A conclusão das obras no Complexo Scharlau, localizado na interseção da BR-116 com a RS-240, em São Leopoldo, marca um novo capítulo na mobilidade urbana e logística do Rio Grande do Sul. Considerado o maior gargalo logístico da região pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), o local agora apresenta um fluxo de trânsito ininterrupto, eliminando a necessidade de semáforos e prometendo alívio para motoristas e para a logística regional.
O Complexo Scharlau, conexão vital entre a região metropolitana de Porto Alegre, o Vale do Sinos e a Serra gaúcha, enfrentava problemas significativos de congestionamento, muitas vezes influenciados pelos seis semáforos que ditavam o ritmo dos mais de 140 mil veículos que circulam diariamente pelo trecho, sendo este o ponto com o maior fluxo de veículos da região metropolitana, segundo o Dnit.
O ministro Paulo Pimenta recorda que a intervenção não apenas no Complexo Scharlau como em toda a BR-116, no Vale do Sinos, faz parte de um plano macro do Governo Federal para melhorar as questões logísticas no RS, que inclui também a extensão da BR-448. “O Complexo Scharlau e a 116 fazem parte da principal artéria logística do Estado. Quando o presidente Lula assumiu [o governo], esse projeto estava se arrastando por falta de recursos. O estabelecemos como prioridade, colocando recursos, e demos ritmo às obras”, destaca.
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Percurso testado pela reportagem
Testamos todos os caminhos possíveis do novo Complexo Scharlau e o percurso foi concluído em 16 minutos. Este era o tempo mínimo que os motoristas levavam para atravessar apenas uma das tantas sinaleiras que existiam no trevo antes da conclusão das obras.
O teste cronometrado foi realizado nesta quinta-feira (1º), por volta das 8h30, horário em que normalmente o trânsito no trecho ainda apresentava enormes filas de carros tanto na BR-116, para acessar a RS-240, como para quem vinha da 240 e pretendia ingressar na rodovia federal.
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Os motoristas que encaram todos os dias o trânsito neste trecho também já sentiram diferença ao circularem pelo local. “O inferno que era isso aqui antes dessas obras quero esquecer para sempre”, afirma o motorista de aplicativo Jean da Silva, 47 anos, que chegava a cancelar corridas na região da Scharlau por conta da tranqueira. “Não tinha como: levava uns 20, 30 minutos para pegar um passageiro. Agora não, agora você consegue se deslocar rápido”, pontua.
“1h20 trancados nesse trecho”, diz gerente de transportadora sobre mudanças
Para resolver o nó no trânsito na Scharlau, dois novos viadutos foram construídos no trevo da BR-116 com a RS-240. Um deles, leva o motorista a Novo Hamburgo. O outro é caminho para acessar o bairro na região conhecida como Scharlau baixa. Além disso, uma nova pista foi construída para acessar a RS-240, via dedicada aos motoristas que vem de Porto Alegre e pretendem seguir rumo ao Vale do Caí e para a Serra.
A nova configuração do Complexo Scharlau representa um avanço importante para a mobilidade urbana na região e para o escoamento de cargas e da produção. A fluidez do trânsito não só melhora a experiência dos motoristas, mas também contribui para a redução do estresse e da poluição.
Quem analisa dessa forma é o gerente de frota da Transportadora Mengue, cuja matriz fica no município de Portão. Passar pela Scharlau é uma rotina para os motoristas da transportadora e, desde que todos os caminhos foram liberados, o tempo perdido pelos caminhoneiros para cruzar o trevo reduziu. “Nossas carretas chegavam a ficar até 1h20 trancadas nesse trecho, agora fazem o trajeto dentro dos parâmetros aceitáveis”, coloca Claudio Peretto.
Após período de prejuízo, comércio volta a ficar otimista
O empresário Juarez de Vargas, 69, ajuda os filhos na administração de uma loja de colchões localizada às margens da RS-240, na Scharlau. Ele conta que a obra no complexo não apenas resolveu os congestionamentos quilométricos que se formavam todos os dias no trecho como também valorizou o local. “A solução ficou melhor do que nós imaginávamos”, sublinha.
Entretanto, durante o período de obras, que durou cerca de um ano e meio, o comércio da Scharlau foi impactado de forma negativa, tanto é que pelo menos sete estabelecimentos decidiram sair do local e ir para outros pontos. “Durante as obras, reduziu muito o movimento aqui no comércio, mas tudo está voltando à normalidade. Não saímos daqui por pouco, eu jurava que [a obra] fosse se arrastar por uns cinco anos. Ainda bem que andou rápido”, analisa.
O servidor público Lucio Souza, 56, que reside no bairro e acompanhou a transformação acontecer, também já vê as vantagens proporcionadas pela obra. “Está muito bom. Já não tem mais congestionamentos devido a fluidez do trânsito. Creio que deva melhorar ainda mais quando todos se acostumarem com as mudanças”, projeta.
Setcergs cobra agilidade no restante das melhorias na 116
O Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística no Rio Grande do Sul chama a atenção para a necessidade de conclusão das outras obras iniciadas na BR-116. Taís Lorenz, integrante do núcleo COMJOVEM Porto Alegre do Setcergs, considera que o gargalo logístico no trecho do Vale do Sinos não foi totalmente liquidado com a obra na Scharlau.
“A obra na ponte do Rio dos Sinos está avançando muito devagar. Parece que não sai do lugar. É crucial acelerar o progresso naquele ponto para não perdermos os benefícios do fluxo que está sendo liberado pela Scharlau”, analisa. Entretanto, a dirigente reconhece que a obra do Complexo Scharlau foi importante para a região. “Já sentimos os benefícios, o trânsito agora é livre, com passagem facilitada pelo viaduto. Esta obra melhorou nosso trajeto em cerca de 50% a 60%”, coloca.
Contudo, Taís observa que é preciso garantir melhorias contínuas nas estradas gaúchas. “Hoje, o maior problema é a qualidade das estradas em todo o estado, principalmente os buracos. Vemos frequentemente o fluxo ser interrompido para consertar buracos, que reaparecem em poucos meses”, finaliza.
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Obras que complementam melhorias na 116
A obra do Complexo Scharlau não vem sozinha. O Dnit executa um conjunto de ações para garantir melhorias operacionais e de segurança na BR-116, cujo investimento é estimado em R$ 600 milhões pelo governo federal. Confira as obras que estão em andamento:
– Implementação da terceira faixa, entre Novo Hamburgo e Porto Alegre: A obra já está praticamente pronta no trecho entre Novo Hamburgo e São Leopoldo, e o tráfego de veículos deve ser liberado em breve de forma oficial. A implementação da terceira faixa já avança por Sapucaia do Sul, rumo a capital. A previsão do Dnit é de que essa obra seja totalmente concluída somente em junho de 2025.
– Construção das novas pontes sobre o Rio dos Sinos: Com a conclusão da intervenção no Complexo Scharlau, a conclusão das novas pontes virou prioridade. As pontes estão prontas, mas ainda faltam as obras complementares das vias de acesso às travessias. A previsão é de que até setembro essa obra esteja pronta.
– Complexo Esteio: Obras similares às executadas na Scharlau, inclusive com a construção de novos viadutos, são realizadas em Esteio, nas imediações do Parque de Exposições Assis Brasil (Expointer). Contudo, essa obra só deve ser entregue em julho de 2025.