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Cultivo de pitaya desperta interesse de produtores da região
No Rio Grande do Sul, cerca de 180 propriedades cultivam a 'fruta do dragão', segundo Emater. Principal motivador é a diversificação da renda
Última atualização: 25/01/2024 17:13
Diferente por fora, impressionante por dentro. Apelidada de 'fruta do dragão' – devido ao seu formato escamoso e pontudo –, a pitaya conquista o paladar dos gaúchos com seu sabor adocicado.
Segundo dados do Programa Brasileiro de Modernização do Mercado Hortigranjeiro, a fruta foi introduzida recentemente no Brasil, na década de 90, com o seu cultivo concentrado no estado de São Paulo. A venda da fruta iniciou apenas em 2005, e o estado paulista continua em primeiro lugar no Brasil, tanto pelo cultivo quanto pelo volume comercializado. Santa Catarina, Minas Gerais e Pará também se destacam.
No Rio Grande do Sul, cerca de 180 propriedades cultivam pitaya, segundo a Emater. O principal motivador é a diversificação da renda. São 110 hectares, distribuídos principalmente na região metropolitana e no litoral norte, que produzem cerca de mil toneladas todo ano.
Com colheita garantida durante seis meses no ano e aposta de um bom retorno financeiro, a fruta tem atraído os agricultores.
Produção local
Em Campo Bom, Ernancio Werno Kopper, 72 anos, é um exemplo do que ocorre no resto do Estado. Ele vislumbrou a plantação da pitaya em 2017 como uma forma de complementar a renda após se aposentar do setor coureiro calçadista. Até hoje, é o único com pomares da fruta no município. O negócio deu tão certo que, além da produção no bairro Paulista, com 600 pés, o produtor cultiva em Santo Antônio da Patrulha e Nova Hartz.
“Foi amor à primeira mordida. Peguei, comi e gostei. E como tinha um terreno sem uso aqui [Campo Bom] comentei com minha esposa que seria uma opção para aproveitar o espaço. Então fui atrás de cursos e comprei um kit que vinha seis mudas. Plantei e fui aumentando a plantação”, recorda.
Apesar disso, a produção exige muitos cuidados. Segundo Kopper, a temporada de floração vai de novembro a abril, pois a planta necessita de calor e umidade para se desenvolver, visto que é um cacto de floresta tropical. “Neste ano, já estou selecionando as melhores plantas, pois meu objetivo é a comercialização. Ainda não deu o esperado devido ao calor que registramos nas primeiras semanas deste ano, quando a temperatura chegou à 40ºC”.
Calorão travou a produção
A expectativa do produtor era colher entre 1.500 e dois mil frutos até fevereiro, mas com o forte calor não foi possível, já que primeira floração ocorreu somente no fim de dezembro. Foi preciso então fazer a polinização cruzada. Segundo Kopper, do botão à fruta madura, o processo leva em torno de dois meses. “Com o tempo, minha ideia é expandir, pois não é preciso muito espaço para o plantio. Seleciono as melhores variedades, com o fruto maior e mais saboroso, para ter melhor aceitação no mercado”, revelou.
O cultivo
Da família das cactáceas, a pitaya é uma planta que apresenta certa rusticidade e tolerância a condições adversas como seca, salinidade e frio. Entretanto, quando ela é cultivada nas condições ideais de clima, solo e umidade, vai expressar seu máximo potencial produtivo.
A casca da pitaya é rígida, o que a torna bem resistente a doenças. O cultivo é feito sem agrotóxicos, mas a fruta requer cuidados na hora do manejo. O plantio é feito com estacas, para conduzir o crescimento dos pés. "Você planta, ela vem subindo. Quando a gente vai fazer o plantio dela, a gente tem que pensar em um sistema de longo tempo, porque é uma planta que tem uma longevidade muito boa", explicou.
Além disso, a cultura pode levar até cinco anos para atingir seu máximo potencial produtivo, quando alcança a média de 10 a 30 toneladas por hectare, dependendo da técnica de cultivo e condições edafoclimáticas – clima, tipo de solo, temperatura, a umidade do ar e quantidade de chuvas.
Entre as peculiaridades do fruto exótico está a safra estendida: vai de dezembro a maio, e as frutas se desenvolvem em ritmos diferentes. O mesmo pé pode ter, ao mesmo tempo, botões, flores e frutas. “Elas não amadurecem todas juntas. Tem uma característica de demonstrar quando está pronta. Se não colher na época certa, ela não vai ficar doce”, salientou, acrescentando que os botões e flores vão surgindo em diferentes períodos ao longo destes meses.
