemos um decréscimo no número de caso”, analisa.

A coordenadora também salienta que a transmissão se torna favorável com temperaturas acima de 17ºC. Por isso, as mudanças climáticas percebidas podem fazer com que o mosquito também se adapte à nova realidade. “Mesmo em temperaturas mais baixas, no momento que tiver um mosquito infectado, ele vai ser transmissor”, explica.

Projeção da dengue

A queda de casos planejada para o mês de julho, comparado a anos anteriores, não ocorreu, o que acende um alerta para as autoridades de saúde. “Nós imaginávamos que chegaríamos a números idênticos de invernos anteriores, mas permaneceram maiores. A tendência que temos visto é que vamos ter para os próximos meses uma circulação maior do que 2022 e 2023”, pontua Juliane.

“Acho que estamos caminhando para uma situação de dengue epidêmica. Não vamos ter mais regiões livres de dengue e o Rio Grande do Sul vai permanecer com transmissão”, afirma a virologista.

Importância da imunização

Para redobrar os cuidados, além da manutenção dos focos do mosquito, Juliane orienta que os pais vacinem as crianças e adolescentes.

“É bastante triste, pois as vacinas não estão sendo bem utilizadas pela população. No momento que a vacinação está disponível, o ideal é que as pessoas procurem se imunizar”. Ela ainda explica que a vacina apresenta quatro sorotipos de dengue, o que contribui para o sistema imune em caso de reinfecção pelo vírus.

Em Novo Hamburgo, que recebeu um lote de vacinas contendo 3.244 doses, já foram aplicadas 572 imunizantes no público-alvo desta etapa da campanha, que abrange crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos.

“Historicamente, os meses frios registram um número menor de casos da doença. Então, este é o momento ideal para que o público-alvo da campanha se mobilize e, preventivamente, se imunize contra a dengue, visando a defesa imunológica agora e ao aumento de casos nos meses quentes. Por isso, convido todos a levarem suas crianças e adolescentes a uma unidade de saúde para se vacinarem”, chama o secretário municipal de Saúde, Marcelo Reidel.

Já o secretário de Saúde de São Leopoldo, Júlio Dorneles, comenta que a cidade recebeu mais de 3 mil doses e aplicou 531 até agora. Ele reforça a atenção que os moradores precisam ter em suas residências para evitar a proliferação do mosquito. “Estamos enfrentando uma epidemia de dengue e a prevenção é a melhor forma de combate. Nisso entra o cuidado com os pátios, com a água parada e, agora, a vacina. Peço aos pais e responsáveis que levem seus filhos de 10 a 14 anos para as unidades”, destacou o secretário Julio Dorneles.

As doses estão disponíveis para imunização na Unidade Básica de Saúde Materno Infantil, Cohab Duque, Imigrante, Rio Branco e Scharlau.

*Colaborou: Suelen Schaumloeffel

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