MÃE E FILHO CONDENADOS
Defesa pedirá internação psiquiátrica para enteado preso pela morte de tenente em Sapiranga
Já o advogado da viúva da vítima, que sustenta a inocência dela, apelará por novo júri em outra cidade
Última atualização: 22/01/2024 11:58
Os advogados de mãe e filho condenados pela morte do tenente do Corpo de Bombeiros Glaiton da Silva Contreira, 52 anos, recorrem da sentença por motivos diferentes. A defesa do enteado da vítima, Yago Rudinei da Silva Machado, 27, quer a remoção dele do presídio para internação psiquiátrica, sob argumento de que não é capaz de responder pelo crime ocorrido há mais de dois anos. Já a banca da viúva da vítima, Ledamaris da Silva Contreira, 44, que sustenta a inocência dela, tentará novo júri e fora de Sapiranga.
De outro lado, o Ministério Público diz que apelará pelo aumento das penas.
O julgamento, que começou na manhã da última quarta-feira, terminou por volta das 22 horas de quinta, quando a juíza Milena Motta de Carvalho leu a sentença. Ao informar que os sete jurados - cinco mulheres e dois homens - consideraram os réus culpados, a magistrada fixou a pena.
São 17 anos, seis meses e um dia de reclusão para Ledamaris e 15 anos, quatro meses e 15 dias impostos a Yago, ambos em regime inicial fechado. Eles não poderão apelar em liberdade. A viúva foi levada de volta para o Presídio Madre Pelletier, em Porto Alegre, e o enteado ao Presídio Estadual do Jacuí (PEJ), em Charqueadas.
'Ele corre riscos em presídio comum'
Para a advogada Michele Jociane Ali Zini, a medida correta para o cliente seria internação no Instituto Psiquiátrico Forense (IPF), na capital. "Seguimos sustentando a inimputabilidade com base em laudos oficiais e também em três ou quatro tentativas de suicídio dentro do presídio, que não é o lugar certo para o Yago, pois não recebe o tratamento adequado e medicamentos que necessita, como antipsicóticos. Ele corre riscos em presídio comum."
O réu chegou a ir para o IPF poucos dias após a prisão, na época do crime, para avaliação da saúde mental. Quando conseguiu a liminar no Tribunal de Justiça para a internação, a defesa juntou possível diagnóstico de esquizofrenia. "A doença mental grave não é dita somente por nós, como também por várias juntas médicas. Infelizmente o IPF não aceitou um único laudo e não foi feito outro. Vamos insistir nisso por meio de recurso a ser impetrado durante a semana", declara a defensora.
'Acusação mais insana que já vi'
Além de reafirmar que Ledamaris não participou do crime, o advogado Nemias Rocha Sanches questiona a imparcialidade de júri em Sapiranga. Para ele, em razão da comoção social, os moradores da cidade sorteados para o conselho de sentença ficariam predispostos a condenar. "O tempo inteiro, nos dias de julgamento, havia muitos bombeiros fardados lá", diz ele, mencionando a situação como elemento de persuasão aos jurados e um dos motivos para anulação do júri.
"É a acusação mais insana que já vi. A defesa buscará, por todos os meios legais, a realização de novo julgamento, preferencialmente, fora da comarca de Sapiranga”, salienta. Ele refere ainda o quadro de saúde da cliente. “Lutaremos até o fim, buscando a efetivação da justiça à senhora Ledamaris, pessoa com 3 AVCs, doente desde 2009. Não tem como uma pessoa que mal caminha, com paralisia no lado direito do corpo, poder levantar um corpo, ainda com a ajuda do filho que era franzino."
Promotores querem penas maiores
O Ministério Público, que fez a denúncia dos dois réus com base no inquérito da Polícia Civil, anunciou no site da instituição que entrará com recurso para aumentar as penas. Não informou, no entanto, os argumentos. A acusação no plenário foi feita pelos promotores Karen Mallmann e Francisco Lauenstein, que tiveram momentos de forte embate com os defensores.
A investigação policial concluiu que mãe e filho agiram por motivação financeira e passional. Eles teriam articulado a morte do tenente por causa dos bens da vítima, como a casa da família no bairro São Luiz, em Sapiranga, e também porque o militar estava se separando de Ledamaris.