Diversificação
Foi pensando na diversificação do cultivo que a ex-assistente administrativa Amanda da Silveira Bueno, 46, resolveu largar de vez o emprego em um escritório e investir na agricultura. Hoje, na propriedade da família, localizado no bairro Lomba Grande, em Novo Hamburgo, além de aipim, laranja, batata-doce, folhosas e vacas de leite, há cinco anos o pomar de pitaya colore cerca de um hectare de terra. "Ela ainda continua com o caráter de ser exótica, porém já cresceu bastante. Então, a gente vem trabalhando para que ela deixe de ser exótica e se torne uma fruta popular, que todo mundo tenha acesso", pontuou a agricultora.
Amanda ainda cita o trabalho noturno como fator que influenciou a escolha pelo cultivo da fruta. “Como ainda trabalhava fora, era perfeito, pois a flor da pitaya fica aberta de 12 a 14 horas”, comenta. A flor se abre no começo da noite e se fecha pela manhã. Nesse meio tempo, o produtor tem que correr pra polinizar a planta, processo que é feito manualmente.
“Ela tem um hábito noturno, onde as flores só abrem a partir de mais ou menos de 20 horas até meia-noite. Então, a gente vem à noite com um pincelzinho pra fazer a polinização. Coloca o pólen lá no tubo, porque o fruto só vai formar depois que ocorre essa polinização”, explica Amanda, que convoca o marido, Jandir Bueno, 47, e os três filhos para ajudar no trabalho. “Todo mundo ajuda e vai rapidinho”, completa.
Outro destaque para o cultivo de pitaya, conforme Amanda, é a possibilidade de consorciação com outras culturas, como com a melancia. Isso garante uma renda diversificada ao agricultor, que consegue otimizar ainda mais o uso da sua área. “Aqui estamos otimizando espaço, cultivando pitaya e batata-doce no mesmo local. Poderiam ser melancias também, por exemplo. Há uma infinidade de possibilidades que podemos explorar essa fruta”.
Você sabe escolher a fruta?
A produtora orienta características que o consumidor deve observar na hora da compra. O ponto perfeito pra não errar na escolha é selecionar as que têm as pontas das folhas 'sequinhas'. Portando, não se engane com aquelas que tem pontas coloridas e muito “perfeitas”.
“Quando há sinal da casca com coloração verde, quer dizer que a fruta não está madura o suficiente. Agora, se tiver amarelada ou com líquidos, quer dizer que ela passou do ponto”, explica.
Benefícios para a saúde
- Melhora o sistema imunológico
A pitaya é rica em vitamina C, que melhora a imunidade, e, além disso, possui grandes quantidades de antioxidantes que previnem radicais livres.
- Beneficia o sistema cardiovascular
A fruta também é rica em fibras, e a variedade de casca vermelha não possui gordura saturada. As sementes contém gorduras poliinsaturadas, que ajudam a aumentar o colesterol bom (HDL).
- Auxilia na digestão e no emagrecimento
Cada 100 gramas de pitaya contém cerca de 11 gramas de fibras. Essa abundância ajuda na estabilização do açúcar no sangue e no melhor funcionamento do sistema digestivo, além de causar uma maior sensação de saciedade.
Outra presença que auxilia na digestão são os oligossacarídeos. Eles aumentam a produção de probióticos que também auxiliam no tratamento de infecções do sistema digestivo.
Variedades
O cultivo de pitaya concentra-se em algumas espécies, que se diferenciam quanto à coloração da casca e da polpa, da presença ou não de espinhos, do sabor e também do tamanho das frutas.
- Pitaya branca: com casca rosa e interior branco – essa é uma das mais fáceis de serem encontradas em terras brasileiras.
- Pitaya vermelha: uma das mais conhecidas pela sua coloração rosa/avermelhada por fora e vermelha por dentro. Também pode ser encontrada aqui no Brasil.
- Pitaya amarela: tem casca amarelada, mas sua parte de dentro é toda branca, sendo mais comum em outros lugares da América do Sul, como Peru, Equador e Colômbia.
Consumo
No Brasil, a pitaya vem ganhando cada vez mais popularidade porque abriga uma polpa saborosa e nutritiva, que pode ser utilizada como matéria-prima em sorvetes, gelatinas, geleias, mousses, sucos naturais, chás e drinks.
