Agricultores da região metropolitana de Porto Alegre enfrentam os prejuízos do terceiro período de chuvas intensas em um mesmo ano-safra. Segundo relatório da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), a perda em receita esperada causada pela enchente de maio em Nova Santa Rita já é de 59 milhões.
Entre 26 de abril e 5 de maio, o acumulado de chuvas no município foi de 530,87mm. As principais culturas prejudicadas são de arroz, milho, soja, olerícolas e pecuária. Houve prejuízos também à infraestrutura das fazendas, cujo impacto econômico ainda não pôde ser precisado.
De acordo com o relatório da Emater, “os prejuízos são observados em todas as localidades do município, atingindo todos os sistemas produtivos, cultivos e criações realizados no município, com número de atingidos que ultrapassa os 417 estabelecimentos agropecuários do Censo Agropecuário de 2017.” Ao todo, nesta safra, foram perdidos 145 milhões de reais em receita esperada em Nova Santa Rita.
Perdas graves no setor do arroz
A Cooperativa de Produção Agropecuária Nova Santa Rita (Coopan) produz arroz orgânico e suínos para abate. A enchente de novembro de 2023 prejudicou o período de plantio e, agora, 12 mil sacas de arroz da Cooperativa foram perdidas. O Rio Grande do Sul é responsável por 70% da produção nacional do grão, segundo a Federarroz.
“Em novembro, a enchente veio e matou o arroz antes de crescer. Tivemos de plantar de novo mas 100 hectares ficaram sem plantar porque não tínhamos mais semente”, relata o agricultor associado Nilvo Bosa, 56 anos. Ao todo, segundo a Emater, 238 mil sacas de arroz convencional foram perdidas e 48 mil de arroz orgânico.
A expectativa era de 22 mil sacas nesta safra, mas só 8 mil foram colhidas pela Cooperativa. Ainda há o risco de perder as sacas já colhidas porque a região passou 8 dias sem luz elétrica, da qual os silos dependem para manter a ventilação e evitar o mofo e as traças. Também não foi possível produzir ração para os suínos neste período.
“O prejuízo do que deixamos de colher e deixamos de fazer receita é de no mínimo 3 milhões e meio. O número pode subir ainda mais”, conta Bosa. Entre a venda de arroz e de suínos, o giro da Cooperativa costuma ser, em média, de 23 milhões por safra.
Hortaliças perdem em número e qualidade
“Faz mais de 40 anos que trabalho e nunca tinha visto uma situação assim”, comenta Daniel Silveira de Rosa, 59, produtor de hortaliças. “Temos a perda da planta que ficou dentro d’água, e a planta que ficou fora d’água mas foi molhada acaba morrendo também”, explica.
Além das plantas que ficaram embaixo d’água, a umidade facilita a reprodução de fungos e bactérias. Estima-se que 80% das hortaliças cujo solo foi encharcado seja perdida. Por enquanto, Daniel calcula que os três meses necessários para recuperar a plantação causem a perda de 150 mil reais em receita esperada.
A Emater estima perda em produção de 2160 toneladas de olerícolas convencionais e 1080 toneladas em orgânicas. Junto da plantação, Daniel teve perdas em adubo e um caminhão com produto já colhido que não pôde ser vendido na Ceasa. “Não sabemos se vai levar 80 anos para dar uma enchente que nem essa, como foi em 41, ou se daqui a 2 meses teremos uma igual ou maior. Isso nos preocupa”, comenta Daniel.
Agricultores avaliam cenário futuro
“O dado é caótico. Vai exigir muito esforço do agricultor e apoio do governo”, afirma Igor de Bearzi, engenheiro agrônomo e extensionista rural na EMATER Rio Grande do Sul. Uma das possíveis medidas para auxiliar os agricultores, segundo Bearzi, é a anistia das parcelas do Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (PRONAF) e do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAMP).
O Governo Federal anunciou, na última semana, um pacote de medidas para agricultores familiares gaúchos. Será liberado 1 bilhão de reais para subvenção de juros ao PRONAF. Também serão autorizados financiamentos de até 10 anos, com até 3 anos de carência, e descontos aplicados para reduzir a taxa de juros para 0% nominal ao ano. No caso do Pronamp, o financiamento poderá ser de até 96 meses, com três anos de carência e juros reduzidos a 4% nominal ao ano.
O Executivo também editou medida provisória que autoriza a importação de até um milhão de toneladas de arroz, para tentar enfrentar a escassez e alta do produto com a enchente.
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