Feito de forma emergencial e voluntária pelo Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (IPH-Ufrgs), o levantamento que ajudou a monitorar os níveis das águas no Estado durante a enchente não deve ter continuidade. Ao menos, não da forma como ocorreu nesta situação. Nos últimos dias, os levantamentos e mapas serviram de guia para a população entender os riscos de cheias a partir dos rios Taquari, Caí, Sinos e outros.
Contudo, a continuidade do mesmo ainda depende de uma série de fatores, entre eles o financiamento. Professor do IPH-Ufrgs, Rodrigo Paiva destaca que a ação nesta situação tinha por objetivo atender a uma demanda específica. “A gente foi percebendo a magnitude que poderia ter e se revelou como algo fora do comum”, relata ele, ao falar sobre as avaliações feitas ainda com as chuvas na região Norte do Estado.
Paiva explica que o IPH já estava com atenção voltada para as condições dos rios gaúchos desde as cheias de 2023. “O IPH já tem muitos estudos de hidrologia da região. Já no ano passado, durante as cheias de setembro, a gente se dedicou a compreender aquele evento”, conta. Essa análise preliminar permitiu a criação de mapas interativos com perspectiva de onde chegariam as águas em diversas cidades do Estado, inclusive projetando a situação do Guaíba, na capital.
O grupo pôde criar mapas de risco em áreas que poderiam ser afetadas. Todos os cenários foram previstos pelo IPH com grande precisão. “Já com antecedência, as previsões mostraram que seria muito grave em Porto Alegre”, conta Paiva.
Sem garantia
Mesmo com a contribuição fundamental nas previsões durante as cheias das últimas semanas, Paiva não garante que a pesquisa seguirá sendo feita nos mesmos moldes. “Muito da atividade que estamos fazendo, talvez a totalidade, seja voluntária. Não é nem nossa função fazer um papel operacional”, observa o professor, lembrando que toda ação foi acontecendo por uma adesão voluntária dos membros do IPH.
Procurada pela reportagem, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema) e a Defesa Civil do Estado não responderam como pretendem agir em relação aos estudos do IPH-Ufrgs. Dessa forma, não se sabe se haverá um incentivo dentro do Estado para manter a parceria.
Mudança de rumo
Apesar da incerteza quanto à pesquisa, Paiva diz que já é possível prever que o Estado sofrerá de forma recorrente os impactos de novos eventos como os vistos nas últimas semanas. “Cheias mais intensas e mais frequentes. Algo que era mais raro, talvez vá ser quatro vezes mais frequente”, projeta.
Diante deste prognóstico, o pesquisador aponta a necessidade de mudança de rumo na sociedade gaúcha para evitar mais mortes e perdas materiais. “Tem muita coisa a fazer, a principal é amadurecer muito nossa cultura com desastres naturais e regular melhor a ocupação do solo”, aponta Paiva.
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