Um estudo recente da Embrapa usou a pitaya vermelha como novo corante, que vem sendo de interesse às indústrias alimentícias e de cosméticos que buscam por uma opção mais natural.
Diferente por fora, impressionante por dentro. Apelidada de 'fruta do dragão' – devido ao seu formato escamoso e pontudo –, a pitaya conquista o paladar dos gaúchos com seu sabor adocicado.
Segundo dados do Programa Brasileiro de Modernização do Mercado Hortigranjeiro, a fruta foi introduzida recentemente no Brasil, na década de 90, com o seu cultivo concentrado no estado de São Paulo. A venda da fruta iniciou apenas em 2005, e o estado paulista continua em primeiro lugar no Brasil, tanto pelo cultivo quanto pelo volume comercializado. Santa Catarina, Minas Gerais e Pará também se destacam.
No Rio Grande do Sul, cerca de 180 propriedades cultivam pitaya, segundo a Emater. O principal motivador é a diversificação da renda. São 110 hectares, distribuídos principalmente na região metropolitana e no litoral norte, que produzem cerca de mil toneladas todo ano.
Com colheita garantida durante seis meses no ano e aposta de um bom retorno financeiro, a fruta tem atraído os agricultores.
Produção local
Em Campo Bom, Ernancio Werno Kopper, 72 anos, é um exemplo do que ocorre no resto do Estado. Ele vislumbrou a plantação da pitaya em 2017 como uma forma de complementar a renda após se aposentar do setor coureiro calçadista. Até hoje, é o único com pomares da fruta no município. O negócio deu tão certo que, além da produção no bairro Paulista, com 600 pés, o produtor cultiva em Santo Antônio da Patrulha e Nova Hartz.
“Foi amor à primeira mordida. Peguei, comi e gostei. E como tinha um terreno sem uso aqui [Campo Bom] comentei com minha esposa que seria uma opção para aproveitar o espaço. Então fui atrás de cursos e comprei um kit que vinha seis mudas. Plantei e fui aumentando a plantação”, recorda.
Apesar disso, a produção exige muitos cuidados. Segundo Kopper, a temporada de floração vai de novembro a abril, pois a planta necessita de calor e umidade para se desenvolver, visto que é um cacto de floresta tropical. “Neste ano, já estou selecionando as melhores plantas, pois meu objetivo é a comercialização. Ainda não deu o esperado devido ao calor que registramos nas primeiras semanas deste ano, quando a temperatura chegou à 40ºC”.
Calorão travou a produção
A expectativa do produtor era colher entre 1.500 e dois mil frutos até fevereiro, mas com o forte calor não foi possível, já que primeira floração ocorreu somente no fim de dezembro. Foi preciso então fazer a polinização cruzada. Segundo Kopper, do botão à fruta madura, o processo leva em torno de dois meses. “Com o tempo, minha ideia é expandir, pois não é preciso muito espaço para o plantio. Seleciono as melhores variedades, com o fruto maior e mais saboroso, para ter melhor aceitação no mercado”, revelou.
O cultivo
Da família das cactáceas, a pitaya é uma planta que apresenta certa rusticidade e tolerância a condições adversas como seca, salinidade e frio. Entretanto, quando ela é cultivada nas condições ideais de clima, solo e umidade, vai expressar seu máximo potencial produtivo.
A casca da pitaya é rígida, o que a torna bem resistente a doenças. O cultivo é feito sem agrotóxicos, mas a fruta requer cuidados na hora do manejo. O plantio é feito com estacas, para conduzir o crescimento dos pés. "Você planta, ela vem subindo. Quando a gente vai fazer o plantio dela, a gente tem que pensar em um sistema de longo tempo, porque é uma planta que tem uma longevidade muito boa", explicou.
Além disso, a cultura pode levar até cinco anos para atingir seu máximo potencial produtivo, quando alcança a média de 10 a 30 toneladas por hectare, dependendo da técnica de cultivo e condições edafoclimáticas – clima, tipo de solo, temperatura, a umidade do ar e quantidade de chuvas.
Entre as peculiaridades do fruto exótico está a safra estendida: vai de dezembro a maio, e as frutas se desenvolvem em ritmos diferentes. O mesmo pé pode ter, ao mesmo tempo, botões, flores e frutas. “Elas não amadurecem todas juntas. Tem uma característica de demonstrar quando está pronta. Se não colher na época certa, ela não vai ficar doce”, salientou, acrescentando que os botões e flores vão surgindo em diferentes períodos ao longo destes meses.
