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DENGUE: Brasil pode enfrentar a pior epidemia da última década, prevê virologista

Para enfrentar situação, Ministério da Saúde convoca Dia D de combate ao mosquito com a campanha 10 minutos contra a dengue

Débora Ertel
Publicado em: 29/02/2024 às 18h:21 Última atualização: 01/03/2024 às 10h:08
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“A tendência é de ter a pior epidemia de dengue da última década.” Quem faz o alerta é o virologista da Universidade Feevale e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Vigilância Genômica de Vírus, Fernando Spilki.

Especialista reconhecido em todo o Brasil, ele diz que embora o Ministério da Saúde (MS) ainda não tenha notificado, o País já atingiu 1 milhão de casos neste ano, com tendência do pico da doença ocorrer entre final de abril e maio. Em 2023, conforme dados do governo federal, o Brasil teve 1,65 milhão de casos prováveis.

Parobé é uma das cidades engajadas no combate ao mosquito | abc+



Parobé é uma das cidades engajadas no combate ao mosquito

Foto: Divulgação

Mas neste ano, o crescimento da contaminação está mais acelerado. Em 6 de fevereiro eram 262,2 mil casos prováveis da doença, com 29 mortes confirmadas e outras 173 em investigação.

Até quinta-feira (29), o Ministério da Saúde contabilizava 991.017 casos prováveis, com 207 mortes confirmadas e 674 em investigação. Nos dois primeiros meses de 2024 o Brasil já somava quase 60% de todos os casos do ano passado. “A trajetória é de subida. É assustador que todos os parâmetros anteriores já foram ultrapassados”, declara Spilki.

Para tentar mudar este cenário, será realizado o Dia D, uma mobilização nacional para reforçar as ações de prevenção e eliminação dos focos do mosquito, com o tema “10 minutos contra a dengue”. A ideia é que cada pessoa invista dez minutos do seu tempo em busca locais com água parada no ambiente onde vive.

A vistoria deve incluir ações como olhar no pote de água do cachorro, tampinha de garrafa perdida no pátio, sacola plástica fora da lata de lixo e ralos que possam estar entupidos.

Novo Hamburgo é a cidade do Estado com mais casos confirmados da doença, 1.549 exames positivos e mais 273 em investigação – números de quinta-feira (29). Inclusive, no Hospital Municipal há quatro pessoas internadas por causa da doença.

O bairro Santo Afonso entrou na lista das regiões com mais casos da doença na cidade, com 17% dos exames positivos. Os outros são Vila Diehl (30%), São José (17%) e Boa Saúde (11%).

Larvas do mosquito se desenvolvem em água parada | abc+



Larvas do mosquito se desenvolvem em água parada

Foto: Ministério da Saúde

Curva em crescimento

No Rio Grande do Sul, Spilki chama atenção para a “falsa noção” de que aquilo que ocorre em nível nacional relacionado à dengue é diferente da realidade do território gaúcho. “O que acontece no Brasil vai se refletir aqui com certeza. Não é mais um assunto para o Centro e Nordeste do País”, garante.

Os números mostram que Spilki tem razão. De 6 de fevereiro a 29 de fevereiro, o crescimento de casos prováveis no Brasil chegou a 187%. No território gaúcho, neste mesmo período, foi de 279%, já que no início do mês eram 2.534 casos confirmados e até quinta, 9.608 exames positivos.

Ao analisar os dados da região de cobertura do Grupo Sinos, o crescimento também é visível. Das 43 cidades de cobertura, até quinta-feira 41 tinham notificações de casos suspeitos, com 2.630 casos confirmados e 1.905 em investigação, somando 6.019 notificações.

Somente Harmonia, Imbé, Lindolfo Collor, Morro Reuter, Picada Café, Presidente Lucena e Vale Real ainda não tinham casos confirmados de dengue conforme o Painel da Dengue da Secretaria Estadual de Saúde.

Gaúchos ainda não têm imunidade

Spilki ressalta que diferente de outras regiões do Brasil, que há anos são afetadas pela dengue e por isso os moradores desenvolveram imunidade contra o vírus, no Estado a situação é diferente.

“Tivemos surtos em 2022 e 2023, mas seguramente esses casos não atingiram um contingente tão alto. Então, a maior parte da população não tem imunidade prévia contra a dengue. Isso pode gerar uma epidemia e ter mais casos que os 67 mil de 2022”, analisa.

Diante do cenário climático do momento, em que há umidade e chuvas, somado ao aumento de casos, ele reforça que o Rio Grande do Sul deve ter números inéditos. “Mas é possível controlar a dengue desde que se acabe com o ciclo do mosquito”, lembra. “Se as pessoas esperavam o momento para fazer diferença, o momento é agora”, dispara.

Prevenção à dengue não pode depender só do poder público | abc+



Prevenção à dengue não pode depender só do poder público

Foto: Andrieli Siqueira/Universidade Feevale

Sem sintomas oferecem risco

Em todas as viroses sempre há uma parcela da população que, apesar de estar infectada, não apresenta nenhum tipo de sintoma. Segundo Spilki, estudos amplos mostram que 80% daqueles que estão contaminados não sabem que tem o vírus.

