PROBLEMA AÉREO

CATÁSTROFE NO RS: Inundação do Salgado Filho reafirma a necessidade de novo aeroporto

Área de 2,1 mil hectares onde ficaria o Aeroporto Internacional 20 de Setembro, entre Portão e Nova Santa Rita, não foi atingida pela enchente

Publicado em: 13/05/2024 13:14
Última atualização: 13/05/2024 13:14

Fechado para pousos e decolagens desde a noite do último dia 3 e totalmente alagado desde o dia seguinte, o Aeroporto Internacional Salgado Filho tem seu futuro de longo prazo questionado. A interdição por tempo indeterminado do principal aeroporto gaúcho e um dos mais movimentados do País reafirma a necessidade de uma nova estrutura para atender às regiões da Grande Porto Alegre e dos Vales.


Pátio totalmente alagado no Aeroporto Salgado Filho; avião de carga ficou ilhado Foto: Aeroentusiasta/Reprodução

Há pelo menos uma década está em pauta a construção do Aeroporto Internacional 20 de Setembro, projetado para ocupar uma área de 2,1 mil hectares em Portão, quase no limite com Nova Santa Rita, que não ficou alagada nos últimos dias. A proposta acabou perdendo força em 2018, quando a gigante alemã Fraport assumiu a concessão federal do aeroporto de Porto Alegre e, entre outros, ampliou a pista e a área de passageiros. A concessão é de 25 anos, prorrogáveis por mais cinco.

As melhorias implantadas pela Fraport aumentaram a capacidade do Salgado Filho, mas agora a discussão sobre o futuro do terminal volta ao debate. A maior enchente já registrada no Estado alagou quase que a totalidade do sítio aeroportuário. Apenas uma pequena parte da cabeceira leste (29) da pista não ficou debaixo d’água. No terminal e nas garagens a cheia passou de um metro de altura.

Por enquanto a Fraport não dá detalhes de como está a situação no aeroporto e nem o que está previsto para acontecer quando a água baixar. A previsão é que a reabertura não aconteça antes do próximo dia 30. Em entrevistas recentes, representantes dos governos estadual e federal informaram que toda a estrutura passará por análise detalhada antes da retomada das operações.

Ex-piloto da Varig e coordenador do Comitê Pró-aeroporto 20 de Setembro, Nelson Riet conhece os principais aeroportos do mundo e arrisca que, pela dimensão do alagamento, o Salgado Filho não voltará a operar tão cedo. “A água baixar é apenas o primeiro passo. Depois ainda virá um longo trabalho técnico e operacional de recuperação até a retomada dos voos”, pontua, lamentando que, neste momento, o fechamento do terminal prejudica até mesmo a chegada mais rápida de donativos ao Estado. “Isso sem contar o impacto enorme para toda a economia.”

Nelson Riet chama atenção também para uma possível fragilidade do Salgado Filho daqui para a frente. “O aeroporto está dentro da enorme área da capital que é protegida por diques. Mas como ficam esses diques a partir de agora?”, questiona. “A alternativa mais próxima ao Salgado Filho é o aeroporto de Caxias do Sul, que não tem um quarto da capacidade e está a quase duas horas de carro da capital”, acrescenta.

O deputado estadual Issur Koch (PP), que é membro da Mesa Diretora da Assembleia Legislativa, concorda que é preciso se discutir uma alternativa ao Salgado Filho, mas pondera que esse papel estaria previsto para o futuro aeroporto de Vila Oliva, no interior de Caxias. “Assim que esse momento crítico passar, o Estado terá que rediscutir o futuro de sua estrutura aeroportuária”, defende.


