Vinte e sete pessoas morreram afogadas no Rio Grande do Sul nesta temporada de verão. Desde o dia 17 de dezembro, quando teve início a 6ª Operação Verão, foram registrados 26 óbitos em água doce e um em água salgada. Conforme levantamento do Corpo de Bombeiros, atualizado nesta segunda-feira (9), todos os casos aconteceram em áreas que não contam com a presença de guarda-vidas.
Na região, uma pessoa morreu em Feliz, e outra em Campo Bom. Na tarde de sábado (7), Kristian Ferreira Casagrande, de 26 anos, morreu afogado no Rio Caí, no trecho que fica na localidade de Arroio Feliz.
Em Campo Bom, Maicon Roberto Becker Ferreira, 19, morreu no Rio dos Sinos na tarde da última quarta-feira (4). Ele nadava com um amigo perto de casa, no bairro Barrinha, quando atravessou o rio e não conseguiu voltar. O jovem tinha planos de casar com a namorada e construir família.
No litoral norte, em Nova Tramandaí, uma morte foi registrada no último dia de 2022. Bruno Henrique da Silva Lascano, 22, entrou no mar por volta das 19 horas para tentar salvar um amigo de afogamento e desapareceu. Foi perto da guarita 159. O amigo foi resgatado por um guarda-vidas, e o corpo de Lascano foi encontrado na madrugada do dia 1º de janeiro, na orla, próximo à guarita 162.
‘Subestimam o local onde estão entrando’
“Quando nós analisamos os óbitos, eles têm muita coisa em comum. A primeira é que as pessoas adotam um comportamento que acharam que estavam confortáveis o suficiente, que tinham segurança o suficiente para ir para um local onde não tinha um profissional [guarda-vidas] para resguardar. E nesses locais elas acreditam demais em suas habilidades, subestimam o local onde estão entrando”, observa o tenente-coronel Isandré Antunes, chefe de Operações do Comando dos Bombeiros Militares do Rio Grande do Sul (CBMRS) e que também coordena a Operação Verão.
Antunes ainda pontua que “a água que entramos ontem não é a mesma que entramos hoje”. “É uma questão física. A água que estamos entrando agora, ela mudou de ontem para cá, porque veio galho, as pedras se mexeram no relevo, e nós não conseguimos enxergar isso”. De acordo com o tenente-coronel, são nessas situações que muitas vezes as pessoas se lesionam.
Para Antunes, além da escolha de pontos impróprios para banho e longe do olhar de profissionais, os banhistas acabam “relaxando” no momento de lazer e colocando-se em risco.
“O banhista não tem controle visual do fundo da água, é onde muitas vezes ele se aventura de cabeça, se lesiona, confia demais em sua habilidade e tenta atravessar. A cultura do desafio, de buscar uma bola, de buscar um objeto mais distante. Consumir bebida alcóolica e acreditar que dá para fazer algumas coisas que não fariam em estado normal, faz com que as pessoas se coloquem num risco maior”, elenca.
Risco no rio, na piscina ou no mar
O tenente-coronel explica que o “perigo é igual o risco vezes a exposição”. Ele afirma que a água é o perigo por si só, seja em rio, piscina ou no mar. “Todos esses locais onde tem água são perigosos, porque não temos o controle desse ambiente”. Ele classifica as pessoas como o fator exposição. “Se ninguém entrar onde tem perigo, o risco é zero”, pontua.
Para fugir do calor a orientação é que as pessoas escolham lugares com indicação dos Bombeiros para banho. “O afogamento começa a acontecer quando acreditamos que somos imunes a ele. A únca vacina é procurar um local onde o guarda-vidas esteja presente e observer as recomendações e alertas deste profissional, além de adotar um comportamento moderado”, recomenda Antunes.
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Prevenção
De acordo com os números divulgados pelos Bombeiros, desde o início da operação foram realizadas 75.381 ações preventivas, sendo que destas 334 tratam-se de resgates e salvamentos de afogamentos.
“O Corpo de Bombeiros tem trabalhado com muita ênfase na prevenção e com isso conseguimos evitar afogamentos, tanto no Natal como no Réveillon, com um saldo bastante positivo, considerado o número de pessoas que recorreu ao lazer na costa salgada do Rio Grande do Sul e águas abrigadas em balneários públicos onde o serviço está ativo”, avalia o tenente-coronel.
Mais de 500 crianças resgatadas
Até o último domingo, 548 crianças haviam se perdido na beira-mar. “Esse balanço é muito significativo, porque o que temos de mais precioso são os nossos baixinhos. Se alguém vai para a praia, fica desatento e perde o contato visual com este público que depende da nossa supervisão, muita coisa ruim pode acontecer neste intervalo até eles serem encontrados, inclusive uma tragédia”, alerta Antunes.
A orientação é para que os pais e responsáveis fiquem atentos aos pequenos enquanto eles brincam na areia ou no mar. “A criança não se perde, quem perde ela é o adulto. Nós entendemos que vivemos em uma sociedade altamente conectada, mídias sociais, podcasts, rádios, enfim, tudo é importante, mas naquele momento na praia é preciso que o adulto fique conectado visualmente com o seu baixinho.”
O número de resgates desta temporada já supera o número total da temporada anterior, quando 499 crianças foram encontradas na beira da praia.
Pulseira de identificação gratuitas para crianças são disponibilizadas nas guaritas de salva-vidas e também nos postos avançados da Brigada Militar. Nela, pode ser escrito o nome e o telefone do responsável. A pulseira é feita de material impermeável, ou seja, mesmo que a criança entre na água, as informações permanecem visíveis.
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