A cidade de Dois Irmãos, localizada no interior do Rio Grande do Sul, protagoniza uma iniciativa inovadora que está transformando a alimentação escolar em um verdadeiro exemplo de qualidade e sustentabilidade.
Nas escolas municipais, grande parte do lanche servido aos alunos é produzido por agricultores locais. Maria Angélica Frohlich, merendeira da Escola Albano Hansen, testemunha o entusiasmo dos estudantes: “Nossa, eles adoram. Aí a gente deixa eles escolher o que eles querem. É muito gratificante.”
O diretor da Escola Albano Hansen, Nerison Carlos Hoffmann, ressalta que para ele, o fato de saber a origem dos produtos, proporciona uma maior segurança alimentar aos alunos das escolas municipais e uma maior qualidade, com a redução do tempo de viagem dos produtos.
Valorização da agricultura familiar
Pedro Joãozinho Becker, presidente do Sindicato Rural de Dois Irmãos, destaca a importância da participação das famílias agricultoras: “Hoje somos 37 famílias participando do programa da merenda escolar no município. Destas, 15 trabalham na questão da carne e mais 22 famílias estão hoje envolvidas na produção de hortifrutigranjeiros, como sucos, mel e conservas.”
Pedro destaca ainda o papel fundamental das mulheres na liderança dos fornecedores da alimentação escolar: “50% dos fornecedores da alimentação escolar de Dois Irmãos são liderados por mulheres”, disse ele.
Segundo Evandro Knob, extensionista da Emater, esse engajamento com a comunidade escolar não apenas valoriza o trabalho dos agricultores, mas também garante a qualidade dos produtos, que chegam frescos às escolas. Ele informa que são 8 mil quilos de bananas produzidas para a merenda escolar e 8 mil quilos de carne.
Planejamento e logística eficientes
A secretária de Educação, Denise, destaca a importância do planejamento para o sucesso do programa: “Temos um planejamento pronto. Ali, novembro, dezembro, a gente se organiza para o próximo ano.”
Esse planejamento minucioso envolve a elaboração de cardápios balanceados, conforme resoluções que regulamentam a alimentação escolar, além de uma logística para garantir o abastecimento de todas as escolas, com mais de 3 mil alunos.
Os benefícios desse projeto vão além da qualidade da alimentação. Denise ressalta o impacto na saúde e na economia local: “Principalmente pela questão da saúde e qualidade de vida dos nossos alunos. Isso faz com que a gente não tenha muitos problemas de doenças, por exemplo.”
Denise também destaca a importância da educação alimentar não apenas nas escolas, mas também nas famílias: “Tem famílias que não têm hábito de comer uma fruta, uma verdura ou de fazer um bolo integral misturando frutas e verduras, e esse também foi um novo conceito que a gente teve que trabalhar, para a merenda escolar ter essa aceitação”.
Além disso, a secretária ressalta que a compra direta dos agricultores locais fortalece a economia da região, proporcionando uma renda adicional para as famílias da zona rural.
Transparência e prestação de contas
A prestação de contas e transparência são elementos essenciais para o sucesso do programa, como destaca Fabiane Möller Borges, nutricionista da secretaria de Educação: “Como o governo federal repassa um recurso, tem uma lei que diz que no mínimo 30% desse recurso tem que ser em agricultura familiar. A última vez que a gente fez a prestação de contas desse recurso, a porcentagem ali deu 98%, ou seja, grande parte separamos para a compra da agricultura familiar.”
A educação nutricional desempenha um papel fundamental na transformação dos hábitos alimentares das crianças e suas famílias. Fabiane destaca: “Temos um planejamento pronto. Trabalhamos com três cardápios há algum tempo, então sabemos quais são os alimentos precisaremos no ano.”
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Esse planejamento inclui não apenas a seleção de alimentos saudáveis, mas também estratégias para promover a aceitação e o consumo desses alimentos entre os estudantes.
Compromisso e satisfação dos agricultores
Os agricultores, por sua vez, demonstram entusiasmo e compromisso com o programa. Um deles relata: “Estou produzindo uma boa parte dos produtos para as escolas. Diria que essa venda da merenda escolar incrementa 40% da renda do meu negócio. Forneço beterraba, cebola, cenoura, batata-doce, batata inglesa, salsa, cebolinha, couve, pepino e milho-verde”, disse Alcindo Berlitz, proprietário do Colha e Pague, em Dois Irmãos.
A inovação também marca a produção agrícola local, como evidenciado pelo agricultor Alcindo, que investiu em uma máquina para debulhar o milho especificamente para atender à demanda das escolas. Dessa forma, ele fornece os grãos do milho-verde para os alunos, sem as espigas.
Esse investimento não apenas agiliza o processo de preparação dos alimentos, mas também demonstra o compromisso dos agricultores em atender às necessidades da comunidade escolar.
Alimentação escolar como exemplo de boas práticas
O exemplo de Dois Irmãos ilustra como uma alimentação escolar pode ser não apenas saudável e saborosa, mas também sustentável e economicamente viável.
Ao valorizar a agricultura familiar e promover hábitos alimentares saudáveis desde cedo, o município investe no bem-estar de suas crianças e no desenvolvimento da comunidade.
Essa abordagem integrada, que envolve produtores, escolas e comunidade, serve de inspiração para outras regiões em busca de uma alimentação escolar de qualidade.
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