Mudar de cidade, de estado e deixar para trás a vida que construiu. Foi isso que a família do pequeno Kadmiel Edson Rodrigues da Silva, de apenas 4 anos, fez. Eles saíram de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, rumo ao Rio Grande do Sul, em busca de tratamento para o câncer que afeta o rim do menino. Eles escolheram Campo Bom para morar, mas o que não esperavam era o amor e a solidariedade que receberiam da comunidade.
O câncer foi descoberto aos 2 anos, em 2021, quando Kadmiel recebeu o diagnóstico de neuroblastoma em estágio avançado. Desde então, entre altos e baixos, a luta contra a doença é a batalha diária da família. A primeira parada foi na cidade de Barretos, em São Paulo, onde a cirurgia para a retirada de um dos rins e o transplante de medula ocorreram.
Mas como era preciso acompanhar a doença de perto, a opção seria o Hospital de Clínicas de Porto Alegre. O pai conta que no estado natal sempre ouviu muitos elogios sobre o Rio Grande do Sul, e em pesquisas feitas na Internet o encantamento pela cidade surgiu.
Kadmiel chegou a Campo Bom em janeiro deste ano, junto com os pais Edson da Silva, 42, Cleonice Rodrigues da Silva, 39, e o irmão Edson Gabriel Rodrigues da Silva, 11. Em março, após sessões de quimioterapia, os médicos do hospital porto alegrense consideraram o quadro de Kadmiel irreversível.
A mudança de Estado e o tratamento de Kadmiel mudaram a rotina da família. Morando de aluguel e sem carro próprio, Edson, que trabalhava como chefe de segurança na terra natal, ficou desempregado.
No entanto, a família, que chegou em terras gaúchas com apenas quatro pessoas, cresceu e ganhou uma rede de apoio que não imaginava encontrar. Por meio de uma surpresa para o garoto, idealizada pelo pai, que um grupo de amigos conheceu a história e decidiu ajudar a família da maneira que encontraram.
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Amor em forma de solidariedade
O casal de empresários e moradores de Campo Bom, Róger da Costa, 37, e Fabiane Machado da Costa, 47, decidiram ajudar de alguma maneira e para isso contaram com a ajuda de outro casal, a professora Natália Bonatto, 37, e o representante comercial Mosael Frantz, 42. Começou com o quarteto juntando os esforços para comprar alimentos e roupas de inverno para aquecer a família. A ação dos amigos ocorreu na quinta-feira da última semana (11).
Depois de comentarem com conhecidos sobre o caso, iniciativas de ajuda surgiram de diferentes meios. O aluguel da residência da família foi posto em dia e, mais do que isso, quitado até o fim do ano. “Um grupo de amigos tinha se responsabilizado em pagar o aluguel, mas quando a dona do imóvel ficou sabendo, decidiu não cobrar o valor”, revela Natália.
Aniversário antecipado
Em apenas três dias, a rede de apoio que começou com dois casais se transformou em diversas pessoas. Kadmiel completará 5 anos em 19 de junho, mas no último domingo (14) uma festa de aniversário adiantada foi preparada para o menino em uma casa de festas, com comida, fotógrafo e até um robô proporcionados através de doação.
Esse foi o primeiro aniversário em dois anos que Kadmiel conseguiu comemorar fora do leito hospitalar, como conta Edson. Para ele, o sentimento é de gratidão. “A gente ficou muito emocionado. Sempre queríamos dar uma festa de aniversário para ele, mas os gastos de um lado para o outro não conseguiam. Eu sou grato demais”, diz.
Na visão de Fabiane, o ganho não é apenas da família. “Por mais que a gente esteja doando algo para eles, nós recebemos muito mais do que eles próprios. Essa entrega deles nos torna ainda mais fortes como pessoas e seres humanos”, avalia ela.
Melhora expressiva
O garoto desacreditado pelos médicos, que não sentia fome e se alimentava com dificuldade, é o mesmo que teve bons resultados nos exames realizados na quarta-feira (17). Kadmiel tem apresentado evolução desde que recebeu a visita da Brigada Militar (BM), ainda no leito de hospital em Porto Alegre.
Assim que recebeu a notícia de que o filho ficaria em estado paliativo, Edson decidiu preparar a despedida para o filho com aquilo que Kadmiel tanto admira: os policiais militares. Ele entrou em contato com a corporação de Campo Bom e contou sobre o que estavam enfrentando.
Foi então que a BM decidiu tornar aquele um momento inesquecível e presenteou pessoalmente o garoto com uma farda completa e uma réplica em miniatura da viatura usada por eles. O encontro entre o menino, o Tenente Marcos Alberto de Oliveira Escobar e o Sargento Joel Henrique Xavier ocorreu no fim de março deste ano, no hospital. Edson revela que dois dias após o encontro, Kadmiel melhorou, recebeu alta e desde então não retornou mais às internações.
De volta a Campo Bom, Kadmiel conheceu o batalhão, andou de viatura, aprendeu a ligar a sirene e até mesmo falou no rádio do veículo. “Valeu a pena. A gente é normalmente chamado para combate crime. Nesse dia, o combate era no espírito, na alma e no sentimento”, relata o tenente Xavier.
Despesas
Mesmo com a melhora, Kadmiel segue frequentando o hospital de Porto Alegre duas vezes por semana para consultas e exames. A família gasta, em média, R$ 240 com locomoção semanal para a capital, além dos medicamentos diários que o menino necessita ingerir e produtos de higiene, como fraldas e pomadas.
Por conta do tratamento e do cuidado necessário de Kadmiel, a família não consegue dividir o tempo com um trabalho formal. Por isso, a ajuda da comunidade é uma das formas que o grupo de amigos encontrou para continuar auxiliando a família. Doações em dinheiro ou de qualquer outra forma podem ser feitas por meio telefone (51)93300-4813. O número e também a chave Pix.
A vida seguirá em Campo Bom
O amor que a família vem recebendo da comunidade é tanto que eles decidiram reconstruir a vida em Campo Bom. “A nossa vida no Rio Grande do Sul melhorou em tudo, tanto a nossa vida espiritual, a parte conjugal e familiar. Eu e minha esposa conversamos e vamos firmar nossos passos em Campo Bom. Daqui a gente não sai. Vai ser a nossa terra”, afirma Edson.
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