PESQUISA

Biodiversidade do bioma Pampa é alvo de estudo

Pesquisador da Unisinos integra grupo em levantamento inédito

Publicado em: 04/04/2023 17:54
Última atualização: 01/03/2024 10:00

Vegetação de pequeno e médio porte que recobre terrenos planos e suavemente ondulados na porção meridional da América do Sul: os campos, as planícies da região do extremo sul do Brasil. E mais. Essa vegetação conta com grande variedade de aves, mamíferos, artrópodes, répteis e anfíbios. Essas referências fazem parte do bioma Pampa, alvo recente de um estudo sobre a biodiversidade. Um trabalho de fôlego para diagnóstico de toda a biodiversidade do Pampa, que contou com a participação do professor da Escola Politécnica da Unisinos, Alexandro Tozetti.

Professor Alexandro Tozetti participa de pesquisa inédita sobre bioma Pampa Foto: Alexandro Tozetti/Acervo pessoal

O estudo fez parte de um intenso esforço coletivo com 120 pesquisadores de 70 instituições. O trabalho foi coordenado pelo professor Gerhard Overbeck e pelos pesquisadores de pós-doutorado Bianca Ott Andrade e William Dröse, do Departamento de Botânica, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs).

Influência

Tozetti, que é também coordenador do laboratório de Ecologia de Vertebrados Terrestres, contribuiu na área de anfíbios, que abriga cerca de 62 espécies somente no Pampa. O pesquisador explica a importância desses animais, que ajudam os cientistas a terem ideia da influência do homem no ambiente.

"Esses animais têm sido muito usados como indicadores dos ecossistemas. Muitas espécies de sapos, pererecas e rãs são sensíveis a alterações no ambiente. Então em algumas espécies, se você tira a floresta elas rapidamente vão desaparecer, em outras se você usar agrotóxico ou pesticida, mesmo que muito longe, elas vão desaparecer. Eles são uma peça-chave no que a gente chama de bioindicadores", explica o professor, via comunicação da Unisinos. O estudo foi publicado agora em março na revista internacional Frontiers of Biogeography.

Detalhamento

Na avaliação de Tozetti, as análises de todos os pesquisadores em conjunto permitiram a criação de um levantamento super detalhado das espécies encontradas no bioma. Conforme dados destacados pela Unisinos, com as informações que vão desde as plantas e insetos, até o número de carnívoros, é possível agora ter uma ideia muito mais próxima da realidade, em especial ao saber o número de espécies encontradas lá. O professor ainda conta que, apesar de terem uma ideia desses números, ainda assim houve descobertas que não eram esperadas. "Nós não tínhamos ideia do número enorme de espécies de algas e de fungos que existiam."

2% do território brasileiro e 9% da biodiversidade

A pesquisa aponta que o Pampa, que cobre pouco mais de 2% do território brasileiro, contém 9% da biodiversidade atualmente conhecida do País. "Importante, a biodiversidade brasileira é uma das maiores do mundo, então, nós estamos falando de 9% dentre o top do mundo", enfatiza Tozetti.

Ele também reforça que existem fortes indícios que o número de espécies identificadas na região pode subir ainda mais. Apesar da pesquisa inicial servir como forma de agrupar as informações sobre as espécies do Pampa em um só lugar, é possível que no futuro ela abra portas para muitos outros estudos. "Agora a gente tem indicações para fazer para os próximos pesquisadores, do tipo: você tem muitas espécies novas para descobrir de formigas, então isso vai direcionar grupos que talvez trabalhem no Cerrado ou na Amazônia a ter atenção para o Pampa também." E o essencial: que esses estudos possam ser importantes para a preservação.

Professor Alexandro Tozetti participa de pesquisa inédita sobre bioma Pampa Foto: Alexandro Tozetti/Acervo pessoal

 

Espaço para questões sobre mudanças climáticas

Na busca de um diagnóstico da biodiversidade do bioma Pampa, o estudo durou mais de dois anos para a elaboração de base de dados. "Agora que a gente sabe quem vive na região, vamos poder começar a fazer pesquisas com perguntas mais complexas, do tipo: Como as mudanças climáticas afetam a biodiversidade?", enfatiza Tozetti, também via comunicação da Unisinos. E no entendimento dele, o Pampa é também relevante para a sua sociobiodiversidade. "Você consegue imaginar a cultura gaúcha sem o Pampa?", questiona o professor. "Boa parte do que seria o imaginário do gaúcho é de uma pessoa a cavalo cavalgando pelos campos", completa. Nesse sentido, o bioma Pampa pode, na análise de Tozetti, ser reconhecido como um dos mais importantes do Brasil, não somente pela sua grande biodiversidade, mas também por sua importância cultural.

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