NEGLIGÊNCIA?
Bebê morre 15 horas após nascimento e pais denunciam caso à Polícia de Parobé
Alana Emmanuelly dos Santos Henrique nasceu no Hospital São Francisco de Assis; família busca respostas
Última atualização: 01/07/2024 16:37
13 de junho de 2024. Um dia que marcaria o início de uma vida virou sinônimo de tristeza para uma família de Três Coroas. A pequena Alana Emmanuelly dos Santos Henrique morreu 15 horas após nascer no Hospital São Francisco de Assis (HSFA), em Parobé.
Os pais ainda buscam por respostas e acusam o hospital de negligência desde o momento em que chegaram à casa de saúde, na madrugada daquela quinta-feira.
A mãe, Franciele Freitas dos Santos, 31 anos, conta que a bolsa estourou enquanto dormia e que, assim que percebeu que a bebê estava prestes a nascer, seu marido a levou ao hospital de Três Coroas, cidade onde fez todo o pré-natal. Já na entrada, Ederson de Lima Henrique foi orientado a levar a gestante de carro até o hospital de Parobé, que é referência em obstetrícia para o Vale do Paranhana.
Franciele afirma que passou pela triagem por volta das 2h30 daquela madrugada. Pouco depois, uma obstetra a atendeu, mas, segundo a mãe, faltaram exames para verificar se a bebê estava bem. "Ela [a médica] só fez um exame de toque e eu não vi mais a cara dela até as 7 horas da manhã, quando trocou o plantão e veio outro doutor."
A mãe conta que chegou a pedir que fosse feita uma cesariana, mas a médica alegou que não tinha anestesista no hospital. "Nessa altura do campeonato, não tem anestesista no hospital e só se for caso de urgência", diz ter ouvido da profissional.
Foi somente pela manhã que a cesárea foi feita, por volta das 9h40. O parto, segundo a mãe, foi difícil. "A cabecinha dela 'tava' trancada. Porque, de tanta força ali, ela 'tava' trancada no canal para sair normal. Aí eu escutei quando uma enfermeira falou: 'mas doutor, será que eu não empurro de baixo?'. Daí ele falou: 'vamos tentar'. E o meu marido, quando começou isso, eles pediram pra ele se retirar da sala."
A bebê nasceu, mas a mãe ainda aguardava ouvir sua voz. "Quando a 'nenê' nasceu, ela não chorou. Eu não escutei ela chorar. Então, eu perguntava toda hora."
A angústia durou horas. "Eles não me falaram nada. Quando ela nasceu, não me deram ela para ver. Eles não deram parecer nenhum para mim. Eu fui saber de notícias dela era umas oito e pouco, quando trocou o plantão", desabafa.
O pai acompanhava a filha e a esposa, mas também não recebeu explicações. "Meu marido ficava um pouco lá embaixo, um pouco em cima comigo, um pouco lá com a neném, um pouco comigo… Eu perguntava pra ele e ele dizia: 'eles estão lidando com ela, estão mexendo com ela, mas eles não me falam nada'."
A equipe da casa de saúde explicou aos pais que a menina precisava ser transferida de hospital, devido à necessidade de um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal. Porém, não havia leito disponível naquele momento.
No fim da noite daquela quinta-feira, eles foram avisados que havia um leito disponível em Passo Fundo. Porém, minutos depois, receberam a notícia da morte da filha. "O médico entrou no quarto e disse que a 'nenê' tinha tido duas paradas e já estavam lidando com ela há 30 minutos, e ela não respondia mais."
Família acusa negligência
Por não ter feito a cesárea no momento em que a mulher chegou na casa de saúde, já com a bolsa estourada e com contrações, a família acusa o hospital de negligência.
Franciele compara o atendimento com o recebido no parto da primeira filha, hoje com 15 anos. "Anos atrás, quando eu cheguei no hospital, eles me examinavam toda hora."
Conforme a mulher, o tratamento foi totalmente diferente desta vez. A gestação de Alana foi descoberta com 15 dias e acompanhada desde o início. "Nunca foi uma gravidez de risco", enfatiza.
A mãe diz que já solicitaram o prontuário, mas que o hospital pediu 15 dias de prazo para entregar a documentação, período que encerra na próxima segunda-feira (8). "A gente tem o direito de saber o que aconteceu."
Mesmo ainda sem os devidos esclarecimentos por parte do hospital, uma possível causa foi destacada pelo pai. "Minha filha acabou ingerindo muita água do parto e encheu os pulmões dela de água, onde nasceu sem conseguir respirar por conta própria, apenas com ajuda de aparelho", diz.
Questionada sobre o ocorrido, o Hospital São Francisco de Assis não divulgou qualquer detalhe sobre o caso. Em nota, informou apenas que não poderia se manifestar sobre informações referentes a atendimentos devido à Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). "Tudo o que se refere ao caso já foi passado para a família e continuamos à disposição destes."
A mãe diz que nada trará a filha de volta, mas deseja evitar que outros casos aconteçam. "Eu não quero nenhuma recompensa nem nada", diz. "Porque é um sonho. É passar nove meses esperando e fazer um planejamento todo", completa.
Caso é investigado pela Polícia Civil
Devido à falta de explicações, o caso foi registrado na Polícia Civil uma semana depois. "A gente decidiu registrar o boletim de ocorrência para eles [hospital] tomarem uma atitude mais rápida", comenta Franciele.
Responsável pela Delegacia de Parobé, o delegado Clóvis Nei da Silva explica que a investigação está no início e que a Polícia depende de documentos para verificar se ocorreu um crime.
O que diz a Secretaria Estadual da Saúde
Questionada sobre a falta de leito em UTI para Alana Emmanuelly no dia 13 de junho, a Secretaria Estadual da Saúde (SES) também afirmou que a LGPD impede que se manifeste sobre o caso.
"Pacientes que necessitam de atendimento especializado são regulados conforme avaliação técnica de profissionais de saúde do município de origem e da Central de Regulação. É esta avaliação que determina as prioridades, a situação de saúde e as condições de transporte do paciente, entre outros critérios. Dessa forma, é possível definir o momento adequado e seguro para a realização de procedimentos e transferência de pacientes", informa a SES.
Outros casos que envolveram gestantes no mesmo hospital
Em maio de 2023, as mortes de mãe e filha no HSFA geraram comoção na região. A gestante Jessica Cristiane da Silva, 26, daria à luz uma menina, que viria a se chamar Helloísa.
Exatamente um mês depois, Mariane Rosa da Silva Aita, 39, passou por uma cesárea na casa de saúde. Após receber alta, a mulher começou a sentir dores abdominais e, no mês de agosto, precisou ser internada novamente. Ela passou por nova cirurgia, mas não resistiu e morreu no dia 23 daquele mês, no mesmo hospital.
Parentes afirmam que, em um exame de ultrassom, foi constatado um corpo estranho apontado como gaze na parte de baixo esquerda do abdômen dela. O médico responsável pelo parto foi indiciado por homicídio culposo, quando não há intenção de matar.