'SUR'
Como a região do calçado vê a criação da moeda comum entre Brasil e Argentina
Projeto que não substitui Real nem Peso valeria apenas para negócios entre os dois países
Última atualização: 22/01/2024 10:22
De olho em qualquer movimento do mercado argentino, tradicionalmente um importante comprador brasileiro, o setor coureiro-calçadista começa a analisar a possibilidade de os dois países criarem uma moeda comum. O "sur" (sul, em espanhol), como vem sendo chamado informalmente, funcionaria em paralelo ao real e ao peso argentino e seria usado exclusivamente para o comércio entre os dois países.
O assunto foi amplamente discutido na segunda-feira (23), quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve em Buenos Aires para encontro com o colega argentino Alberto Fernández. Ambos concordam que a iniciativa levaria até três anos para entrar em prática. O governo argentino avançou o sinal e chegou a falar em moeda única, nos moldes do euro, algo que não consta em qualquer registro oficial do encontro bilateral. A possibilidade agitou o mercado brasileiro.
Em sua maioria, especialistas como Rubens Barbosa, embaixador e presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior, analisam de forma preliminar que a ideia convém ao Brasil, pois ajudaria a aumentar as exportações industrializadas para a Argentina. O presidente executivo do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), José Fernando Bello, concorda que a moeda comum poderá facilitar os negócios entre os dois países, mas destaca que é necessário muito estudo.
Presidente do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Caetano Bianco Neto diz que vê com bons olhos a reaproximação do Brasil com o segundo maior comprador do calçado nacional. Ele reforça que a ideia não é criar uma nova moeda, como o euro, por exemplo. "Não se fala em moeda física. Seria uma câmara de compensação, uma maneira para se fazer transações dentro dos países do Mercosul sem estar atrelado ao dólar", explica. Ele destaca que a melhora na economia argentina representaria mais negócios para o setor calçadista brasileiro.
Efetividade
A superintendente da Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal), Silvana Dilly, defende que é preciso amadurecer a ideia. "A proposta de moeda comum para transações comerciais na América do Sul já foi ventilada outras vezes. Visa integrar e facilitar o comércio entre os países, mas precisa ser muito discutida de forma a não prejudicar o Brasil. Precisamos que a integração comercial seja efetiva, independente de questões políticas ou ideológicas", sublinha.
Não se trata de moeda única, diz ministro
Após o encontro entre os presidentes Lula e Fernández e os ruídos sobre uma possível moeda única entre os dois países, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tratou de esclarecer. "Estamos falando de uma moeda comum apenas em trocas comerciais entre os países, para reduzir a dependência em relação ao dólar", frisou, garantindo que não se considera substituir o real e o peso.
"Recebemos dos nossos presidentes uma incumbência de não adotar uma ideia que era do governo anterior, que não foi levada a cabo, da moeda única. O meu antecessor, Paulo Guedes, defendia muito uma moeda única entre Brasil e Argentina. Não é disso que estamos falando", assegurou.
Indústria e comércio fazem alerta e defendem cautela
O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), Gilberto Petry, acompanhou o encontro entre Lula e Fernández em Buenos Aires e diz que vê dificuldade na implementação da moeda comum. “Como se equilibra isso? É necessário uma contrapartida para fazer andar. Eu acho mais fácil estabelecer um mecanismo que garanta, por intermédio de commodities ou outros produtos”, observa.
O diretor da Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Novo Hamburgo, Campo Bom, Estância Velha e Dois Irmãos (ACI-NH/CB/EV/DI), Leandro Cezimbra, leva em consideração a falta de simetria entre as duas economias. "Argentina, por exemplo, amarga uma crise bastante aguda, sua população está empobrecida", salienta, defendendo outros instrumentos que poderiam ser utilizados pelos governos para facilitar o comércio bilateral.
Ele cita a "melhora no Sistema de Pagamentos em Moeda Local (SML), administrado pelo Banco Central do Brasil em parceria com os bancos centrais da Argentina, Uruguai e Paraguai que permite que pagamentos e recebimentos sejam efetuados diretamente em real, sem a necessidade de moeda intermediária, como o dólar".
O vice-presidente de Inovação e Tecnologia da Câmara de Indústria e Comércio e Serviços de Canoas (Cics), Regis Haubert, que também é diretor regional da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), acredita que a proposta de uma moeda comum depende que questões estruturantes sejam atendidas, contando com uma zona de livre comércio que contemple os diversos setores econômicos; a união aduaneira; uma política comercial comum, as conveniências de cada país, dentre outros aspectos culturais e político-econômicos.
Hermanos no topo da lista
A Argentina é um dos principais destinos dos produtos exportados pela indústria gaúcha. Considerando um recorte apenas do setor coureiro-calçadista, é o primeiro destino internacional da área de componentes e o segundo das fábricas de calçados. Por isso o tema é tão relevante para o setor, que vem de um histórico de desafios com os hermanos.
Em 2022, a Argentina voltou a impor restrições às importações para conter a saída de moeda estrangeira do País, que segue com baixo nível de reservas internacionais. Com a medida, que tem prazo indeterminado, os pagamentos das mercadorias só são liberados após 180 dias, o que é um problema para quem exporta para o país vizinho.
*Com informações da Agência Estado
De olho em qualquer movimento do mercado argentino, tradicionalmente um importante comprador brasileiro, o setor coureiro-calçadista começa a analisar a possibilidade de os dois países criarem uma moeda comum. O "sur" (sul, em espanhol), como vem sendo chamado informalmente, funcionaria em paralelo ao real e ao peso argentino e seria usado exclusivamente para o comércio entre os dois países.
