No Vale do Caí, onde a água do Rio Caí volta para o leito lentamente, desde domingo os esforços se concentram na limpeza das ruas e imóveis. Em Montenegro, a enchente ainda tomava ruas dos bairros Ferroviário, Olaria, Industrial e Centro na manhã desta segunda-feira.
Na área central, a cheia chegou até o cruzamento das ruas Olavo Bilac e Ramiro Barcelos, vias que já receberam movimentação hoje (6).
A Rua Albano Coelho de Souza, bairro Olaria, foi um dos pontos onde a prefeitura instalou postos de atendimento aos moradores. No local, era possível fazer um cadastro e receber cestas básicas e produtos de limpeza.
Até 10 horas desta segunda-feira, mais de 50 pessoas já haviam preenchido seus dados, movimento que no domingo foi intenso. A aposentada Ereni dos Santos, 79 anos, foi ao local pedir ajuda. “Só consegui salvar duas poltronas. Hoje estou na casa da filha”, disse.
Junto aos postos também é prestado atendimento psicológico gratuito, serviço que é procurado a todo momento.
Próximo dali, na Rua Osvaldo Aranha, o comerciante Claudionor Araújo, 52, empilhava na calçada as mercadorias que estavam guardadas dentro do prédio invadido pela enchente. Ele se preparava para inaugurar uma agropecuária.
Além disso, o outro estabelecimento, localizado a poucos metros dali, ficou abaixo d’água. “Ainda bem que a gente conta com os amigos. Essa solidariedade não tem preço”, declarou.
Também na Rua Osvaldo Aranha, a aposentada Lurdes Catarina da Silva, 69, contava com a ajuda de familiares para continuar a limpeza da casa. “Em novembro entrou 25 centímetros. Agora chegou no telhado. Perdi tudo”, disse entre lágrimas, contando que o filho também perdeu todo o maquinário da tornearia.
Quem ajudava na limpeza do negócio era o gerente Filipe Flores de Oliveira, 34 anos. Desde domingo, ele utiliza um trator para rebocar um reservatório de água e auxiliar voluntariamente os moradores.
Filipe é filho de Celomar Alves de Oliveira, 68 anos, encontrado morto na sexta-feira ao cair de cavalo, enquanto tentava resgatar o gado no bairro Olaria. “Meu pai morreu por causa de uma besteira”, diz.
Questionado de onde tira forças para ajudar, Filipe não hesitou em responder. “Vou ficar aqui parado, chorando? Não dá para parar”, completa. A família era proprietária de 130 cabeças de gado, sendo que somente 15 se salvaram.
Pareci Novo e São Sebastião do Caí
Com a liberação da RS-124, antes interditada pela enchente, agora é possível chegar a São Sebastião do Caí via Pareci Novo. O município de 5 mil habitantes também foi fortemente atingido pela cheia e ao longo da rodovia se acumulam pilhas e pilhas de móveis estragados, situação que se repete na área urbana.
LEIA TAMBÉM
Em São Sebastião do Caí, o que mais de via também eram montes de entulhos de móveis, roupas e eletrodomésticos estragados, além de moradores empenhados em tentar salvar o pouco que sobrou.
A costureira Elfrida Weber, 63, teve uma notícia ainda mais difícil quando a água baixou. A casa de madeira, na Rua Pinheiro Machado, já construída em pilares mais altos para não ser atingida pela enchente, foi deslocada pela força do Rio Caí. Com isso, o piso cedeu e o imóvel foi condenado.
Escoras foram colocadas para que a limpeza pudesse ser feita e os entulhos retirados. “Perdi minhas máquinas de costura que da outra vez gastei mais de R$ 3 mil para arrumar. Uma amiga vai emprestar uma peça para eu ficar. Não sei como vou comprar máquinas novas”, desabafa.
No comércio, o trabalho também era intenso para tentar recuperar o que fosse possível. Sem água, empresários e funcionários contavam com a ajuda de voluntários que traziam água. As consultoras de venda Bibiana Miranda, 30, e Eliandra Casagrande, 22, usavam escovas de dente para limpar embalagens usadas para acomodar cosmésticos.