ECONOMIA EM TEMPOS DE SECA
Cidades gaúchas sentem impacto econômico da estiagem
Falta de chuvas reduz poder de compra de produtores rurais e encarece produtos para o consumidor final, impactando no PIB estadual e municipal
Última atualização: 02/02/2024 14:29
É no campo que os primeiros impactos da estiagem são sentidos, mas a falta de chuvas também afeta diretamente quem vive nas cidades e impacta fortemente na economia delas. Projeções do governo estadual apontam para um 2023 com perdas no Produto Interno Bruto (PIB) depois de mais um ano com poucas chuvas. Pequenos municípios com potência agrícola são os que mais sentem os impactos.Salvador do Sul é uma das cidades que decretaram estado de emergência devido à seca. O município tem uma importante participação da produção agrícola para a economia, e as dificuldades dos produtores rurais já é sentida na cidade, como relata Artur Koling, proprietário de uma agropecuária na cidade. Embora o nome do negócio carregue agro, o carro-chefe da empresa são os produtos voltados para pets. "O pessoal já sente que a ração aumentou e muitos já trocaram a marca que sempre compravam por uma mais barata, também tem clientes meus que sempre compravam aqui que já trocaram para o concorrente por uma diferença de R$ 1 a R$ 2", relata.
De acordo com ele, a queda no faturamento chegou a casa dos 20% entre dezembro do ano passado e o início de março deste ano. A expectativa é que a situação melhore ainda no primeiro semestre, mas os planos de investimentos já foram adiados. "Eu não mudei os produtos que vendo e consegui manter o mesmo volume de vendas, mas sinto que o pessoal está com pé atrás e só compra se estiver bem calçado."
Pesquisador do Departamento de Economia e Estatística da Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (DEE/SPGG), Rodrigo Feix explica que é justamente nos municípios menores que o equilíbrio econômico fica mais abalado com a falta de chuvas. "No interior do Estado e municípios menores a estiagem reduz a renda disponível dos produtores agropecuários e isso se traduz em menor demanda do setor de comércios e serviços."
Toda cadeia afetada
Gerente de produção em um frigorífico de Salvador do Sul, André Mallmann valia que a demanda pela carne de gado teve uma queda entre 15% a 20% motivada apenas pelas perdas causadas pela estiagem. "É esse produtor que vai fazer a roda andar, que vai consumir no comércio local. Se ele está gastando menos na lojinha, o cara vai ter menos funcionário, ele não vai ter o emprego que ele precisa e não vai consumir", resume ele sobre o que chama de "roda viva" da economia local.
Há poucos metros do frigorífico comandado por Mallmann, a agroindústria de Felipe Inácio Vogt, também viu os negócios serem afetados diretamente pela estiagem. A empresa trabalha com carne de carneiro, fazendo desde a venda de cortes embalados a vácuo até a produção de embutidos, e tem nos consumidores da região seus principais clientes.
De acordo com Vogt, as vendas regionais representam 60% do faturamento, e a queda foi brusca, com 35% de vendas a menos em fevereiro deste ano na comparação com o mesmo mês do ano passado. "A gente viu que sofreu bastante, essa parte de poder aquisitivo desses clientes e a venda baixou bastante na nossa região tivemos uma baixa em vendas. O que salvou nossa empresa aqui foi a comercialização a nível nacional", conta ele comemorando o fato de poder ter mantido a equipe que conta com 15 funcionários diretos, além de mais 20 empregos gerados de forma indireta.
Produção mais cara
Se por um lado os consumidores compram menos, a estiagem traz como consequência a alta nos custos de produção, especialmente na indústria alimentícia. "Essa seca fez com que tivéssemos um alto custo de produção, e isso faz com que esse alimento impacte na nossa indústria ficando com valor mais caro", explica Vogt.
Salvador do Sul calcula um prejuízo total de R$ 7.193.240,00 no setor rural da cidade devido a estiagem. Apenas na produção de leite foram 270 mil litros perdidos e 70% a menos nas lavouras de milho. Afora as perdas na agricultura, o município precisou investir pelo menos R$ 39.884,50 para minimizar os impactos da estiagem com obras emergenciais na rede de distribuição de água, além de substituição de bombas e serviços de retroescavadeira para limpeza e abertura de poços rasos.
Quando analisa o cenário estadual, o pesquisador do DEE/SPGG mostra que o problema de Salvador do Sul é um resumo de um cenário geral no Rio Grande do Sul. "A agropecuária é um setor ofertante de matéria prima para a indústria de transformação, então ela acaba ser atingida por uma menor disponibilidade. A indústria de alimentos é uma das principais atividades industriais do Estado e tende a ser diretamente afetada por essa menor oferta de produção agropecuária", explica Feix.
