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RECONECTADAS

Como a Oktoberfest de Igrejinha reconectou duas amigas que não tinham contato há 26 anos

Nilva e Licete eram vizinhas na capital, mas perderam contato quando uma delas se mudou para o Vale do Paranhana

Ubiratan Júnior
Publicado em: 27/10/2023 às 15h:58
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Uma amizade que iniciou na década de 1980 marcada por muitos momentos marcantes e também pelo desencontro teve uma reviravolta no final de semana passado. Licete Klein de Azevedo, de 59 anos, é moradora de Igrejinha há 26 anos. Desde que mudou-se de Porto Alegre para Igrejinha, perdeu o contato com a ex-vizinha e amiga Nilva Lima, 57.

Nilva e Licete | Jornal NH



Nilva e Licete

Foto: Arquivo pessoal

Apesar do tempo e da distância, elas nunca esqueceram uma da outra. As memórias dos passeios em parques com os filhos pequenos, almoços entre as famílias e encontros regados a chimarrão acompanhados de muitas conversas jamais ficaram para trás e se somavam a um sentimento: a saudade.

Licete lembra que, naquela época, elas moravam no bairro Azenha, próximo ao antigo Estádio Olímpico. “Aluguei uma casa com dois pisos. Morava na parte de cima com meus dois filhos e meu marido, e ela com o esposo e o filho deles na parte de baixo, aí começou a nossa amizade”, recorda.

Já Nilva relembra que mesmo antes de serem vizinhas de pátio, já se conheciam do bairro Camaquã, onde coincidentemente também residiam perto. “Nesse tempo, a gente não era próxima, só se cumprimentava. Ela estava grávida do Renan, o segundo filho dela. As poucas vezes que a via, aquele barrigão, era calor…”

O companheirismo começou em 1985 e por cerca de dois anos o convívio era diário, até que Licete mudou-se com a sua família para outro bairro da capital. Até 1997, elas conseguiram manter contato, com visitas regulares e passeios. Naquele ano, Licete decidiu que o Vale do Paranhana seria seu novo lar, e como ter aparelho celular era dispositivo de luxo e telefone fixo também não era acessível no fim da década de 1990, elas perdessem o contato por 26 anos.

A busca

Sem contato e com paradeiros desconhecidos, Nilva e Licete nunca deixaram de tentar encontrar uma a outra. A procura iniciou mesmo antes do surgimento e da popularização das redes sociais na Internet.

Nilva conta que procurou por informações sobre a amiga com antigos conhecidos. Ela chegou até a ir em uma empresa de piscina do qual o marido de Licete era sócio na capital, na época em que as amigas eram vizinhas. No local, porém, soube que o estabelecimento foi vendido e quem estava lá não tinha o contato que Nilva tanto desejava. Apesar da negativa, isso não desanimou a busca pela companheira de passeios e chimarrão.

Sabendo que a amiga havia se mudado para Igrejinha, Nilva disse que até ligou para rádios da cidade pedindo ajuda para encontrá-la, mas nunca teve êxito. Atualmente morando em Farroupilha, na Serra, ela revela que chegou a comentar com seu filho que pensou em pegar um ônibus até a cidade do Vale do Paranhana para achar Licete. “Chegando lá, procuraria alguma rádio ou qualquer outro lugar que pudesse me ajudar. Mas acharia ela. Imagino que a cidade não seja muito grande”, comenta. “A saudade é grande”, completa.

Com o passar dos anos, a busca foi expandida para as redes sociais. “Eu procurei ela várias vezes, pelo sobrenome dela, pelo sobrenome do esposo, pelos filhos que eu me lembrava bem”, conta Nilva, que até entrou em grupos de Igrejinha na tentativa de localizar a ex-vizinha.

Licete relata que também usou a Internet para procurar pela amiga. “Eu procurava nas redes sociais, mas ela tinha se separado e eu não sabia. Procurava por Nilva Galvão e ela está com o sobrenome de solteira, Lima, por isso não achei ela”, revela.

A publicação da Oktoberfest que reconectou

Tudo mudou no último sábado (21), quando Nilva fez uma publicação no Facebook. Após ver uma postagem sobre a Oktoberfest, ela voltou a lembrar da amiga Licete e decidiu fazer uma nova publicação em um grupo da cidade, na intenção de obter alguma informação sobre o paradeiro da ex-vizinha.

