PESQUISA DA UFRGS

Cheia extrema em Porto Alegre foi intensificada por parte "estrangulada" entre o Jacuí e o Guaíba; saiba mais

Resultados indicam que nível da água variou bastante entre as zonas sul e norte da capital

Publicado em: 07/06/2024 11:06
Última atualização: 07/06/2024 11:56

Medições recentes revelam que a cheia extrema que atingiu Porto Alegre em maio foi intensificada por represamento em uma parte “estrangulada” entre os rios Jacuí e Guaíba, próximo à Usina do Gasômetro.

É a conclusão da pesquisa interdisciplinar conduzida por cientistas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) no âmbito do Programa de Gestão Portuária do Porto de Porto Alegre. A equipe é formada por especialistas em sensoriamento remoto, hidráulica e geociências integrantes de uma interação acadêmica entre a universidade e a Portos RS, autoridade portuária do Estado.


Zona norte da capital foi fortemente afetada pela cheia do Guaíba. Agora, pesquisadores entendem o motivo Foto: Gustavo Mansur/Palácio Piratini

Com o uso de dados de campo e imagens do satélite franco-americano SWOT, os pesquisadores conseguiram medir níveis de inundação mais altos na zona norte de Porto Alegre, identificando o fator que contribuiu para o agravamento da situação naquela região.

Felipe Geremia Nievinski, professor do Departamento de Geodésia do Instituto de Geociências (Igeo), orientou a pesquisa e indica a principal descoberta: a cheia extrema inclinou a superfície da água, causando um desnível de quase 3 metros entre a região do aeroporto e a extremidade sul da capital. Foi exatamente na zona norte que os diques falharam, onde os níveis de água eram alguns metros mais altos do que o observado em outras regiões da cidade.

Desse modo, a pior enchente já enfrentada pela cidade de Porto Alegre teve danos intensos, apesar das medidas de controle implementadas desde a última grande cheia, em 1941.

“A altimetria via satélite revelou que no Rio Jacuí a inundação foi agravada pelo represamento em uma parte estrangulada. Já o Guaíba, mais largo, apresentou menores níveis de água”, explica o autor principal do trabalho, Leonard Silveira, egresso do Centro de Sensoriamento Remoto e Meteorologia da Ufrgs e hoje professor na Universidade Federal do Pampa.

Segundo os pesquisadores do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) e coautores do estudo, Eduardo Puhl e Rafael Manica, “os resultados indicam que o controle de enchentes poderia ser melhorado na região norte de Porto Alegre, considerando que os diques foram projetados, em sua maioria, com uma cota de coroamento constante (igual a 6 m), enquanto o nível da água observado variou bastante entre norte e sul da cidade”.

O que os pesquisadores recomendam

A pesquisa indica ainda recomendações, como medir em campo as marcas do nível máximo deixadas pela cheia ao longo da margem dos rios. “Os resultados evidenciam que as máximas foram maiores quanto mais a montante [rio acima], ou seja, não foi uma máxima única”, conclui Elírio Toldo Júnior, pesquisador do Igeo.

A vice-diretora do Igeo e coautora, professora Tatiana da Silva, ressalta a necessidade de aprimoramento da rede de monitoramento para maior previsibilidade de eventos extremos, com estações de medição automática do nível da água em mais de um local.

Como explicam os doutorandos e também coautores Kenji Yamawaki e Vitor de Almeida Júnior, é importante que as diversas réguas e sensores de nível adotem um mesmo referencial ou altitude da cota zero, para viabilizar a comparação das medições em diferentes locais e o cálculo do desnível. Isso é importante não apenas dentro de Porto Alegre, mas também nos rios afluentes da bacia hidrográfica e na Lagoa dos Patos.

No geral, a pesquisa destaca a necessidade de revisão das estruturas de controle de inundações na cidade, pois o “projeto dos diques, de 1968, subestimou o efeito de remanso, tornando a área urbana mais suscetível a inundações na zona norte”.

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