A trama
O bombeiro foi morto com requintes de insanidade na tarde de 25 de outubro de 2020. Por volta das 16 horas, conforme a investigação, Ledamaris passa a trocar mensagens com Yago e pede desesperadamente para ele ir à casa dela. "Vem, vem, vem", insiste. Ela também envia informações sobre a mulher com quem o marido se relacionava. A Polícia suspeita que o tenente, que tinha ido deitar há uma hora após caminhada, havia sido sedado pela esposa.
Yago vai. "Ela colocou o guri (filho mais novo) na rua para brincar, o Yago botou o carro de ré na garagem e fecharam a portão, o que nunca faziam. Cerca de 15 minutos depois, o carro saiu e quase bateu no muro. Ela foi correndo varrer a garagem, sinal de que o tenente pode ter caído no momento em que foi colocado no veículo", relata o delegado Fernando Branco, que conduziu o inquérito.
No dia seguinte, colegas de trabalho estranham que Contreira não foi trabalhar. A ocorrência do desaparecimento é feita no fim da tarde de 26 de outubro. Por volta das 19 horas, o cadáver é localizado. Estava com corte profundo no lado esquerdo do pescoço, no fim da Rua Travessão Campo Bom, em área onde se extrai areia para construção, quase no limite com Campo Bom. Estava na lateral da rua, de barriga para cima e braços abertos.
Na mesma noite, com frieza, Yago confessa. Diz que agiu sozinho. No celular dele, os policiais encontram pesquisas na Internet sobre como esfaquear uma pessoa e ocultar o crime. Na mesma noite, o enteado foi conduzido à carceragem do Batalhão de Polícia do Exército, em Porto Alegre. Soldado afastado do 19º Bimtz de São Leopoldo, trabalhava no setor de enfermagem do Hospital de Sapiranga, onde teria desviado éter e medicamentos para dopar o padrasto.
Ledamaris foi presa na tarde de 10 de novembro do mesmo ano, na casa de parentes, em Viamão. Sempre negou envolvimento.
Comandante do Corpo de Bombeiros de Montenegro e Taquari, o tenente Contreira era conhecido pela dedicação ao trabalho. Já tinha comandado Taquara e Sapiranga, onde morava com Ledamaris e o filho de 10 anos do casal. Yago morava sozinho, também em Sapiranga.
Os advogados de mãe e filho condenados pela morte do tenente do Corpo de Bombeiros Glaiton da Silva Contreira, 52 anos, recorrem da sentença por motivos diferentes. A defesa do enteado da vítima, Yago Rudinei da Silva Machado, 27, quer a remoção dele do presídio para internação psiquiátrica, sob argumento de que não é capaz de responder pelo crime ocorrido há mais de dois anos. Já a banca da viúva da vítima, Ledamaris da Silva Contreira, 44, que sustenta a inocência dela, tentará novo júri e fora de Sapiranga.
De outro lado, o Ministério Público diz que apelará pelo aumento das penas.
O julgamento, que começou na manhã da última quarta-feira, terminou por volta das 22 horas de quinta, quando a juíza Milena Motta de Carvalho leu a sentença. Ao informar que os sete jurados - cinco mulheres e dois homens - consideraram os réus culpados, a magistrada fixou a pena.
São 17 anos, seis meses e um dia de reclusão para Ledamaris e 15 anos, quatro meses e 15 dias impostos a Yago, ambos em regime inicial fechado. Eles não poderão apelar em liberdade. A viúva foi levada de volta para o Presídio Madre Pelletier, em Porto Alegre, e o enteado ao Presídio Estadual do Jacuí (PEJ), em Charqueadas.
'Ele corre riscos em presídio comum'
Para a advogada Michele Jociane Ali Zini, a medida correta para o cliente seria internação no Instituto Psiquiátrico Forense (IPF), na capital. "Seguimos sustentando a inimputabilidade com base em laudos oficiais e também em três ou quatro tentativas de suicídio dentro do presídio, que não é o lugar certo para o Yago, pois não recebe o tratamento adequado e medicamentos que necessita, como antipsicóticos. Ele corre riscos em presídio comum."