O assunto foi amplamente discutido na segunda-feira (23), quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve em Buenos Aires para encontro com o colega argentino Alberto Fernández. Ambos concordam que a iniciativa levaria até três anos para entrar em prática. O governo argentino avançou o sinal e chegou a falar em moeda única, nos moldes do euro, algo que não consta em qualquer registro oficial do encontro bilateral. A possibilidade agitou o mercado brasileiro.
Em sua maioria, especialistas como Rubens Barbosa, embaixador e presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior, analisam de forma preliminar que a ideia convém ao Brasil, pois ajudaria a aumentar as exportações industrializadas para a Argentina. O presidente executivo do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), José Fernando Bello, concorda que a moeda comum poderá facilitar os negócios entre os dois países, mas destaca que é necessário muito estudo.
Presidente do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Caetano Bianco Neto diz que vê com bons olhos a reaproximação do Brasil com o segundo maior comprador do calçado nacional. Ele reforça que a ideia não é criar uma nova moeda, como o euro, por exemplo. "Não se fala em moeda física. Seria uma câmara de compensação, uma maneira para se fazer transações dentro dos países do Mercosul sem estar atrelado ao dólar", explica. Ele destaca que a melhora na economia argentina representaria mais negócios para o setor calçadista brasileiro.
Efetividade
A superintendente da Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal), Silvana Dilly, defende que é preciso amadurecer a ideia. "A proposta de moeda comum para transações comerciais na América do Sul já foi ventilada outras vezes. Visa integrar e facilitar o comércio entre os países, mas precisa ser muito discutida de forma a não prejudicar o Brasil. Precisamos que a integração comercial seja efetiva, independente de questões políticas ou ideológicas", sublinha.
Não se trata de moeda única, diz ministro
Após o encontro entre os presidentes Lula e Fernández e os ruídos sobre uma possível moeda única entre os dois países, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tratou de esclarecer. "Estamos falando de uma moeda comum apenas em trocas comerciais entre os países, para reduzir a dependência em relação ao dólar", frisou, garantindo que não se considera substituir o real e o peso.
"Recebemos dos nossos presidentes uma incumbência de não adotar uma ideia que era do governo anterior, que não foi levada a cabo, da moeda única. O meu antecessor, Paulo Guedes, defendia muito uma moeda única entre Brasil e Argentina. Não é disso que estamos falando", assegurou.
Indústria e comércio fazem alerta e defendem cautela
O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), Gilberto Petry, acompanhou o encontro entre Lula e Fernández em Buenos Aires e diz que vê dificuldade na implementação da moeda comum. “Como se equilibra isso? É necessário uma contrapartida para fazer andar. Eu acho mais fácil estabelecer um mecanismo que garanta, por intermédio de commodities ou outros produtos”, observa.
O diretor da Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Novo Hamburgo, Campo Bom, Estância Velha e Dois Irmãos (ACI-NH/CB/EV/DI), Leandro Cezimbra, leva em consideração a falta de simetria entre as duas economias. "Argentina, por exemplo, amarga uma crise bastante aguda, sua população está empobrecida", salienta, defendendo outros instrumentos que poderiam ser utilizados pelos governos para facilitar o comércio bilateral.
Ele cita a "melhora no Sistema de Pagamentos em Moeda Local (SML), administrado pelo Banco Central do Brasil em parceria com os bancos centrais da Argentina, Uruguai e Paraguai que permite que pagamentos e recebimentos sejam efetuados diretamente em real, sem a necessidade de moeda intermediária, como o dólar".
O vice-presidente de Inovação e Tecnologia da Câmara de Indústria e Comércio e Serviços de Canoas (Cics), Regis Haubert, que também é diretor regional da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), acredita que a proposta de uma moeda comum depende que questões estruturantes sejam atendidas, contando com uma zona de livre comércio que contemple os diversos setores econômicos; a união aduaneira; uma política comercial comum, as conveniências de cada país, dentre outros aspectos culturais e político-econômicos.
Hermanos no topo da lista
A Argentina é um dos principais destinos dos produtos exportados pela indústria gaúcha. Considerando um recorte apenas do setor coureiro-calçadista, é o primeiro destino internacional da área de componentes e o segundo das fábricas de calçados. Por isso o tema é tão relevante para o setor, que vem de um histórico de desafios com os hermanos.
Em 2022, a Argentina voltou a impor restrições às importações para conter a saída de moeda estrangeira do País, que segue com baixo nível de reservas internacionais. Com a medida, que tem prazo indeterminado, os pagamentos das mercadorias só são liberados após 180 dias, o que é um problema para quem exporta para o país vizinho.
*Com informações da Agência Estado
O assunto foi amplamente discutido na segunda-feira (23), quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve em Buenos Aires para encontro com o colega argentino Alberto Fernández. Ambos concordam que a iniciativa levaria até três anos para entrar em prática. O governo argentino avançou o sinal e chegou a falar em moeda única, nos moldes do euro, algo que não consta em qualquer registro oficial do encontro bilateral. A possibilidade agitou o mercado brasileiro.
Em sua maioria, especialistas como Rubens Barbosa, embaixador e presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior, analisam de forma preliminar que a ideia convém ao Brasil, pois ajudaria a aumentar as exportações industrializadas para a Argentina. O presidente executivo do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), José Fernando Bello, concorda que a moeda comum poderá facilitar os negócios entre os dois países, mas destaca que é necessário muito estudo.