TEMPESTADE

CATÁSTROFE RS: O dia que moradores do Vale do Paranhana ficaram ilhados

Rios invadiram ruas municipais e até estaduais nesta quinta-feira

Publicado em: 02/05/2024 19:05
Última atualização: 02/05/2024 19:05

Os municípios do Vale do Paranhana ficaram literalmente ilhados na quinta-feira (2). Com águas de rios, que invadiram ruas municipais e até estaduais, moradores tiveram acesso dificultado de todas as formas.


Três Coroas com ruas alagadas Foto: Susi Mello/GES-Especial

Teve quem conseguiu sair antes das águas entrarem nas casas e teve quem precisou aguardar resgate do telhado. Teve quem saiu com a roupa do corpo e teve quem carregou eletrodomésticos até dentro da caixa d 'água.

Pacientes hospitalizados tiveram que aguardar águas descerem para conseguir a transferência para outra casa de saúde. E teve quem saiu para pegar um pão para levar para família e, ao voltar minutos depois, não conseguir mais atravessar a rodovia.

Esse último caso ocorreu em Rolante. A auxiliar Fredineia Rodrigues Figueira, 47 anos, ficou atônita diante da água que passava sobre a RS-239, próximo da parada de ônibus 61. Moradora do bairro Caprol, conta que sua casa começou a encher de água, ela saiu para deixar seu filho na cunhada.

Voltou para casa para erguer os móveis, pegou o pão e não conseguiu mais atravessar a rodovia para o lado da casa da cunhada. "Foi muito rápido, invadiu muito rápido", comentou, enquanto aguardava um veículo mais alto ou caminhão passar para lhe dar carona. Veículos menores não se arriscaram a passar naquele trecho.


Kelli da Silva, de Igrejinha Foto: Susi Mello/GES-Especial

Na manhã de quinta, a Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros Voluntários comunicaram que assim que as águas começarem a baixar, permitindo que as equipes tenham acesso aos bairros e localidades, as pessoas devem sair de suas casas para entrar nas máquinas, viaturas e barcos imediatamente para serem levadas aos abrigos que estão sendo disponibilizados.

Quem também ficou ilhado foi o sogro da agente comunitária do bairro Moinho de Igrejinha, a técnica de enfermagem Kelli da Silva, 40. Por volta das 10 horas da manhã, ela informou que o sogro mora no bairro Cohab e estava no telhado. No entanto, como havia dificuldade dos bombeiros chegarem ao local, ele ainda aguardava.

No seu caso, ela, o marido e os filhos saíram durante a madrugada. "Estávamos em alerta com os comunicados da prefeitura, mas fomos acordados pela sirene dos bombeiros na madrugada e todos saíram de casa", declara a moradora do bairro Moinhos.

"Estamos vivendo uma situação caótica. É a maior enchente da história de Igrejinha, superando a de 1982", declarou em live o prefeito Leandro Hoerlle. Ele salienta que ninguém estava preparado para receber esse volume de água, dificultando o acesso. Hoerlle pediu a todos que tenham paciência, já que bombeiros iriam fazer os resgates.


Empresas de calçados em Três Coroas em via alagada Foto: Susi Mello/GES-Especial

Em Três Coroas e Taquara, a RS-115 virou um corredor humano. Moradores de casas atingidas pelas águas e curiosos acompanharam a saída de outros residentes, com pertences de suas casas. Quem passava pela rodovia via parte das casas ou somente os telhados.

Em Taquara, o personal trainer, Tayrone Vasconcelos Machado, 40, colocou eletrodomésticos, televisão e documentos em uma caixa d 'água e arrastava-a pela rua alagada até a parte mais seca do bairro Santa Maria. Com ele, seus dois cachorros, a Jade e o Bil. Sua família iria se abrigar em uma casa de vizinhos, já que a dele estava com água até perto de sua cintura.

Em Três Coroas, o guia turístico Celso José Schuck, 45, submergiu o corpo na água para sair de casa, no Centro. "Ficamos ilhados, a água subiu de repente. Ficamos ilhados", comentou o morador. 

Uma quase voluntária

A professora Dienifer Eberhardt, 33, do bairro Quilômetro 17, de Rolante, quase foi uma heroína. Ela iria abrigar em sua casa colegas da escola, que tiveram casas atingidas pela chuva nos bairros Grassmann e Contestado. No entanto, na manhã de quinta-feira, ela também foi vítima da enchente.

"Estou no grupo das professoras daqui e a gente se comunica. Ia falar para elas ficarem aqui em casa que estava tudo certo. Eu ia disponibilizar minha casa, mas não deu", frisa.

Sua casa foi tomada pelas águas por volta das 10 horas. "Estava acompanhando a água que vem do Rio Rolante, mas fomos tirando as coisas para casa da sogra antes. Só que a água entrou na casa, o que nunca tinha acontecido", relata ao lado do marido e da filha, o motorista Diego Lamonatto, 38, e a estudante Julia Eberhardt, 12.

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