O réu chegou a ir para o IPF poucos dias após a prisão, na época do crime, para avaliação da saúde mental. Quando conseguiu a liminar no Tribunal de Justiça para a internação, a defesa juntou possível diagnóstico de esquizofrenia. "A doença mental grave não é dita somente por nós, como também por várias juntas médicas. Infelizmente o IPF não aceitou um único laudo e não foi feito outro. Vamos insistir nisso por meio de recurso a ser impetrado durante a semana", declara a defensora.
'Acusação mais insana que já vi'
Além de reafirmar que Ledamaris não participou do crime, o advogado Nemias Rocha Sanches questiona a imparcialidade de júri em Sapiranga. Para ele, em razão da comoção social, os moradores da cidade sorteados para o conselho de sentença ficariam predispostos a condenar. "O tempo inteiro, nos dias de julgamento, havia muitos bombeiros fardados lá", diz ele, mencionando a situação como elemento de persuasão aos jurados e um dos motivos para anulação do júri.
"É a acusação mais insana que já vi. A defesa buscará, por todos os meios legais, a realização de novo julgamento, preferencialmente, fora da comarca de Sapiranga”, salienta. Ele refere ainda o quadro de saúde da cliente. “Lutaremos até o fim, buscando a efetivação da justiça à senhora Ledamaris, pessoa com 3 AVCs, doente desde 2009. Não tem como uma pessoa que mal caminha, com paralisia no lado direito do corpo, poder levantar um corpo, ainda com a ajuda do filho que era franzino."
Promotores querem penas maiores
O Ministério Público, que fez a denúncia dos dois réus com base no inquérito da Polícia Civil, anunciou no site da instituição que entrará com recurso para aumentar as penas. Não informou, no entanto, os argumentos. A acusação no plenário foi feita pelos promotores Karen Mallmann e Francisco Lauenstein, que tiveram momentos de forte embate com os defensores.
A investigação policial concluiu que mãe e filho agiram por motivação financeira e passional. Eles teriam articulado a morte do tenente por causa dos bens da vítima, como a casa da família no bairro São Luiz, em Sapiranga, e também porque o militar estava se separando de Ledamaris.
A trama
O bombeiro foi morto com requintes de insanidade na tarde de 25 de outubro de 2020. Por volta das 16 horas, conforme a investigação, Ledamaris passa a trocar mensagens com Yago e pede desesperadamente para ele ir à casa dela. "Vem, vem, vem", insiste. Ela também envia informações sobre a mulher com quem o marido se relacionava. A Polícia suspeita que o tenente, que tinha ido deitar há uma hora após caminhada, havia sido sedado pela esposa.
Yago vai. "Ela colocou o guri (filho mais novo) na rua para brincar, o Yago botou o carro de ré na garagem e fecharam a portão, o que nunca faziam. Cerca de 15 minutos depois, o carro saiu e quase bateu no muro. Ela foi correndo varrer a garagem, sinal de que o tenente pode ter caído no momento em que foi colocado no veículo", relata o delegado Fernando Branco, que conduziu o inquérito.
No dia seguinte, colegas de trabalho estranham que Contreira não foi trabalhar. A ocorrência do desaparecimento é feita no fim da tarde de 26 de outubro. Por volta das 19 horas, o cadáver é localizado. Estava com corte profundo no lado esquerdo do pescoço, no fim da Rua Travessão Campo Bom, em área onde se extrai areia para construção, quase no limite com Campo Bom. Estava na lateral da rua, de barriga para cima e braços abertos.
Na mesma noite, com frieza, Yago confessa. Diz que agiu sozinho. No celular dele, os policiais encontram pesquisas na Internet sobre como esfaquear uma pessoa e ocultar o crime. Na mesma noite, o enteado foi conduzido à carceragem do Batalhão de Polícia do Exército, em Porto Alegre. Soldado afastado do 19º Bimtz de São Leopoldo, trabalhava no setor de enfermagem do Hospital de Sapiranga, onde teria desviado éter e medicamentos para dopar o padrasto.
Ledamaris foi presa na tarde de 10 de novembro do mesmo ano, na casa de parentes, em Viamão. Sempre negou envolvimento.
Comandante do Corpo de Bombeiros de Montenegro e Taquari, o tenente Contreira era conhecido pela dedicação ao trabalho. Já tinha comandado Taquara e Sapiranga, onde morava com Ledamaris e o filho de 10 anos do casal. Yago morava sozinho, também em Sapiranga.
De outro lado, o Ministério Público diz que apelará pelo aumento das penas.