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TEMPO E CLIMA

Ciclones, enchentes, calorão e temporais: o que esperar de 2024?

Secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, resume o problema: "Era da ebulição global começou."

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Publicado em: 31/12/2023 às 13h:23 Última atualização: 31/12/2023 às 16h:13
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No Brasil e no mundo, 2023 será lembrado por eventos climáticos extremos. A intensificação do aquecimento do planeta provocado pela ação do homem, por meio da emissão de gases do efeito estufa, aumenta a frequência e a força de temporais, enchentes, ciclones e ondas de calor.

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Cenário de destruição e mobilização no município de Muçum | abc+



Cenário de destruição e mobilização no município de Muçum

Foto: Gustavo Mansur/P. Piratini

Além disso, a Terra viu retornar o El Niño, que começou oficialmente em junho. No fim de novembro atingiu patamar de Super El Niño, com aquecimento de 2oC na temperatura da água do mar no Pacífico Centro-Leste. Esta situação não acontecia desde 2016.

O aquecimento das águas do Oceano Pacífico influencia o clima global, com impactos na temporada de furacões no Oceano Atlântico e no ciclo de chuvas na América do Sul, por exemplo. O El Niño está próximo de seu pico e termina só depois de março de 2024, ou seja, ainda pode causar estragos nos próximos meses, dizem os especialistas.

O ano mais quente

Essa combinação fez com que 2023, segundo as Nações Unidas (ONU), possa ser considerado o ano mais quente já registrado na história – até agora. “De janeiro a novembro, a temperatura média global para 2023 é a mais alta já registrada, 1,46°C acima da média pré-industrial do período de 1850-1900 e 0,13°C acima da média de onze meses para 2016, o ano mais quente que já havia sido registrado”, aponta o observatório europeu Copernicus.

No Brasil, os efeitos foram sentidos em múltiplas tragédias. Em fevereiro, uma tempestade recorde deixou dezenas de mortos em São Sebastião, no litoral de São Paulo. O evento foi considerado sem precedentes no que diz respeito ao volume de precipitação, que atingiu 600 milímetros.

Tragédias no Sul

A recorrência de ciclones extratropicais no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina chamou atenção já na metade do ano. Em junho, 15 pessoas morreram no que foi considerado – até então – um dos piores desastres climáticos das últimas décadas. O epicentro da tragédia foi o município de Caraá, no Litoral Norte. Na região, Lindolfo Collor foi o mais castigado.

Quase 5 mil gaúchos ficaram desalojados após extremos de até 250 milímetros de chuva em poucas horas. A estação do Inmet em Campo Bom marcou 209 milímetros em 24 horas, recorde para junho desde 1984. O vento passou dos 100 quilômetros por hora, deixando mais de 1 milhão de gaúchos sem luz. Os Vales voltaram a ter grandes enchentes.

Em setembro, o Rio Grande do Sul assistiu incrédulo a uma tragédia sem precedentes. Um sistema de baixa pressão provocou muita chuva durante três dias na região da Serra, provocando uma cheia histórica no sistema Antas/Taquari. Foram mais de 50 mortes, cidades devastadas e um prejuízo incalculável. Os olhos do mundo se voltaram para o que acontecia no Vale do Taquari.

Em novembro, mais chuva e mais enchente. Os Vales do Caí, Sinos e Paranhana voltaram a sofrer com a força da água e Porto Alegre registrou a maior enchente desde 1941. São Sebastião do Caí foi atingida como munca. A meteorologista Estael Sias, da MetSul Meteorologia, resumiu que o segundo semestre do ano reescreveu de forma trágica a história climatológica do Estado.

Seca no Norte, calorão no Sul

Os últimos meses foram marcados também por fortes ondas de calor. Em novembro, um alerta chamou atenção para as altas temperaturas em mais de 2,5 mil cidades do País. Em parte delas, o termômetro marcou mais de 40ºC mas a sensação passou de 50ºC.

Enquanto isso, no Norte, a seca se intensificava. Rios amazônicos esvaziaram, atrapalhando a navegação e a distribuição de alimentos e remédios pelo Estado, que depende do transporte fluvial. Em Manaus, o Rio Negro atingiu seu menor nível em mais de um século de medições. Tanto no Amazonas quanto no Pantanal, o número de queimadas bateu recorde. O próprio governo federal admitiu que a estrutura de combate ao fogo é insuficiente diante da rapidez com que as chamas têm se espalhado nos dois biomas.

Espanha, Croácia, EUA: ano de tragédias pelo mundo

Não foi só no Brasil. No exterior, os efeitos mais expressivos se deram no verão do Hemisfério Norte, quando ondas de calor assustaram Espanha, Croácia e Grécia, dentre outros países. Nos Estados Unidos e Canadá, a preocupação girou em torno dos incêndios florestais cuja fumaça chegou a colocar cidades como Nova York e Washington em alerta. A Líbia foi destruída por enchentes. China, Índia e Bangladesh também sofreram com a força das inundações. Difícil apontar uma região do mapa-múndi que tenha escapado do desequilíbrio do clima.

El Niño no 1º semestre 

Em 2024, alertam especialistas e órgãos de monitoramento, os efeitos do El Niño devem ser sentidos ao longo do 1.º semestre. O verão deve ter temperaturas acima da média e maior quantidade de chuvas em algumas partes do País. Segundo Marília Nascimento, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), não é descartado o risco “de pancadas de chuvas intensas que atinjam essa faixa que engloba a região Centro-Oeste e o Sudeste e uma área ao norte da região Sul”.

Para 2024 as previsões já apontam para o risco de a média de temperatura superar o nível 1,5°C acima do patamar pré-industrial (meados do século 19). “Pela primeira vez, prevemos uma probabilidade razoável de o ano exceder temporariamente 1,5°C”, afirmou Nick Dunstone do Met Office, serviço britânico de previsões meteorológicas. Segundo o Acordo de Paris, assinado em 2015 por quase 200 países para frear o aquecimento global, superar a marca de 1,5ºC na elevação das temperaturas aumenta significativamente os riscos de catástrofes naturais.

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