Diversificação
Foi pensando na diversificação do cultivo que a ex-assistente administrativa Amanda da Silveira Bueno, 46, resolveu largar de vez o emprego em um escritório e investir na agricultura. Hoje, na propriedade da família, localizado no bairro Lomba Grande, em Novo Hamburgo, além de aipim, laranja, batata-doce, folhosas e vacas de leite, há cinco anos o pomar de pitaya colore cerca de um hectare de terra. "Ela ainda continua com o caráter de ser exótica, porém já cresceu bastante. Então, a gente vem trabalhando para que ela deixe de ser exótica e se torne uma fruta popular, que todo mundo tenha acesso", pontuou a agricultora.
Amanda ainda cita o trabalho noturno como fator que influenciou a escolha pelo cultivo da fruta. “Como ainda trabalhava fora, era perfeito, pois a flor da pitaya fica aberta de 12 a 14 horas”, comenta. A flor se abre no começo da noite e se fecha pela manhã. Nesse meio tempo, o produtor tem que correr pra polinizar a planta, processo que é feito manualmente.
“Ela tem um hábito noturno, onde as flores só abrem a partir de mais ou menos de 20 horas até meia-noite. Então, a gente vem à noite com um pincelzinho pra fazer a polinização. Coloca o pólen lá no tubo, porque o fruto só vai formar depois que ocorre essa polinização”, explica Amanda, que convoca o marido, Jandir Bueno, 47, e os três filhos para ajudar no trabalho. “Todo mundo ajuda e vai rapidinho”, completa.
Outro destaque para o cultivo de pitaya, conforme Amanda, é a possibilidade de consorciação com outras culturas, como com a melancia. Isso garante uma renda diversificada ao agricultor, que consegue otimizar ainda mais o uso da sua área. “Aqui estamos otimizando espaço, cultivando pitaya e batata-doce no mesmo local. Poderiam ser melancias também, por exemplo. Há uma infinidade de possibilidades que podemos explorar essa fruta”.
Você sabe escolher a fruta?
A produtora orienta características que o consumidor deve observar na hora da compra. O ponto perfeito pra não errar na escolha é selecionar as que têm as pontas das folhas 'sequinhas'. Portando, não se engane com aquelas que tem pontas coloridas e muito “perfeitas”.
“Quando há sinal da casca com coloração verde, quer dizer que a fruta não está madura o suficiente. Agora, se tiver amarelada ou com líquidos, quer dizer que ela passou do ponto”, explica.
Benefícios para a saúde
- Melhora o sistema imunológico
A pitaya é rica em vitamina C, que melhora a imunidade, e, além disso, possui grandes quantidades de antioxidantes que previnem radicais livres.
- Beneficia o sistema cardiovascular
A fruta também é rica em fibras, e a variedade de casca vermelha não possui gordura saturada. As sementes contém gorduras poliinsaturadas, que ajudam a aumentar o colesterol bom (HDL).
- Auxilia na digestão e no emagrecimento
Cada 100 gramas de pitaya contém cerca de 11 gramas de fibras. Essa abundância ajuda na estabilização do açúcar no sangue e no melhor funcionamento do sistema digestivo, além de causar uma maior sensação de saciedade.
Outra presença que auxilia na digestão são os oligossacarídeos. Eles aumentam a produção de probióticos que também auxiliam no tratamento de infecções do sistema digestivo.
Variedades
O cultivo de pitaya concentra-se em algumas espécies, que se diferenciam quanto à coloração da casca e da polpa, da presença ou não de espinhos, do sabor e também do tamanho das frutas.
- Pitaya branca: com casca rosa e interior branco – essa é uma das mais fáceis de serem encontradas em terras brasileiras.
- Pitaya vermelha: uma das mais conhecidas pela sua coloração rosa/avermelhada por fora e vermelha por dentro. Também pode ser encontrada aqui no Brasil.
- Pitaya amarela: tem casca amarelada, mas sua parte de dentro é toda branca, sendo mais comum em outros lugares da América do Sul, como Peru, Equador e Colômbia.
Consumo
No Brasil, a pitaya vem ganhando cada vez mais popularidade porque abriga uma polpa saborosa e nutritiva, que pode ser utilizada como matéria-prima em sorvetes, gelatinas, geleias, mousses, sucos naturais, chás e drinks.
Um estudo recente da Embrapa usou a pitaya vermelha como novo corante, que vem sendo de interesse às indústrias alimentícias e de cosméticos que buscam por uma opção mais natural.