Área prevista para o Aeroporto 20 de Setembro não foi atingida pela enchente Foto: Prefeitura de Portão/Divulgação

O que prevê o projeto do 20 de Setembro

Em discussão desde o início dos anos 2010, o projeto do Aeroporto Internacional 20 de Setembro vai ao encontro da história de outros terminais importantes no Brasil, como o do Galeão (Rio) e de Guarulhos (São Paulo). Ambos contam com ampla estrutura um pouco afastada do grande centro e foram pensados para a expansão da aviação comercial nas duas capitais tendo em vista o esgotamento do Santos Dumont e de Congonhas, respectivamente.

O 20 de Setembro é projetado para ocupar uma área de 2,1 mil hectares, cinco vezes maior que a do Salgado Filho, a uma distância de 25 quilômetros da capital. O novo aeroporto já nasceria com duas pistas, uma de 3,8 mil metros e outra de 2,7 mil metros de extensão, garantindo pousos e decolagens simultâneos. “É a última área da região possível para receber um aeroporto”, garante o coordenador do comitê, Nelson Riet.

Comissão de Aviação da Assembleia acompanha o problema

Engajado no desenvolvimento da aviação regional no Rio Grande do Sul, o deputado estadual Frederico Antunes (PP) vê com preocupação o fechamento do Salgado Filho por tempo indeterminado. Ele concorda que para longo prazo é preciso discutir alternativas mais próximas da Grande Porto Alegre, mas salienta a complexidade que seria construir uma estrutura do zero. Cita como exemplo a novela do novo aeroporto de Caxias do Sul.

“Precisamos discutir primeiro uma proteção maior do nosso aeroporto contra as enchentes.” O deputado informa que as companhias aéreas vão ampliar, a partir desta semana, os voos para Santa Maria, Uruguaiana, Caxias do Sul, Passo Fundo e Pelotas. “Obviamente que não teremos a mesma praticidade do Salgado Filho, que está dentro da capital, mas também não ficaremos desassistidos”, garante.


Base Aérea de Canoas terá voos comerciais operados pela Fraport Foto: Divulgação

Fraport ainda não tem data para começar a operar na Base Aérea de Canoas

Neste domingo a Fraport informou ainda não ter prazo para retomar voos comerciais nem no Salgado Filho e nem na Base Aérea de Canoas, onde será montada uma operação provisória. Desde a semana passada, a empresa trabalha para transferir, emergencialmente, voos que sairiam de Porto Alegre para a unidade militar da cidade vizinha. “Não há previsão de quando essa operação estará pronta”, afirmou a Fraport por nota, destacando ainda que pretende retomar a malha aérea mínima para atender passageiros.

A Base Aérea vem recebendo voos de carga e de ajuda humanitária. A ideia é adaptar o espaço para receber passageiros, mas em uma capacidade bem menor. Estão previstos cinco voos diários chegando e saindo de Canoas, o que totalizaria 35 viagens semanais, de acordo com o que foi autorizado à Fraport. A mudança de endereço temporária está sendo negociada com o Ministério de Portos e Aeroportos.

As operações na Base Aérea, no entanto, se iniciarão quando a concessionária estruturar a logística mínima necessária para receber os passageiros, atendendo os requisitos operacionais e de segurança.
Mesmo com voos comerciais, a Base Aérea seguirá sendo o principal ponto para logística de cargas. É lá que estão sendo recebidas as doações que vêm sendo distribuídas para a população atingida pelas enchentes.


Boeing 757 da Samaritans Purse pousou neste domingo na Base Aérea de Canoas Foto: GVG/Divulgação

O exemplo mais recente aconteceu na tarde deste domingo, quando um Boeing 757 aterrissou trazendo 20 toneladas insumos. A ação foi comemorada pelo vice-governador do Estado, Gabriel Souza (MDB). As doações da Samaritans Purse, entidade internacional que oferece apoio à vitimas de tragédias, vieram direto dos Estados Unidos. Enquanto o Salgado Filho segue fechado e a Base Aérea é preparada, as companhias Azul, Gol, Latam e Voepass ampliam os voos para outros aeroportos do RS e de SC.

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