“No caso de um surto de dengue, é uma minoria que sabe que está infectada. Isso é normal. A gravidade varia de pessoa para pessoa, da imunidade prévia”, explica.

Conforme Spilki, o fato de muitos não terem sintomas da doença ou não buscarem um diagnóstico na rede de saúde para alguma situação de desconforto, apresenta uma dificuldade a mais no controle na contaminação. “Porque se a pessoa não está fazendo os devidos cuidados, vai transmitir para o mosquito”, alerta.

O virologista chama atenção para o fato de que mesmo uma pessoa já contaminada por dengue poderá ter a doença novamente. Cada pessoa pode ter dengue até quatro vezes, pois o vírus possui quatro variantes diferentes. “Isso não se deve menosprezar. E saber que pode piorar e pode ter efeitos graves para a saúde”, pondera.

Doença sem “classe social”

Para o pesquisador, a dengue tende a ser uma doença que se manifestará em todas as partes de uma cidade, independentemente se a área é mais vulnerável ou um bairro nobre.

“As famílias de diferentes classes sociais e bairros estão conectadas. É uma falsa sensação de segurança achar que um bairro mais nobre está livre. A doença se alastra sim”, avalia.

Além de terrenos baldios e com depósito de entulhos nas regiões mais vulneráveis, há imóveis abandonados e desocupados em áreas com renda mais alta onde também há acúmulo de água.

Não existe mágica

Para o coordenador do projeto de Prevenção e Combate à Dengue da Universidade Feevale, Tiago Filipe Steffens, o controle da dengue passa por uma mudança de hábito. Todas as pessoas deveriam incorporar em sua rotina semanal uma vistoria em suas casas, incluindo as áreas externas, em busca de lugares que possam ter se tornado criadouros de mosquito.

“As pessoas querem uma mágica para acabar com o mosquito, precisa é de um engajamento de todo mundo e seja incutido esse hábito nas pessoas”, resume.

Até para as contas públicas, acabar com o ciclo do mosquito é a solução mais barata. Steffens pondera que a aplicação de inseticidas e o uso de repelentes custam mais caro e não põem fim ao Aedes aegypti. “Porque se passa o produto em um dia se e o depósito continua lá, no outro dia terá uma quantidade enorme de mosquito de novo”, diz.

Até um melhor relacionamento com a vizinhança é apontado por Steffens como uma atitude em prol do combate à dengue. “Se você percebe que o vizinho tem um balde que acumula água da chuva, fale com ele e informe. Vamos trabalhar melhor essa vivência em sociedade. Ninguém quer cobrar, mas alertar, pois a dengue pode pegar qualquer um”, aconselha.

Cidades da região estão mobilizadas

Em São Leopoldo, as Unidades Básicas de Saúde (UBSs) Paim, Vicentina, Brás e Padre Orestes abrirão no sábado. O expediente será das 8 às 16 hoas, sem fechar ao meio-dia. O atendimento é, prioritariamente, para casos de dengue, mas toda a população será recebida em livre demanda. A Farmácia Móvel é outro serviço que estará à disposição em frente à UBS Vicentina, no mesmo horário de atendimento.

No sábado à noite, durante a programação do Desfile de Carnaval de São Leopoldo, uma equipe da Secretaria Municipal de Saúde estará na Avenida Dom João Becker passando orientações e entregando material informativo de prevenção e cuidados para evitar focos do mosquito transmissor.

Em Ivoti, haverá o mutirão de limpeza nos bairros Bom pastor, Morada do Sol e Jardim Bühler, das 8 horas às 11h30. Agentes da vigilância em saúde darão orientações aos moradores e farão o recolhimento de materiais que possam acumular água, como pneus, vasos plásticos, latas e garrafas.

Canoas terá ação durante o Prefeitura na Rua, que ocorre neste sábado na Praça Ceu, no bairro Rio Branco, das 9 horas ao meio-dia. Agentes de Combate às Endemias, alguns deles vestidos de Aedes aegypt vão entregar panfletos informativos e orientar a população quanto aos cuidados com a dengue. 

Parobé também fará mutirão para eliminação dos criadouros de mosquitos nos bairros Boa Esperança e Jardim, das 8 horas às 11h30. Na ação, a equipe da prefeitura ajuda os moradores a fazer a triagem do material para descarte.

O Dia D em Novo Hamburgo começa nesta sexta-feira (1º), com uma ação integrada entre as secretarias de Saúde e de Meio Ambiente para o recolhimento de resíduos descartados irregularmente e considerados pontos críticos, começando pelo bairro Boa Saúde e em seguida no Kephas.

No sábado, a Secretaria Municipal de Saúde estará com um carro de som percorrendo as ruas dos bairros com maior incidência de casos (Vila Diehl, São José, Boa Saúde e Santo Afonso), incentivando a população a atuar na eliminação do mosquito. Além disso, uma unidade de saúde estará estacionada na Praça Punta del Este, em frente ao shopping, das 10h às 12h, prestando orientação à população.

Outra ação estratégica programada para o dia é a aplicação de inseticida nas unidades de saúde do município, já que estes são pontos de circulação de pessoas com suspeita da doença e a eliminação de qualquer foco do mosquito é fundamental.

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