É no campo que os primeiros impactos da estiagem são sentidos, mas a falta de chuvas também afeta diretamente quem vive nas cidades e impacta fortemente na economia delas. Projeções do governo estadual apontam para um 2023 com perdas no Produto Interno Bruto (PIB) depois de mais um ano com poucas chuvas. Pequenos municípios com potência agrícola são os que mais sentem os impactos.Salvador do Sul é uma das cidades que decretaram estado de emergência devido à seca. O município tem uma importante participação da produção agrícola para a economia, e as dificuldades dos produtores rurais já é sentida na cidade, como relata Artur Koling, proprietário de uma agropecuária na cidade. Embora o nome do negócio carregue agro, o carro-chefe da empresa são os produtos voltados para pets. "O pessoal já sente que a ração aumentou e muitos já trocaram a marca que sempre compravam por uma mais barata, também tem clientes meus que sempre compravam aqui que já trocaram para o concorrente por uma diferença de R$ 1 a R$ 2", relata.
De acordo com ele, a queda no faturamento chegou a casa dos 20% entre dezembro do ano passado e o início de março deste ano. A expectativa é que a situação melhore ainda no primeiro semestre, mas os planos de investimentos já foram adiados. "Eu não mudei os produtos que vendo e consegui manter o mesmo volume de vendas, mas sinto que o pessoal está com pé atrás e só compra se estiver bem calçado."
Pesquisador do Departamento de Economia e Estatística da Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (DEE/SPGG), Rodrigo Feix explica que é justamente nos municípios menores que o equilíbrio econômico fica mais abalado com a falta de chuvas. "No interior do Estado e municípios menores a estiagem reduz a renda disponível dos produtores agropecuários e isso se traduz em menor demanda do setor de comércios e serviços."
Toda cadeia afetada
Gerente de produção em um frigorífico de Salvador do Sul, André Mallmann valia que a demanda pela carne de gado teve uma queda entre 15% a 20% motivada apenas pelas perdas causadas pela estiagem. "É esse produtor que vai fazer a roda andar, que vai consumir no comércio local. Se ele está gastando menos na lojinha, o cara vai ter menos funcionário, ele não vai ter o emprego que ele precisa e não vai consumir", resume ele sobre o que chama de "roda viva" da economia local.
Há poucos metros do frigorífico comandado por Mallmann, a agroindústria de Felipe Inácio Vogt, também viu os negócios serem afetados diretamente pela estiagem. A empresa trabalha com carne de carneiro, fazendo desde a venda de cortes embalados a vácuo até a produção de embutidos, e tem nos consumidores da região seus principais clientes.
De acordo com Vogt, as vendas regionais representam 60% do faturamento, e a queda foi brusca, com 35% de vendas a menos em fevereiro deste ano na comparação com o mesmo mês do ano passado. "A gente viu que sofreu bastante, essa parte de poder aquisitivo desses clientes e a venda baixou bastante na nossa região tivemos uma baixa em vendas. O que salvou nossa empresa aqui foi a comercialização a nível nacional", conta ele comemorando o fato de poder ter mantido a equipe que conta com 15 funcionários diretos, além de mais 20 empregos gerados de forma indireta.
Produção mais cara
Se por um lado os consumidores compram menos, a estiagem traz como consequência a alta nos custos de produção, especialmente na indústria alimentícia. "Essa seca fez com que tivéssemos um alto custo de produção, e isso faz com que esse alimento impacte na nossa indústria ficando com valor mais caro", explica Vogt.
Salvador do Sul calcula um prejuízo total de R$ 7.193.240,00 no setor rural da cidade devido a estiagem. Apenas na produção de leite foram 270 mil litros perdidos e 70% a menos nas lavouras de milho. Afora as perdas na agricultura, o município precisou investir pelo menos R$ 39.884,50 para minimizar os impactos da estiagem com obras emergenciais na rede de distribuição de água, além de substituição de bombas e serviços de retroescavadeira para limpeza e abertura de poços rasos.
Quando analisa o cenário estadual, o pesquisador do DEE/SPGG mostra que o problema de Salvador do Sul é um resumo de um cenário geral no Rio Grande do Sul. "A agropecuária é um setor ofertante de matéria prima para a indústria de transformação, então ela acaba ser atingida por uma menor disponibilidade. A indústria de alimentos é uma das principais atividades industriais do Estado e tende a ser diretamente afetada por essa menor oferta de produção agropecuária", explica Feix.
De acordo com ele, a queda no faturamento chegou a casa dos 20% entre dezembro do ano passado e o início de março deste ano. A expectativa é que a situação melhore ainda no primeiro semestre, mas os planos de investimentos já foram adiados. "Eu não mudei os produtos que vendo e consegui manter o mesmo volume de vendas, mas sinto que o pessoal está com pé atrás e só compra se estiver bem calçado."