Em 1941, a edição do jornal O 5 de abril chegava às bancas com a manchete: “O Flagelo da Enchente”.
Fazia 15 dias que o Rio Grande do Sul era castigado por fortes chuvas e o texto informava que “em diversos municípios do Estado as águas assumiram proporções assustadoras, ocasionando inúmeros e incalculáveis prejuízos materiais”.
Até então, essa tinha sido a maior enchente no território gaúcho, tanto que as marcas alcançadas pelos rios serviram de referência para todas as obras estruturais de proteção posteriormente realizadas. Fazem parte desta lista os diques do Rio dos Sinos, erguidos a partir de década de 70.
Por coincidência, 83 anos depois, o Estado enfrenta a sua pior catástrofe exatamente no mesmo período da enchente histórica de 1941. No entanto, o que se vê agora não chega próximo daquilo que até então era o pior cenário conhecido pelas forças das águas.
Conforme registros históricos da época, em 1941, o Guaíba alcançou 3,25 metros em 3 de maio, continuou subindo e, em 8 de maio, tinha o nível de 4,76 metros.
Já desta vez, em 2024, as marcas subiram muito. Em 3 de maio, chegou a 4,80 metros às 22 horas em Porto Alegre e, nesta quarta-feira (8), às 10 horas, a marca era de 5,11 metros. A cota de alerta na capital é de 2,5 metros e de inundação, 3 metros.
Uma curiosidade deste período é que Ernesto Scheffel, que estava em Porto Alegre, conseguiu embarcar no último ônibus que saiu da capital em direção a Porto Alegre, como comenta Ângelo Scheffel.
O registro está descrito em seu livro. Outro dado é que a maioria dos registros da enchente foram realizados pelo fotógrafo ucraniano Sioma Breitman que, inclusive, teve uma exposição de imagens há dois anos no Farol Santander, em Porto Alegre.
Em Novo Hamburgo, o lugar mais afetado em 1941 foi o bairro Rondônia, que naquela época tinha uma área maior do que é atualmente. As notícias trazidas pelo O 5 de Abril eram de que os banhados de Lomba Grande estavam inundados.
A cheia ocupava uma extensão de três quilômetros, com 178 pessoas que deixaram suas casas e buscaram abrigo no distrito de Campo Bom, sendo que as zonas das olarias estavam “debaixo d’água e sem serviço”. Na zona da Olaria Kroeff havia 118 flagelados.
Na época, o prefeito hamburguense Odon Cavalcanti enviou um telegrama ao Estado colocando o Município à disposição para ajudar aos atingidos pela catástrofe que provocava mais estragos na capital. Hoje, Novo Hamburgo tem 32 mil pessoas atingidas, sendo quase 5 mil alojadas em abrigos públicos.
A situação da capital era tão grave para a época que um anúncio do jornal pedia a doação de roupas e cobertas, pois havia “60 mil necessitados”. O último balanço da prefeitura indicava mais de 11 mil desabrigados e milhares de pessoas tiveram que evacuar suas casas porque o Guaíba continuava avançando pelas ruas da cidade.
Marcas de 1941 e 2024 no nível do Guaíba em Porto Alegre
2 de maio – 2,99 metros (1941); 3,68 metros, às 22 horas (2024)
3 de maio – 3,25 metros (1941); 4,80 metros, às 22 horas (2024)
4 de maio – 3,90 metros (1941); 5,22 metros, às 22 horas (2024)
5 de maio – 4,14 metros (1941); 5,29 metros, às 6 horas (2024)
8 de maio – 4,76 metros (1941); 5,11 metros, às 10 horas (2024)
LEIA TAMBÉM
- Categorias
- Tags