As casas enxaimel, além de serem um testemunho de resistência e engenhosidade dos imigrantes alemães, carregam consigo o espírito comunitário dos colonos, que muitas vezes se uniam para a construção das moradias, compartilhando conhecimentos e técnicas de geração em geração.
Hoje, muitas dessas construções ainda estão presentes nas cidades da região, funcionando não apenas como patrimônio histórico, mas também como um elo entre o passado e o presente das comunidades germânicas no Brasil.
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Em algumas cidades, como em Ivoti, o estilo enxaimel é tão emblemático que se tornou parte da identidade visual do município e está diretamente ligado à história dos primeiros imigrantes que desembarcaram na região. Preservar essa história é objetivo da Sociedade Ivotiense de Estudos Humanísticos (Siehu), que está desenvolvendo diversas atividades alusivas ao Bicentenário da Imigração Alemã no Brasil, entre elas o documentário Um olhar afetivo sobre o enxaimel de Ivoti. O filme conta a história de dez casas construídas no estilo enxaimel nos séculos 19 e 20, e que ainda estão de pé.
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Mas o projeto não para por aí. Os membros da Siehu tiraram o roteiro da telona no início deste mês e transformaram em um projeto-piloto: uma caminhada pelas dez residências que são retratadas no documentário para ver “ao vivo e a cores”, um pedacinho da história daqueles que ajudaram a povoar a região.
“O projeto de levar os espectadores para conhecer as casas pessoalmente, por meio de uma caminhada, é uma maneira de aproximar o público da história, permitindo uma experiência mais imersiva e afetiva”, explica a presidente da Siehu e historiadora, Andrea Schneck.
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Destaque no Estado
Conforme as idealizadoras do projeto, Ivoti é o município com o maior número de casas enxaimel no Estado de que se tem conhecimento. Por lá, 177 imóveis foram mapeados. “Ao transformar a narrativa do documentário em uma experiência de campo, se possibilita que as pessoas, sejam moradores ou visitantes, possam sentir em cada estrutura, em cada madeira, o peso da história e da cultura que permanece ali, em pé, através do tempo”, enfatiza a arquiteta Jaqueline Brenner, membro da Siehu.
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Durante o percurso, de cerca de três quilômetros, a história é recontada por decentes dos imigrantes alemãs que escolheram Ivoti para viver. No trajeto que leva cerca de quatro horas e pode ser feito a pé, os visitantes passaram pelas Casas Leuck, Herrmann, Anschau, Koch, Dilly, Fröhlich (do Sapateiro), Dhein, Lauermann, Pohren e Salão Holler.
Memórias guardadas no patrimônio
A Casa Dilly, localizada na Rua Engenheiro Régis Bittencourt, é um exemplo significativo de como as construções enxaimel não são apenas residências, mas também centros de vida comunitária. A residência abrigou uma escola, funcionando como um ponto de educação, especialmente nos primeiros tempos da colonização alemã.
Para Maria Dilly, de 75 anos, que viveu a maior parte de sua vida ali, a casa é mais do que um patrimônio arquitetônico: é um local carregado de memórias afetivas. “Tentamos preservar muito objetos e utensílios que eram usados na época para as pessoas terem uma ideia de com era a vida daqueles que chegaram primeiro por aqui”, conta. A expectativa de receber a quinta geração da família na casa reforça a continuidade da tradição e o compromisso com a preservação da memória.
“Nasci, cresci, casei, criei três filhos, tudo aqui, e hoje estamos preparando a casa para receber a minha neta. Será a quinta geração que vai crescer aqui dentro, preservando a história da nossa família”, comenta a aposentada.
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Roteiro urbano
O roteiro urbano da caminhada tem como objetivo ser um programa permanente, proporcionando aos visitantes e moradores a oportunidade de conhecer e valorizar a história local, ao mesmo tempo em que reforça a necessidade de preservação do patrimônio.
“A ideia é despertar o olhar pelo patrimônio, tanto dos moradores, para que sigam preservando, quanto do Poder público para que nos auxilie nesse processo. Só assim vamos conseguir preservar essa história que é nossa”, afirma Andrea Schneck, presidente da Siehu. Informações pelo e-mail siehuivoti@gmail.com ou no Instagram @siehuivoti.
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Afinal, o que é enxaimel?
Na técnica enxaimel, as estruturas de madeira são construídas sem nenhum prego ou parafuso, apenas com encaixes. Os vãos entre as madeiras são preenchidos por tijolos, taipa ou outros materiais.