CULTURA E ENCHENTE
Congelamento é um dos recursos para salvar parte do acervo de biblioteca de Igrejinha
Biblioteca Pública Professor Gustavo Adolfo Koetz foi atingida pela enchente do Rio Paranhana no último mês de maio
Última atualização: 30/08/2024 17:07
A enchente histórica que assolou o Rio Grande do Sul em meados de abril e maio de 2024 provocou prejuízos incalculáveis. Casas, empresas, carros, pontes, estradas, plantações e pessoas acabaram arrastadas. No meio de tanto caos, os gaúchos e gaúchas também tiveram que lamentar perdas na cultura. Com bibliotecas públicas inundadas, acervos literários ficaram comprometidos, encharcados, enlameados e contaminados.
Um dos espaços devastados é a Biblioteca Pública Professor Gustavo Adolfo Koetz, que estava instalada num espaço dentro do Parque de Eventos Almiro Grings, e viu cerca de 20 mil exemplares de livros na água e na lama. O acervo salvo agora está restrito a cerca de 6 mil exemplares. “Nós tentamos erguer os materiais, mas não adiantou. A água chegou a 1,70 metro de altura”, lamenta o secretário de Turismo e Cultura, Vinícius de Mello.
Enquanto isso, partituras musicais que pertenceram a Koetz e outros materiais históricos estão cuidadosamente envoltos em plásticos dentro de dois freezeres que foram emprestados.
Posteriormente, todas essas relíquias serão enviadas para uma universidade federal em Santa Catarina, onde será feita a restauração.
A dica para a realização deste procedimento foi dada pela museóloga Daniela Schmitt, da Movimento - Curadoria e Projetos Culturais, de Igrejinha. “O apoio dela foi fundamental para salvar esses tesouros”, comenta Mello.
O congelamento interrompe a proliferação de micro-organismos . “Em Santa Catarina, será feito o descongelamento, a secagem e o restauro”, explica Mello.
Recuperação
O espaço onde a Biblioteca Pública Professor Gustavo Adolfo Koetz funcionava já está em obras. “O prédio será ocupado por um restaurante climatizado”, avisa Mello. A decisão da administração municipal foi colocar a biblioteca novamente no mesmo local por causa do risco de uma nova enchente acontecer e o acervo ser atingido outra vez.
Parte do acervo fonográfico foi recuperado. “Conseguimos recuperar em torno de 2 mil discos de vinil”, conta. O trabalho de limpeza, mudança e recuperação de parte do mobiliário e das obras literárias contou com a ajuda de voluntários.
As prateleiras que puderam ser reutilizadas, assim como os livros restantes, agora provisoriamente estão dentro do Centro de Eventos Prefeito Selson Flesch. “Estamos elaborando projetos, buscando recursos para irmos a um outro local, construir ou alugar, para que fique a salvo de uma possível nova catástrofe climática. A comunidade igrejinhense também ajuda bastante com trabalho voluntário e doações”, informa Mello.
As manchas cobriram páginas e mais páginas de obras literárias, personagens, histórias. E como fazer para recuperar esses acervos de valor inestimável? Talvez nem seja possível, mas muita gente abnegada arregaça as mangas, contribuindo financeiramente ou tirando exemplares de suas coleções particulares para que possam novamente chegar às mãos e olhos de leitores e leitoras.
Ajuda de Trespach
Um bate-papo com o escritor e historiador Rodrigo Trespach será uma das ações para “reerguer” a biblioteca. O autor vai apresentar o seu livro 1824 no próximo dia 17 de setembro, a partir das 19 horas, no Centro de Eventos Prefeito Selson Flesch. Parte do valor arrecadado será revertida para a recuperação do acervo.