CARREIRA SÓLIDA

De reality show ao Leão de Veneza: o caminho de credibilidade traçado por Bárbara Paz

Em bate-papo a campo-bonense fala sobre os desafios de sua carreira e conta sobre os projetos futuros

Publicado em: 27/10/2023 10:00
Última atualização: 27/10/2023 13:59

Com 49 anos recém-completados, Bárbara Paz está na lista dos campo-bonenses ilustres. Com mais de 25 peças no teatro e passagens pela tevê em novelas na Globo e no SBT, a artista galgou lugares mais longínquos. Além de batizar a sala de cinema de Campo Bom com seu nome, foi reconhecida no Festival Internacional de Cinema de Veneza com Babenco - Alguém tem que ouvir o coração e dizer: Parou.


Bárbara Paz esteve na Feira do Livro de Novo Hamburgo neste mês Foto: Débora Ertel/GES-Especial

A produção, lançada em 2019, é seu primeiro filme e venceu na categoria de melhor documentário. Também foi o primeiro documentário indicado ao Oscar como melhor produção do Brasil em 2021. "O filme é uma história de amor, é uma poesia. É uma carta de amor minha para ele e dele para o cinema", resume Bárbara.

A atriz voltou para a região neste mês, quando participou de bate-papo na 39ª Feira do Livro de Novo Hamburgo. Falou da carreira, do tempo em que trabalhava nas boates Vagão e Bonde e de seu relacionamento com Hector Babenco, cineasta argentino, naturalizado brasileiro.

Eles começaram a namorar em 2007, casaram em 2010 e ficaram juntos até a partida dele em 2016, aos 70 anos, enquanto lutava contra um câncer. Babenco foi indicado ao Oscar de melhor diretor no filme O Beijo da Mulher Aranha e teve como maior sucesso na carreira o longa Carandiru.

Bárbara e Babenco trabalharam juntos em peças como Hell e Vênus em Visom e no filme Meu amigo hindu. Essa foi a última obra do cineasta, que contou com a atuação de Willem Dafoe. O astro de Hollywoodd, que caiu no gosto do público ao interpretar o Duende Verde em Homem-Aranha, é participação garantida no próximo filme de Bárbara.

A produção vai falar sobre a solidão, tema que Bárbara já abordou no curta-metragem Ato, que estreou em 2021 no Festival Internacional de Veneza e recebeu o Grande Otelo no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro 2022.

Conforme a artista, a pandemia fez com que o afeto se tornasse um negócio e, o roteiro do novo filme vai falar sobre isso. "Escrever um bom roteiro demora muito. Não tenho pressa e o trabalho é longo", complementa.

Da fama para credibilidade

Já faz 22 anos que Bárbara entrou para a história da tevê brasileira ao vencer o primeiro reality show do País. Em 2001 ela faturou R$ 300 mil na Casa dos Artistas, ganhando notoriedade em todo o Brasil. "Não me arrependo de nada que eu fiz", garante.

Depois de receber o prêmio de Silvio Santos, a artista ficou dez anos longe da televisão. "Porque eu tive popularidade e não tive credibilidade. Daí eu me perguntei: para onde eu quero ir?", conta. Bárbara então mergulhou nos palcos e fez de duas a três peças por ano. "Para ter essa credibilidade eu tive que trabalhar. Porque nunca iam me olhar como uma artista, mas como popular", dispara.

Babenco: divisor de águas

Atuando como modelo desde jovem e também se aventurando nas artes visuais, Bárbara também chegou a cursar Jornalismo, curso que não concluiu. "Ali eu descobri que era uma boa documentarista", revela.


Hector Babenco e Bárbara Paz Foto: Reprodução

O marido percebeu este talento. Assim, ela recebeu carta branca para fazer o documentário no momento em que Babenco se aproximava do fim da vida, deixando registrada a genialidade do cineasta. "Eu filmei com ele. A gente criou muita coisa. Então ele me disse 'eu confio neste teu olhar. Estou te dando meu aval'. E foi a primeira pessoa que me deu este aval", confidencia.

Conforme Bárbara, ela não imaginava que o filme teria o reconhecimento que recebeu. "O filme recebeu mais de 30 prêmios no mundo. Ganha um Leão em Veneza e muda a minha história. Porque eu fico com muita credibilidade. Eu também posso ser uma contadora de histórias", destaca.

Babenco foi filmado em preto e branco e traz uma linguagem diferenciada para o cinema, escolha que tem um motivo especial. “O Hector sonhava em preto e branco e o o filme é de memórias. Então o preto e branco ajuda a contar essa história”, explica.

Além do documentário, ela publicou ainda o livro Mr. Babenco – Solilóquio a Dois Sem Um. A obra é composta de conversas que Babenco e Bárbara tiveram, como se fosse uma continuação do filme. Ela conta que a última tarefa de Babenco foi decifrar a sua letra em poemas escritos a mão desde que tinha 15 anos.

Cicatrizes à mostra

Atualmente, Bárbara se dedica à exposição Auto-acusação, que será aberta no Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica, no Rio de Janeiro em 2 de novembro, depois de passar por São Paulo. Na mostra, ela transforma em arte suas cicatrizes.


Exposição Auto-acusação Foto: Divulgação

No Natal de 1992, o carro em que ela estava colidiu contra a pilastra de um prédio. Bárbara quase perdeu o maxilar. Ela teve traumatismo craniano e diversos ossos quebrados, recebendo 434 pontos para costurar a pele que se rasgou. Em Auto-acusação fala da sua própria história por meio de instalações, fotografias, vídeos e palavras.

"Narrativas sobre um corpo. Rasgos que se multiplicam, se transformam, se proliferam e voltam a rasgar. Choram, soluçam, pulsam. Memórias cravadas na pele", escreveu Bárbara sobre a mostra.

A vontade da artista é trazer a mostra para o Rio Grande do Sul, mas ainda não tem nada confirmado.

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