Em exatos 40 segundos, o pastor alemão Hades, um dos cães policiais do Projeto K9 da Delegacia de Polícia Civil de Sapiranga, conseguiu encontrar um narcótico escondido em um terreno.
Com menos de um minuto, a Zulu, uma fêmea sem raça definida, também parte da equipe K9, localizou uma pessoa escondida, pelo odor de um pertence pessoal.
Após 20 segundos solto, o Rottweiler Morgan, conseguiu derrubar uma pessoa que estava correndo, apenas com a força de uma mordida. Exemplos práticos e verdadeiros, do potencial que os cães policiais do Projeto K9 tem como auxílio das forças policiais.
Esses heróis de quatro patas, desempenham um papel vital na segurança da comunidade, não apenas da cidade, mas também da região. “Os cães de faro que temos, eles estão disponíveis para todas as delegacias que pedem o apoio. Além disso, damos suporte para as que vão começar seu canil. Na atualidade, estamos aperfeiçoando um filhote de outra cidade aqui”, explica o adestrador, Luciano dos Santos Silva.
Os cães são treinados para farejar narcóticos, armas de fogo e até mesmo encontrar pessoas desaparecidas. Por trás de cada patrulha, busca e resgate, há uma história de dedicação, treinamento meticuloso e parceria entre humanos e animais.
Combate ao crime organizado
Fabrício Vianna, chefe do setor de investigação da Delegacia Polícia Civil de Sapiranga, ressalta a necessidade de combate ao crime. “Sapiranga é um município atravessado por rodovias de alto fluxo, localizado no Vale dos Sinos, berço de uma das maiores facções criminosas do Estado. Há muito transporte e armazenamento de drogas no Vale dos Sinos, e Sapiranga não é diferente.”
Além disso, os cães oferecem segurança adicional aos policiais durante diligências e desempenham um papel crucial, tornando mais efetiva a busca por desaparecidos, drogas e armas.
O envolvimento crescente de outras delegacias evidencia a experiência desenvolvida em Sapiranga, consolidando o município como referência no treinamento canino policial.
Evento internacional de cães policiais em Sapiranga
No mês de abril, nos dias 5, 6 e 7, o município sediará o Terceiro Torneio de Cães de Polícia. Com a participação de diversas forças de segurança, como: Brigada Militar, Exército, Polícia Federal e Guarda Municipal.
O evento gratuito no Parque das Rosas promete reunir participantes de diferentes regiões do Rio Grande do Sul, Argentina e Uruguai, contando com a presença de aproximadamente 60 cães.
O torneio, que tem crescido significativamente a cada ano, é uma oportunidade para a troca de experiências e conhecimentos em um ramo ainda incipiente na polícia gaúcha. “Esse evento serve também para demonstrar a importância do cão de faro nas diligências policiais e também pela própria desmistificação daquela lenda, de que o cão policial sofre maus tratos, ou é viciado”, explica Fabrício Vianna.
Heróis de quatro patas
No projeto K9 da Delegacia, que conta com apoio da prefeitura de Sapiranga, histórias comoventes de resgate protagonizadas pelos cães policiais marcam o trabalho incansável do adestrador e policiais civis. Com cinco anos de atuação no projeto, o adestrador relembra com detalhes duas situações emblemáticas de salvamento.
Ele revela que há aproximadamente três anos, dois desaparecimentos mobilizaram a equipe. Utilizando um cão treinado, as buscas levaram até as margens de um rio, onde um jovem havia sido visto pela última vez. Após diversas tentativas indicativas do cão, os bombeiros encontraram o corpo, trazendo um desfecho doloroso, porém, com o alívio de encontrar a vítima desaparecida.
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Outro caso semelhante também ocorreu, com um rapaz desaparecido. Com o mesmo cão, uma busca meticulosa foi realizada, culminando na indicação precisa do animal, para uma bacia do rio, que havia sido previamente vasculhado pelos bombeiros.
“Fui à casa da vítima buscar uma peça de roupa, o rapaz já estava desaparecido há quatro dias. Quando cheguei para pegar a roupa, a mãe dele olhou para mim, deu a roupa dele e disse assim: traz meu filho para mim. Aquilo comoveu bastante. Só que a gente não tem como a gente prometer nada. A gente visa fazer o melhor possível o nosso trabalho”, disse o adestrador, Luciano.
Após insistência da equipe e o apoio dos cães, o corpo foi encontrado pela Polícia Civil, trazendo algum conforto à família enlutada. O adestrador ressalta a emoção do trabalho e a dedicação em fornecer o melhor esforço possível, apesar das incertezas que permeiam cada missão de resgate.
Como são adestrados os cães policiais de faro?
1 – O treinamento de cães policiais tem início com a seleção do filhote na ninhada, levando em consideração critérios como tamanho, porte e segurança, conforme explicado pelo adestrador Luciano dos Santos Silva. “Precisa ser aquele filhote que come mais, aquele que manda nos outros, o dominante”;
2- Após a escolha do filhote, o adestrador Luciano inicia um processo de socialização do cão, que ocorre a partir dos 45 dias, envolvendo exposição a diferentes estímulos, como movimentos, pessoas e brincadeiras. Isso faz com que o cão suporte, barulhos altos, como tiros, bombas e deslizamentos, sem se abalar pelo medo;
3- Conforme Luciano, a parte crucial do treinamento envolve a associação de odores, em uma abordagem baseada em recompensa. Desde cedo, os cães são incentivados a associar o odor de objetos específicos, como armas e narcóticos, com a bolinha, que se torna sua recompensa. Diferente do senso comum, os animais não são viciados em drogas para o treinamento, em nenhuma circunstância;
4- Por meio de técnicas de treinamento progressivo, como o uso de caixas de madeira, contendo os odores desejados, os cães aprendem a identificar e buscar os alvos determinados, sem compreender necessariamente a natureza desses objetos, mas sim, associando-os à gratificação de brincar com a bolinha. “Ou seja, para o cão, todo esse trabalho importante, é apenas um desejo de encontrar seu brinquedo favorito”, explica o adestrador.
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