CASO CONFIRMADO

MENINGITE: Criança morre na Serra gaúcha em decorrência de tipo raro da doença; veja o que se sabe

Vítima de 10 anos foi internada no Hospital de Caridade de Canela e transferida para uma casa de saúde em Caxias do Sul, onde faleceu horas depois

Publicado em: 20/08/2024 18:18
Última atualização: 20/08/2024 19:01

Uma criança moradora de Canela, de 10 anos, morreu na noite de sexta-feira (16) devido à meningite bacteriana, do tipo Streptococcus pyogenes. O garoto foi internado no Hospital de Caridade de Canela (HCC) na noite de quinta-feira (15) e na madrugada de sexta, chegou a ser encaminhado ao Hospital Geral em Caxias do Sul, mas não resistiu.

Hospital Geral de Caxias do Sul Foto: Divulgação

A suspeita da doença foi confirmada nesta segunda-feira (19), após exames de laboratório positivarem para a cepa. Este tipo de meningite é rara, não possui vacina como forma de prevenção e é extremamente letal - 64% dos pacientes vão a óbito e, grande parte dos que sobrevivem ficam com sequelas. Entretanto, ela não é transmissível por secreções das vias aéreas, como outras. 

"Para chegarmos ao diagnóstico, isso saiu da coleta do líquor, através do laboratório do Hospital. E depois, todas as contraprovas para o Lacen [Laboratório Central do Rio Grande do Sul], que é uma via de regra que a gente sempre manda, em caso de doenças mais graves, como coqueluche, encefalites", coloca a enfermeira responsável da Vigilância Epidemiológico de Canela, Magali Cavinato.

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O jovem canelense estava no 4° ano do ensino fundamental, na Escola Municipal Dante Bertoluci, no bairro São Luiz. Morador da comunidade, estudava na instituição desde o 1° ano. Além de ter a caderneta de vacinação completa, não costumava ter problemas de saúde.

Pelo tipo de meningite não transmissível, a Secretaria da Saúde de Canela segue as normas do Ministério da Saúde. Assim, não foi necessário que os outros alunos, assim como a família do garoto, fizessem quarentena. "Nesse caso, desse tipo, por não ser transmitido pessoa a pessoa, não precisa fazer a profilaxia", afirma Magali. 

Educação lamenta óbito

"Era uma criança alegre, educada, amiga, participativa. Sexta-feira fizemos com a turma um momento de oração, para mandar energias", relata o diretor André Toledo. 

Conforme o responsável, o menino teve uma dor de cabeça na quarta-feira (14). "Ele foi para casa e aí já o levaram para o hospital, mas ainda sem diagnóstico. Na madrugada de sexta, retornou e foi hospitalizado", diz. 

Com a suspeita, ainda na semana passada, conversas entre a Educação e Saúde foram realizadas, para traçar estratégias, desde ao acolhimento dos estudantes até como lidar com o luto.

"Pedimos orientações como Secretaria de Educação para organizar a escola para a Saúde assim que a mãe nos comunicou da suspeita de meningite. Como ainda não sabíamos se era transmissível ou não, tínhamos que ficar atentos caso outros alunos tivessem sintomas, assim como também não instaurar pânico sobre", coloca a secretária da Educação, Janete dos Santos. 

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Janete reitera que todos os cuidados são tomados. "Não íamos ser inconsequentes de fechar os olhos e fazer de conta, são vidinhas, amamos os alunos. Esperamos que as famílias confiem e qualquer dúvida, procurem profissionais da saúde", fala.

Com o falecimento na noite de sexta, a equipe pedagógica elaborou um planejamento especial para esta semana. "Começamos a colocar em prática na segunda-feira, com a psicóloga da Secretaria de Educação, que foi até a escola e conversou com grupo de professores, para sabermos como falar com os alunos e, depois, foi diretamente falar com as duas turmas que ele havia estudado", explica o educador. 

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Nesta terça-feira (20), uma terapeuta foi até a Escola Dante Bertoluci fazer uma dinâmica com os grupos. "É muito recente, a gente ainda está aprendendo a viver esse luto, a gente não tinha uma experiência na escola nesse sentido, com alguém que a gente tinha tanto contato diário", diz André. 

A ideia, ainda, é fazer uma série de homenagens ao estudante falecido. "Vamos ir fazendo mais para frente, ir aproveitando sugestões dos alunos, ele já produziram cartas para entregar para a mãe, uns recadinhos de quando tem saudade colocam numa caixinha que após será aberta. São coisas simples, mas que representam muito nesse momento. A gente tem que enfrentar, eles são pequenos, mas vão precisar passar por isso", pontua o diretor. 

Toledo reitera que diversas ações são feitas relacionadas à saúde constantemente com as equipes do posto, que fica em frente à Escola. Atividades como higiene bucal, lavagem de mãos, cuidados com piolhos e a importância da vacinação ocorrem de tempos em tempos. 

Sobre a meningite Streptococcus pyogenes

A meningite por Streptococcus pyogenes decorre da bactéria que dá nome e se aloja ao sistema nervoso. "Ela não é transmitida por secreção de vias aéreas. É uma meningite que pode ser de uma fonte que a pessoa já tem uma infecção, principalmente otites e faringites, que neste caso a criança não tinha, não era doente, era saudável, com todas as vacinas em dia e bem cuidada", coloca a enfermeira da Vigilância Epidemiológica Magali Cavinato. 

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Outra forma de contrair a doença pode ocorrer através da alimentação. "Na literatura colocam que pode ser de leite cru, gelados - como picolé, sorvete, que não sabemos como foram feitos -, mariscos e alguns tipos de saladas. E claro, tudo vai depender de como foi feito e conservado. São fontes, não vamos conseguir dar o veredicto final de onde ele possa ter pego", justifica Magali. 

Para esse tipo, não há vacinação, nem mesmo na rede privada. "A evolução do quadro é muito rápida. Por isso enfatizamos, no surgimento dos sintomas, procure imediatamente o médico, independente do histórico, de contato ou não", pontua a enfermeira. 

Sintomas e cuidados

A Secretaria da Saúde reitera que, em caso de qualquer sintoma, a criança ou adulto procure ou a unidade básica mais próxima ou hospital. "Busque o local mais fácil, mas não espere e vá ao atendimento de emergência", frisa Magali. 

Entre os sintomas da meningite, estão febre, dor de cabeça (cefaleia), náuseas, diarreia, possibilidade de vômito, rigidez na nuca e petéquias (pintinhas). Alterações neurológicas também podem ser registradas, além de convulsões. 

SUS fornece vacinas para outros tipos de Meningite

A Secretaria da Saúde fornece imunizantes para a Meningite tipo C e ACWY. "As pessoas não acreditam, não cuidam", lamenta a enfermeira da Secretaria da Saúde. "Não vacina quem não quer. Nosso calendário vacinal é muito bom, amplo, o acesso no Estado como um todo é ótimo" complementa Magali. 

A Meningo C é destinada a bebês de 3 e 5 meses e tem reforço com 1 ano de idade. Já a Meningo ACWY deve ser aplicada em crianças de 11 a 14 anos, em dose única.

A Meningo B é apenas encontrada em rede privada. 

Outros casos

Um outro caso registrado no País, por este mesmo tipo de meningite, foi em São Paulo, em julho deste ano. No Estado, a Secretaria Estadual de Saúde deve investigar sobre a doença que causou o falecimento e a possibilidade de outros casos parecidos no RS, para alinhar futuros tratamentos. 

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