“Teve uma vez que falei nesse grupo, mas só perguntei em poucas palavras se alguém conhecia [Licete], mas não dei detalhes nenhum. O tempo foi passando e a vida da gente, uma correria… Quando foi esse final de semana, estava olhando no Face e entrou uma publicação de Igrejinha sobre a Oktoberfest, ai me deu um estalo: ‘Vou publicar, falar alguma coisa, vou dar mais detalhes, falar o nome dela, dos meninos da época, onde morava’”, detalha Nilva.







Foto por:
Reprodução/Redes Sociais

Descrição da foto: Publicação no Facebook, inspirada por postagem da Oktoberfest, uniu as amigas Nilva e Licete após mais de 25 anos

Dessa vez, a ação gerou resultado. “Uma vizinha dela mandou uma mensagem dizendo que conhecia Licete. Mandou print do perfil do filho e da filha. Pensei: ‘Não pode ser a mesma pessoa’. Até então, na minha cabeça, ela falava que não queria ter mais filhos. Fui lá, chamei o Cristian [filho mais velho de Licete] e ele não me respondeu, então o pessoal começou a comentar”, lembra Nilva.

Cerca de 25 minutos após a postagem no grupo, Licete respondeu a publicação da amiga, com quem não tinha contato a mais de duas décadas. “Eu até me emociono, quando vi que ela respondeu, meu Deus! Foi uma alegria imensa”, declara Nilva.

A felicidade também tomou conta da moradora de Igrejinha. “Espero nunca mais perder o contato dela. Nossa, fiquei muito feliz! Comentei com minha filha Vitória, parece que ganhei na loteria”, destaca.

“Sábado, eu estava na Oktober quando ela mandou mensagem no Facebook. Pediu meu número e eu peguei o dela, expliquei que estava na festa e que retornaria a ligação no domingo pela manhã”, completa Licete.

A ligação mais esperada

Como combinado, no domingo (22), elas se falaram por telefone pela primeira vez após todos esses anos. “Nossa foi emocionante, falamos tanto, foi uma alegria e tanto”, resume Licete.

Além de compartilhar a alegria do reencontro, as amigas aproveitaram para atualizar as novidades sobre as suas vidas, bem como momentos tristes pelos quais passaram nesse período sem contato. “Nossa aproximação veio com notícias tristes. O filho dela faleceu há seis anos por causa de uma bactéria, e o pai dos meus filhos fez nesta semana um mês que faleceu, tinha câncer”, lamenta a moradora do Vale do Paranhana.

As amigas também compartilharam a alegria do nascimento dos filhos que cada uma teve desde a última vez que se falaram. Também relembraram os momentos que viveram juntas nas décadas de 1980 e 1990. “A gente se dava super bem. Os dois meninos, na época, que era meu filho mais velho e o mais velho dela, brigavam que meu Deus do céu”, recorda Nilva. “A gente ria das brigas deles.”

Outra lembrança que elas compartilharam na ligação foi o fatídico 1º de maio de 1994. “Foi bem no dia da morte do Ayrton Senna. Eu estava lá na casa dela. Estávamos lembrando que quase estragou o nosso almoço, mal conseguimos comer naquele dia.” 

Antes da mudança da família de Licete acontecer, as amigas combinaram de manter contato e visitar a casa uma da outra. “Mas ficou por isso, aí acabou que perdemos o contato”, diz Nilva. 

Expectativa pelo reencontro 

O telefonema serviu para marcar o reencontro presencial. “Morro de vontade de encontrar ela pessoalmente”, afirma Nilva. “Até comentei com meu filho que vou pegar um feriado ou final de semana, assim receber meu salário, e vou me organizar para ir lá ver ela”, completa. 

Licete também está ansiosa para rever a amiga. “Espero nunca mais perder o contato dela”, salienta.

Elas ainda não definiram o dia, mas garantem que será em breve. “A saudade é grande. Eu sempre acreditei que uma hora eu iria me encontrar com ela, que eu iria saber alguma coisa dela, dos filhos… Alguma coisa eu iria saber”, enfatiza Nilva. “No mundo que a gente tá vivendo, de tanta maldade, de tanta guerra, acho que a amizade, o amor ao próximo é tão bom, fortalece a gente”, finaliza ela, reforçando a importância da amizade para além do tempo. 

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