CASO INÉDITO EM CANELA

SUPERDOTADO: Gaúcho de 10 anos conclui o ensino fundamental e integra lista dos superinteligentes do Brasil

Felipe Dorneles, morador de Canela, tem QI muito acima da média; conheça a história dele

Publicado em: 19/04/2024 11:19
Última atualização: 19/04/2024 14:59

Já imaginou uma criança que sabe reconhecer no mapa qualquer país do mundo, que faz cálculos avançados, que tem senso crítico e lógico? Pois esse é o Felipe Dorneles, morador de Canela que, aos 10 anos, após ser aprovado nos exames de certificação, concluiu o ensino fundamental. Com um quociente de inteligência (QI) elevado, o menino avançou as séries sem frequentar de conforma contínua as aulas.

Felipe Dorneles Foto: Mônica Pereira/GES-ESPECIAL
“Ele ainda usava fraldas e nem falava direito, mas já identificava os países. Ele apontava para uma poça de água ou para uma nuvem e dizia que se parecia com tal país”, recorda a mãe, Daphne Fontana, de 45 anos.

Desde muito cedo, o menino demonstrava interesse pelas áreas de geografia e história, matéria esta que o pai é professor. “Ele sempre foi de fazer muitas pesquisas na Internet, de questionar o tempo todo”, comenta.

Com o tempo, percebeu-se a facilidade do garoto também com as matérias de exatas. “Ele chamou a atenção realmente em matemática e em lógica que acho que é um dom. Em história e geografia, ele ficou curioso e foi atrás dos conteúdos”, relata a mãe, atestando a facilidade do menino em aprender.

Dificuldades

Geografia é uma das preferências de Felipe Foto: Mônica Pereira/GES-ESPECIAL
Estudando na rede municipal de Canela, Felipe ingressou no ensino fundamental em 2019. No ano seguinte, por causa da pandemia, teve o ensino remoto por algum tempo. Quando precisou retornar para o presencial, começou a demonstrar ansiedade. “Ele tem essa dificuldade em lidar com a repetição de assunto, é inquieto. Eu era chamada na escola porque ele se recusava a fazer atividades. Ele sofria bastante e eu sofria junto”, diz.

Em outubro de 2021, a família decidiu custear um teste de QI para o Felipe de forma particular. Depois de cerca de seis etapas aplicadas, que são sigilosas, foi então constatado o QI de 135, ou seja, a identificação da superdotação.

No Brasil, a média de QI fica na casa dos 80. Felipe é membro de duas entidades para superdotados, a Intertel e a Mensa. Neste ano, a Mensa atingiu a marca de 3,5 mil brasileiros com superdotação e altas habilidades identificados. Ao todo, são 152 no Rio Grande do Sul. A associação aceita pessoas que possuam QI acima de 130, 2% da população.

Certificação

Com a identificação, os pais foram buscar apoio na Secretaria da Educação para que ele pudesse avançar de turma. Depois do primeiro avanço, surgiu a ideia que realizasse a prova de certificação do ensino fundamental, aplicada para que moradores da região que não conseguiram finalizar os estudos em idade regular, possam ter o certificado.

Felipe fez as provas na segunda quinzena de março e foi aprovado, gabaritando Ciências Humanas e Ensino Religioso. Em Ciências da Natureza e Matemática ele teve nota 90/100. Em Linguagem, 76/100.

Novas etapas para o menino

Felipe Dorneles tem QI 135; média nacional é na casa dos 80 Foto: Mônica Pereira/GES-ESPECIAL
Com a possibilidade de ingressar no ensino médio, a mãe vai acompanhar como será esse processo, pois são conteúdos que ainda não teve contato, além do convívio com adolescentes em torno de cinco anos mais velhos. Após, existe a possibilidade de tentar um novo avanço. O sonho da família é que Felipe estude no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em São Paulo.

“É um desafio para a gente. Ele faz muitas perguntas. Ainda bem que tem a Internet”, brinca Daphne. Ela conta que é preciso conversar com o Felipe constantemente, pois ele tem uma cobrança grande em si. “Se ele não consegue fazer algo perfeito de primeira, fica estressado”, adianta, relevando que o garoto é bastante visual e não costuma copiar conteúdos.

Rotina

Felipe faz aulas de música, natação e jiu-ítsu Foto: Mônica Pereira/GES-ESPECIAL
Na rotina, Felipe estuda, ao menos, quatro horas por dia, divididas nos dois turnos. Os pais adquiriram cursos on-line para que ele consiga ter acesso a matérias mais avançadas. “Ele está fazendo alguns cursos preparatórios e consegue responder a questões do ITA, de simulados”, corrobora Daphne.

