Registros históricos
Conheça o "Homem do Tempo" que coleciona momentos históricos há quatro décadas na região
Nilson Wolff, campo-bonense de 71 anos, é apaixonado pelo tempo
Última atualização: 28/09/2024 13:07
Há 40 anos, Campo Bom é referência para o Vale dos Sinos quando o assunto é o comportamento do tempo. Isso porque, em 1º de setembro de 1984, entrou em funcionamento a Estação de Meteorologia do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), com inauguração em 7 de setembro do mesmo ano. Desde então, o sobe e desce dos termômetros, as marcas das enchentes e as geadas passaram ser acompanhadas de perto e ganharam registro histórico.
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Todo este material integra a Biblioteca Climática de Campo Bom, inaugurada em junho em 2011 na Biblioteca Pública Municipal Professor Antônio Nicolau Orth. O acervo é mantido e organizado por Nilson Wolff, campo-bonense de 71 anos, apaixonado pelo tempo.
O que nem todo mundo sabe é que a estação acabou sendo criada em Campo Bom por sugestão de Wolff. Ele apresentou a ideia ao prefeito da época, Karl Heinz Kopittke, que fez o pedido junto ao 8º Distrito de Meteorologia, em Porto Alegre. Assim, foi assinado um convênio entre o Inmet e o município e a estação começou a funcionar.
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Desde que a estação passou a operar na cidade, Wolff e o responsável pelo local, função que exerceu como funcionário público municipal até 2016 e, a partir da aposentadoria, de maneira voluntária. Aliás, sobre isso, ele esclarece que sua função durante os 42 anos como funcionário público municipal era direcionada ao orçamento e à contabilidade. A manutenção e a observação da Estação de Meteorologia sempre foi um algo a mais, sem custo extra ao cofre público.
“Antes, a observação era manual e eu precisava ir três vezes por dias lá. Isso foi até 2013, quando a estação ficou automática e se pode acompanhar à distância a evolução da temperatura, direção do vento e quanto choveu. Hoje você só fica de olho na manutenção”, explica.
A estação campo-bonense fica no Centro Municipal de Educação Ambiental Nestor Weiler (Cemea), e a equipe acompanha o trabalho de Wolff. “Eu tenho apoio do pessoal, porque ninguém é eterno”, conclui.
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A Biblioteca Climática, além de livros onde são arquivadas matérias de jornal sobre o clima, conta com uma galeria de fotos atualizada de tempos em tempos por Wolff. “Não gosto de colocar foto de enchente porque é triste”, explica. Apesar disso, neste ano, uma imagem do município abaixo d'água passou a fazer parte da exposição. Isso porque a cheia de maio bateu todos os recordes até então conhecidos e se tornou um fato histórico.
Foram 546 milímetros de chuva em maio em Campo Bom e, se somado os últimos dias de abril, a marca passa dos 700 milímetros. “Isso é surreal”, declara o homem do tempo, que tinha a expectativa da repetição da enchente de 1941, o que acabou não acontecendo porque o episódio de 2024 superou as marcas antigas.
Há dois anos, além da paixão pelo tempo que já completa quatro décadas, Wolff tem uma “fiel companheira”. Com um problema no quadril, tem o apoio de uma bengala para se locomover, o que não impede suas viagens para fotografar os fenômenos climáticos, além das idas ao Cemea. É neste local que fica a estação meteorológica. “Enquanto dá, vou me virando”, diz.
Os registros de geada estão entre os preferidos dele. Por isso, quando existe a possibilidade de formação da camada de gelo sob a superfície, Wolff acorda de madrugada e parte para São Francisco de Paula. Lá, espera o sol nascer para fazer os registros fotográficos do fenômeno.
“Eu sempre vou sozinho. Graças Deus, nunca aconteceu nada”, comenta. Inclusive, foi em uma dessas viagens que Wolff, em 2023, acompanhou a formação de geada em São Chico em pleno mês de fevereiro. Segundo ele, na cidade serrana o fenômeno pode ser registrado em qualquer época do ano por conta das características de geográficas.
Muitas dessas fotos acabam integrando a galeria da Biblioteca Climática e o calendário que o homem do tempo produz a cada ano. A produção é presenteada para amigos e conhecidos como um presente de ano-novo.
Ao contrário do que muitos podem pensar, Wolff não é meteorologista, mas graduado em Geografia. O conhecimento adquirido ao longo dos anos sobre o comportamento do clima na região foi por conta de suas observações e porque é um curioso do tema. Com isso, ele lê muito sobre o assunto e acompanha os estudos publicados por pesquisadores e cientistas. “Não sou que faço a previsão. Apenas estudo”, resume.
Wolff observa que o aumento da urbanização e a diminuição de áreas verdes têm diminuído a frequência de geadas nas cidades. “Cada vez mais eu preciso me afastar da área urbana área registrar. Porque o calor urbano inibe a geada”, explica.
Nestas quatro décadas de registros, ele destaca o recorde de temperatura máxima em novembro de 1985, com 41.9 graus, e a mínima de menos 1,8 grau em julho de 2000 e de 2009. Já o mês mais seco neste período foi junho de 2016, com apenas 5,4 milímetros.