Os criminosos alvos da Operação Cantina, que ocorre nesta segunda-feira (29) em 11 cidades do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, aliciavam adolescentes para aplicar o golpe dos nudes. Segundo o delegado Rafael Delvalhas Liedtke, da 2ª Divisão de Investigações do Narcotráfico do Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Din/Denarc) uma jovem tem 17 anos e reside em Sapiranga. O restante mora na capital gaúcha. Liedtke não precisou, no entanto, o número de total de adolescentes.
Até as 12 horas, o número de presos subiu para 33. Às 7 horas, eram 31. Já foram apreendidas pistolas calibres .9mm e .40mm, quantidade de maconha, cocaína, valores em espécie, tornozeleira eletrônica, automóveis e celulares.
Ainda conforme o delegado, para a produção do material, os investigados aliciavam adolescentes, que mandavam fotografias, áudios e vídeos sob remuneração e até mesmo ameaças. Nesses últimos 11 meses, desde que a investigação começou – com a prisão de um homem em Cachoeirinha –, o grupo fez pelo menos 80 vítimas em 12 estados brasileiros e movimentou cerca de R$ 450 mil.
Ao todo, estão sendo executadas 102 medidas cautelares de prisões preventivas, temporárias, buscas e apreensões domiciliares e de veículos, bloqueios em contas bancárias e uso provisório como viatura descaracterizada de um Mercedes-Benz já apreendido. Ainda conforme o delegado, a operação busca combater uma organização criminosa envolvida em lavagem de dinheiro, tráfico de drogas, porte ilegal de munições e arma de fogo, extorsões e corrupção de menores.
Contato pelas redes sociais
A primeira etapa do golpe dos nudes consistia no primeiro contato do grupo criminoso com as vítimas. Eles se passavam por mulheres muito jovens e que se diziam menores de idade, utilizando de perfis falsos em redes sociais, até a oportunidade em que logravam extrair fotografias das vítimas nuas ou seminuas. A partir disso, as lideranças iniciavam uma série de graves extorsões, passando-se inclusive por delegados de Polícia do Rio Grande do Sul.
Conforme Liedtke, o esquema “era perfeitamente delineado”, com vasto material que auxiliava na ilusão das vítimas e que era transmitido entre os integrantes da organização criminosa.
“Laranjas” remuneradas
A segunda etapa do esquema consistia justamente no recebimento dos valores das vítimas. Essa quantidade era enviada para pessoas aliciadas pelo grupo – também conhecidas como “laranjas”, que emprestavam contas e CPFs para depósitos bancários.
Esses indivíduos, segundo o delegado, eram remunerados pelas lideranças da organização criminosa e recebiam ordens para, posteriormente, distribuírem o dinheiro entre os demais membros do grupo, que recebiam um valor de acordo com sua contribuição/conduta delitiva, até que a maior parte dos lucros obtidos retornasse para os responsáveis pelas extorsões.
Ainda de acordo com Liedtke, os líderes, uma vez na posse das maiores quantias, sustentavam luxos, adquirindo veículos de procedência estrangeira. Eles efetuavam pagamentos à vista, além de realizarem gastos com viagens caras e com compras de terrenos e imóveis. Muitos dos criminosos já se encontravam presos no sistema penitenciário, e acabavam utilizando esses valores para obterem regalias nas cantinas dos estabelecimentos prisionais.
Arsenal apreendido em Cachoeirinha
Além de praticar o golpe dos nudes, a Polícia apurou que o grupo também teria participação no tráfico de drogas e armas, como a quantidade apreendida em outubro no ano passado, em Cachoeirinha, quando o Din/Denarc encontrou um arsenal de armas em um condomínio.
Principais alvos
Segundo o delegado, um dos principais alvos da Operação já está preso preventivamente em Santa Catarina. O homem, de 22 anos, possui antecedentes por porte ilegal de arma de fogo de uso restrito, roubo majorado, associação criminosa armada, dano qualificado, furto qualificado e ameaça. Mesmo dentro do sistema penitenciário catarinense, um novo mandado de prisão preventiva em seu desfavor foi executado na manhã desta segunda.
Outro, de 24 anos, foi preso em um apartamento no quarto andar de um prédio de classe média na zona sul da capital, portando tornozeleira eletrônica. De acordo com o delegado, ele não esboçou qualquer reação à diligência policial. O homem tem antecedentes por tráfico e associação para o tráfico de drogas, homicídio qualificado, feminicídio qualificado tentado, roubo majorado, posse/porte ilegal de arma de fogo, associação criminosa armada, receptação de carros roubados, adulteração de sinais identificadores e corrupção de menores.
As medidas cautelares executadas pelos policiais civis foram expedidas pela 1° Vara Estadual de Processo e Julgamento dos Delitos de Lavagem de Dinheiro e de Organização Criminosa.
O que os investigados respondem
- Organização criminosa (artigo 2° da Lei n° 12.850/13 – pena máxima prescrita de até 8 anos de reclusão);
- Lavagem de dinheiro (Lei n° 9.613/98 – artigo 1°, pena máxima até 10 anos de reclusão);
- Tráfico de drogas (artigo 33 da Lei n° 11.343/2006, pena máxima até 15 anos de reclusão);
- Posse e porte ilegal de munições e armas de fogo (artigos 12 e 16 da Lei n° 10.826/03, penas máximas até 12 anos de reclusão);
- Extorsões (artigo 158 do Código Penal, pena máxima até 10 anos de reclusão);
- Corrupção de menores (artigo 244-B do Estatuto da Criança e do Adolescente – pena máxima prescrita de até 4 anos de reclusão).
Denuncie
Vítimas podem denunciar pelo telefone 181 da Polícia Civil. Ocorrências também podem ser registradas pelo site.
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