Como trabalha em home office, a mãe consegue auxiliar o filho em algumas demandas e também delega tarefas, para que ele não estude somente o que tem interesse, mas vá se desenvolvendo nas demais áreas, como a de Linguagem.

Contudo, Daphne salienta que a principal atividade do Felipe é brincar. O que ele mais gosta de fazer é correr. “Se os amigos do condomínio estão na rua brincando, ele vai estar lá com eles”, garante. Ele também faz aulas de jiu-jítsu, natação e música. Uma vez por semana, é atendido no Centro de Atenção e Desenvolvimento Integral ao Estudante (Cadie).

“O caso é um incentivo ao poder público”

Foi a partir da demanda dos familiares do Felipe para que pudesse avançar na escola que a Secretaria da Educação se mobilizou para regulamentar os processos de atendimento às demandas da superdotação. Por isso, foi criada a nota técnica 01/2024, que orienta escolas.

Além disso, houve uma mudança na lei para aplicação do exame de certificação de conclusão do ensino fundamental, aplicado em Canela, para que não haja idade mínima para inscrição, quando a criança tiver comprovação de alta habilidade ou superdotação. Nas provas deste ano, das 83 pessoas que compareceram, somente 33 foram aprovadas.

“O caso do Felipe é um incentivo positivo para o poder público. Foi desafiador, mas conseguimos atender e também abrir as portas para outras crianças”, comenta a secretária da Educação, Janete Santos.

Desenvolvimento

Centro de Atenção e Desenvolvimento Integral ao Estudante (Cadie) de CanelaMônica Pereira/GES-ESPECIAL
Centro de Atenção e Desenvolvimento Integral ao Estudante (Cadie) de CanelaMônica Pereira/GES-ESPECIAL
Centro de Atenção e Desenvolvimento Integral ao Estudante (Cadie) de CanelaMônica Pereira/GES-ESPECIAL
Assim como o Felipe, crianças que possuem altas habilidades e superdotação em Canela são atendidas no Cadie. O local é um ambiente para complementar e suplementar a parte pedagógica, fomentando o processo de aprendizagem de forma especializada e individual.

A coordenadora do Cadie, Deise Schnidger, explica que a maior parte das demandas é levada através das escolas. Atualmente, são cerca de 200 estudantes atendidos semanalmente no contraturno escolar, sendo que seis possuem a superdotação ou estão em processo de identificação.

O Cadie, que fica localizado no bairro Distrito Industrial, é voltado para a educação inclusiva, recebendo também crianças com deficiências ou transtornos. O acompanhamento é realizado por uma equipe técnica, como a psicóloga Janine Palodetti. “Nas atividades no Cadie, trabalhamos várias áreas de desenvolvimento, como a questão motora, afetiva, psíquica, de socialização”, atesta.

A estrutura possui um espaço que vai se moldando conforme as necessidades de atendimento, pensando em áreas que criem estímulos. Uma das salas de informática, por exemplo, vai ser transformada no núcleo de altas habilidades e superdotação.

Processo

Deise Schnidger e Janine Palodetti atuam no Centro de Atenção e Desenvolvimento Integral ao Estudante (Cadie) de Canela Foto: Mônica Pereira/GES-ESPECIAL
Janine destaca que o processo para identificar uma pessoa com altas habilidades ou superdotação envolve vários profissionais, partindo dos professores, que começam a perceber essas habilidades extraordinárias. “A definição é que são indivíduos com desempenho excepcional, com potencial muito elevado em áreas específicas e que se destacam significativamente da média da população. É importante ressaltar que as altas habilidades podem ser em diferentes campos, para questões motoras, artísticas, linguagem”, frisa.

Segundo a psicóloga, são inúmeros os fatores que podem gerar uma superdotação e que o estímulo é importante. “O desenvolvimento humano é dinâmico, complexo, e a gente precisa estudar constantemente esses fenômenos”, acrescenta.

No caso do Felipe, um dos pontos de atenção na complementação é nas atividades motoras. “Esse desenvolvimento corporal só vai contribuir para o desenvolvimento intelectual dele em todas as áreas que ele tiver interesse”, adianta. Já na suplementação, a ideia é buscar parcerias para que ele possa desenvolver projetos de pesquisas.

Janine aponta que acredita que o Felipe possui uma maturidade suficiente para conseguir ir para o ensino médio, recomendação diferente do que para outros estudantes na mesma condição.

Endossando a ideia da Daphne, a psicóloga pondera que crianças, mesmo com uma superinteligência, continuam sendo crianças. “Elas precisam brincar, conviver com pessoas da mesma idade. Precisamos tomar cuidado com o uso excessivo das telas, isso prejudica o desenvolvimento”, salienta.

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