Um aeroporto internacional para Região das Hortênsias. Essa é uma demanda que começou a ser discutida em Canela em 1986. Depois de quase 40 anos, muitos passos – e, claro, muitos outros entraves – a proposta volta a ser pauta entre o poder público, empresários e entidades.
Com o principal aeroporto do Rio Grande do Sul, o Salgado Filho, fechado até, pelo menos, 7 de agosto, ficou mais difícil do restante do Brasil chegar na Serra gaúcha. O prejuízo de depender de um único aeroporto ficou evidente nesses últimos dias, através dos cancelamentos registrados na rede hoteleira e a pouca movimentação das cidades.
Com o intuito de retomar essa discussão e entender a tramitação para que o Aeroporto Internacional das Hortênsias finalmente saia do papel, uma reunião ocorreu, na terça-feira, dia 22, no Grande Hotel de Canela. Uma das articuladoras foi a empresária Any Brocker.
O encontro teve a participação de mais de 100 pessoas, representantes das cidades de Gramado, Canela, São Francisco de Paula, Nova Petrópolis e Cambará do Sul.
Como está o projeto
O arquiteto Alan Furlan começou a atuar no projeto em 2019, com o objetivo de adequar o que já existia com as novas regras ambientais e exigências para que um aeroporto internacional opere.
Atualmente, a estrutura proposta tem 7,5 mil metros quadrados e deve ser instalada nas proximidades do Santuário de Nossa Senhora do Caravaggio, em Canela. A pista para pousos e decolagens conta com 3,5 mil metros de comprimento para atender grandes aeronaves. Há previsão para espaços comerciais, locadoras de veículos, circulação, hangares, terminal de passageiros e de cargas.
Segundo os idealizadores, a promessa é que a operação não facilite somente o acesso dos turistas, mas também impulsione o desenvolvimento, criando uma nova rota logística para otimizar a cadeia de suprimentos, beneficiando o escoamento das produções locais.
Em termos de comparação, o aeroporto de Canela teria 1/3 do tamanho do de Porto Alegre. “Porém ele tem bastante capacidade de recebimento de aeronaves e com possibilidade de expansão do terminal de cargas, isso seria muito importante para qualquer tipo de recebimento de carga internacional diretamente”, pondera.
Operação e viabilidade
Alan explica que existe a estimativa que mais da metade dos passageiros que passam pelo terminal do Salgado Filho tenham como destino a Região das Hortênsias. Para ele, isso significa a viabilidade do negócio.
A outorga, que foi renovada em 2019, pertence à Prefeitura de Canela. Com o projeto concluído e todos os estudos necessários, o Executivo municipal pode fazer a concessão para uma empresa ou consórcio que construa a estrutura e faça a operação. Trâmites burocráticos serão seguidos para que se dê andamento a todo esse processo.
“Estamos organizando a renovação de algumas documentações da outorga junto à Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) e aguardando para protocolar o projeto na Fepam (Fundação Estadual de Proteção Ambiental)”, aponta o arquiteto.
Para seguir com o rito, Alan alega que é preciso criar um grupo de trabalho para que uma equipe técnica possa ir a campo vistoriar e analisar os pontos projetados para a construção. Será necessário realizar algumas desapropriações, pois somente uma das áreas pertence à Prefeitura. As indenizações e os acessos viários também seriam por conta da empresa privada que assumirá o local.
“Precisamos fazer uma melhor avaliação topográfica da área, pois isso só foi feito até hoje com drone”, frisa. “A gente também tem que fazer a aprovação do plano básico e alinhar isso com o Plano Diretor para evitar que seja liberado projeto de algum prédio que possa virar um obstáculo”, complementa.
Depois que toda a documentação estiver pronta e que exista uma empresa interessada na construção e operação, a estimativa é que se leve em torno de três anos de obra, desde que não haja necessidade de detonações.
O custo estimado atual está na casa dos R$ 720 milhões. “Mas o aeroporto pode ser construído em duas etapas e com a primeira concluída já é possível iniciar a operação. Fizemos isso pensando na questão econômica. Esse modelo de viabilidade econômica e técnica proposto é semelhante a outros já aprovados pelo Ministério Público e Tribunal de Contas”, atesta Alan.
Apoio da Secretaria Estadual do Turismo
O secretário estadual do Turismo, Luiz Fernando Rodriguez Júnior, afirma que o projeto é ambicioso, mas que o Rio Grande do Sul precisa dessa malha viária. “É uma possibilidade que tem que ser examinada no detalhe. Nós vamos acompanhar esse processo, ajudar a viabilizar esse projeto e desembargar processos na medida daquilo que for possível”, reitera. “O Estado tem que estar ao lado de todo o movimento que gere fluxo e gere facilidade para a Serra”, acrescenta.
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“Um aeroporto é o que falta para nós”
“Eu já lutei muito por esse aeroporto”, reforça o prefeito de Canela, Constantino Orsolin. Ele salienta que a outorga que Canela possui é para investimentos privados e não públicos, mas que isso é um facilitador. “Um aeroporto é o que falta para nós. Quando se tem dinheiro e boas ideias, as coisas acontecem”, corrobora, afirmando que há empresários interessados em fazer o aporte financeiro.
Para o gestor, com a tragédia que assolou o Estado e o fechamento do aeroporto, as pessoas perceberam a importância que terá um aeroporto internacional em Canela. “E significa desenvolvimento, aumento de emprego e renda”, cita. “Sempre que a gente se dá as mãos, o fardo fica muito leve”, diz o prefeito, comentando que essa união é necessária.
Representante de Gramado, o prefeito Nestor Tissot também conta que acompanha o projeto há anos e que o município sempre apoiou a iniciativa, assim como o aeroporto de Vila Oliva, em Caxias. “Queremos os dois, pois um não inviabiliza o outro. Se nós quisermos continuar com a nossa atividade turística, o aeroporto aqui é fundamental. E eu tenho certeza que o visitante vai vir com muito mais frequência e maior número. Vamos nos juntar, nos unir e vamos construir esse aeroporto”, assegura.
Um dos entusiastas do aeroporto é o empresário Paulo Tomasini, que foi vice-prefeito de Canela. “De uma vez por todas, a região entendeu o que eu venho falando há 20 anos: o aeroporto internacional é uma necessidade”, declara. “Canela e Porto Alegre têm condições diferentes de clima, quando uma está com neblina a outra não tem. O aeroporto aqui resolveria o transporte aéreo do Estado”, constata Tomasini, confirmando que há fundos de investimentos interessados na proposta de construção.