ESTÂNCIA VELHA
Corsan é multada por deixar município sem abastecimento de água e prefeito endurece discurso por solução; entenda
Desabastecimentos geram reclamações dos moradores que alegam que o problema é recorrente
A Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan/Aegea) foi advertida com quatro multas pela falta d’água em Estância Velha. A penalidade, aplicada pela Agência Reguladora Intermunicipal de Saneamento (Agesan), se deu depois que o prefeito Diego Francisco procurou o ógão para reclamar dos serviços prestados no município.
O órgão também definiu que os usuários receberão uma compensação financeira na tarifa básica pelos dias que ficaram sem água.
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No início de dezembro, o desabastecimento chegou a quatro dias em algumas regiões da cidade. Além disso, há queixas da população de episódios frequentes de torneiras vazias, principalmente, nos bairros União, Sol Nascente e Lago Azul.
“Não dá mais para tolerar essas faltas de água e esse desrespeito”, disse Francisco, em um vídeo publicado em suas redes sociais depois que levou as denúncias até a agência no dia 5 de dezembro. A publicação teve dezenas de comentários de moradores relatando problemas de desabastecimento.
No mesmo vídeo, o prefeito avisou que conversaria com representantes da Comusa Serviços de Água e Esgoto, de Novo Hamburgo, e Águas de Ivoti, para entender como foi realizado o processo de municipalização do serviço de abastecimento.
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Segundo ele, os encontros ainda não foram marcados por falta de tempo, mas esse é o “plano B” para a cidade. “Se a Corsan não resolver o problema, eu serei um dos primeiros a comprar a briga”, declarou. A Corsan informa que um encontro entre a prefeitura e a empresa está agendada para esta segunda-feira (16).
Avisada do problema de Estância Velha, a Agesan chamou a direção da Corsan para uma reunião na última quinta-feira (12). “Na verdade, a agência reguladora não sabia que estava faltando água novamente. A Corsan não repassou essas informações”, explica o diretor-geral da Agesan, Demétrius Gonzalez.
A Promotoria de Portão também procurou a agência para buscar esclarecimentos sobre a falta d'água no município. Como as duas cidades integram o mesmo sistema de abastecimento, quando há problemas em Estância Velha, Portão também sofre as consequências.
Agesan determina ações práticas para Corsan
A Agesan é o órgão responsável por regular e fiscalizar o serviço de saneamento em Estância Velha e Portão. Por conta disso, a entidade decidiu aplicar quatro multas à Corsan, cada uma no valor de R$ 20 mil. Também determinou algumas ações para serem colocadas em prática a fim de evitar que a situação se repita.
O diretor-geral informa que a primeira ação acertada é sobre a necessidade da agência saber sobre a interrupção do serviço no momento em que ocorre. “Solicitamos um plano de comunicação. A agência precisa saber o que acontece, até para poder acompanhar”, salienta.
De acordo com ele, as interrupções programadas são avisadas com antecedência pela Corsan, o que não tem ocorrido quando acontecem situações imprevistas. A Agesan também pediu informações sobre a potabilidade da água, pois houve queixas da população relacionadas à turbidez no início de dezembro.
Outra solicitação, conforme Gonzalez, é que seja criado um plano de resiliência, onde sejam apontadas alternativas para quando ocorrerem dificuldades no abastecimento.
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Sobre a compensação na conta dos consumidores, não é possível falar sobre valores, pois cada imóvel tem um consumo. A expectativa é que o desconto seja ocorra até o mês de fevereiro, levando em conta também o período de faturamento da fatura.
Em dez meses, 333 registros de falta d'água
Segundo o prefeito, de janeiro a outubro deste ano a cidade teve 333 registros de desabastecimento. “Isso é um registro por dia, são mais de 30 registros por mês. É muita coisa e a gente não vai tolerar mais”, declarou. Francisco também levou o problema para o Ministério Público.
Queixas frequentes
O assunto domina nas rodas de conversa de Estância Velha e não é difícil encontrar alguém que tenha ficado desabastecido ao longo de 2024. Atendente em uma fruteira no bairro Bela Vista, o estudante Lucas Gabriel Schneider, 17 anos, conta que quando algum cliente fala sobre a falta d’água, a conversa se torna longa. “Daí o cliente diz que faltou água pra ele também, que ele precisou deixar de fazer as coisas porque estava sem água”, relata.
O empresário Mauro Petry, 63, mora no bairro Campo Grande. Ele diz que não sente o problema porque tem caixa d’água, mas que essa não é realidade de todo mundo. “É muito complicado. É um problema que não pode acontecer”, pondera.
O que diz a Corsan
Questionada sobre a notificação, a Corsan informou que recebeu na quinta-feira, 12, ofício da Agesan, solicitando esclarecimentos sobre a distribuição e qualidade da água em Estância Velha. "O documento já está em posse da equipe jurídica da Companhia, que dará os retornos cabíveis à Agência, respeitando todos os prazos do processo', informa a companhia em nota.
A Corsan também se manifestou sobre os episódios de falta de água, explicando que foram causada por motivos pontuais na captação da água. Confira a explicação na íntegra:
"A Corsan acrescenta que, desde o dia 31 de novembro, quando fortes chuvas atingiram a região de Estância Velha, houve um aumento significativo na turbidez da água, o que exigiu ajustes nos processos e, consequentemente, mais tempo de tratamento. Em alguns momentos, foi necessário interromper as atividades da Estação de Tratamento de Água (ETA) de Campo Bom, que abastece a cidade de Estância Velha, para corrigir a turbidez e deixar a água dentro dos parâmetros de potabilidade.
No dia 3 de dezembro, a turbidez elevada afetou diretamente o abastecimento em Estância Velha, e, para garantir a qualidade da água distribuída, foi necessário realizar uma limpeza emergencial nos equipamentos da Estação de Tratamento de água (ETA), como em filtros e decantadores, além da necessidade de descarte da água armazenada nos reservatórios das cidades de Estância Velha e Campo Bom.
Como forma de minimizar os impactos desta adversidade à população, a Corsan disponibilizou caminhões-pipas para abastecer locais essenciais, como hospitais e casas de saúde, além de abastecer os reservatórios que fazem a distribuição da água. Também foram deslocadas equipes técnicas de cidades vizinhas para auxiliarem na retomada do sistema.
É importante destacar que a Companhia tem como prioridade a qualidade da água fornecida, monitorando todo o processo de tratamento. São realizadas cerca de 10 mil análises mensais para controle operacional, conforme os parâmetros estabelecidos pelos órgãos reguladores. Todos os equipamentos utilizados para o monitoramento dos parâmetros da água tratada são devidamente calibrados para garantir a confiabilidade dos resultados, seguindo os padrões estabelecidos por laboratórios certificados pela ISO 17.025".