TRAGÉDIA NA SERRA GAÚCHA
Aviões se chocam no ar em Gramado: relembre o acidente que matou nove pessoas em 1995
Aviões de pequeno porte sobrevoavam Gramado em comemoração ao Dia do Aviador quando se chocaram a uma altura de mil metros. Uma criança de 12 anos sobreviveu
Última atualização: 24/12/2024 14:06
A queda de um avião bimotor que matou dez pessoas da mesma família na manhã deste domingo (22) em Gramado ficará na história como o mais trágico acidente aéreo da cidade até então. Mas esse não foi o único. Em outubro de 1995, nove pessoas morreram depois que dois aviões de pequeno porte se chocaram no ar. Uma criança de 10 anos sobreviveu.
O Grupo Sinos noticiou a tragédia em seus jornais no dia 23 de outubro, uma segunda-feira. O acidente foi no fim da tarde anterior, por volta das 17 horas. Em alusão ao Dia do Aviador, comemorado no dia 23, o Aeroclube de Canela promoveu no domingo uma confraternização que incluía sobrevoos pela região.
Nas proximidades do Lago Negro, um dos mais conhecidos pontos turísticos de Gramado, um Cessna e um Sertanejo se chocaram no ar e ficaram fora de controle. Estavam a cerca de mil metros de altura e caíram instantes depois, em um raio de quatro quilômetros, um para cada lado.
Desespero em Gramado e Canela
A tragédia foi testemunhada por muita gente e deixou a região em pânico. Ao longo do dia, alunos de uma escola de Gramado e de uma escola de Canela fizeram voos panorâmicos após terem participado de um concurso literário em homenagem a Santos Dumont. Muitos familiares correram para o aeroclube de Canela em busca de informações. Os voos dos alunos já haviam sido concluídos no momento do acidente.
Aviões caíram em parafuso
O avião Sertanejo, de prefixo PT-EOX, caiu em parafuso no quilômetro 39 da RS-115 (rodovia Taquara-Gramado), na localidade de Três Pinheiros. O Cessna, de prefixo CX-ATR, também caiu em parafuso e foi parar dentro de um lago particular na localidade de Curva da Farinha, no quilômetro 31 da RS-235 (rodovia Gramado-Nova Petrópolis).
O Sertanejo tinha seis pessoas a bordo. Todas morreram. O piloto era Adriano Dalassanta, 21 anos. Os passageiros foram identificados como Henrique Souza Dias e Dinamara Souza Dias, César Augusto Scheffer, Sérgio Fogaça e Emiliano Becker.
O Cessna tinha quatro tripulantes. Morreram o piloto Luiz Omero Hoffmann, de 32 anos, e os passageiros Marco Antônio Athaídes e Lúcio Parmegiani. Uma criança de 12 anos, identificada como Camila Martins, sobreviveu. Ela era sobrinha de Marco Antônio. Durante a queda, a menina foi abraçada pelo tio essa proteção a salvou. Sete dos nove mortos moravam em Canela.
Menina resgatada dentro de um lago
A criança foi resgatada pelos irmãos Éder Rudimar Oro Oliveira e Jonimar Oro Oliveira, que perceberam o avião caindo em parafuso e correram para ajudar. Éder era policial rodoviário e, Jonimar, policial militar. Ambos estavam de folga naquele fim de tarde de domingo. A esposa de Éder, Jaqueline, também foi decisiva no resgate.
A sobrevivente foi levada para o hospital de Gramado com lesões leves e recebeu alta na quarta-feira, dia 25 de outubro de 1995. Filha de um bancário e uma professora, logo Camila voltou para casa, em Novo Hamburgo. Ela estudava no Colégio Santa Catarina e dizia estar sentindo saudade da escola.
O relato de Camila
Em entrevista ao jornal Pioneiro, de Caxias do Sul, a menina contou na época como foi o voo, iniciado menos de cinco minutos antes do acidente. Disse que o Cessna foi atingido na parte traseira pelo Sertanejo. "Meu tio perguntou para o piloto o que houve e ele disse que não sabia, mas que estava tudo bem. Mas ficamos desesperados quando vimos que o avião estava caindo", lembrou.
A sobrevivente contou ainda que um dos passageiros orientou o piloto a buscar um local plano para pouso, o que não foi possível devido à geografia da região. Lembrou também que todos estavam de cinto, mas o tio retirou o dispositivo para abraçá-la. "Ele ficou dizendo que ia ficar tudo bem, que eu estava segura com ele."
Famílias em busca de explicações
Três meses depois do acidente aéreo, já no início de 1996, familiares de algumas das vítimas se organizaram para buscar explicações e identificar os responsáveis pela tragédia. Na época a investigação da Aeronáutica ainda estava em andamento, mas a Polícia Civil já havia apurado que os aviões não tinham autorização para voos panorâmicos.
O Cessna pertencia ao piloto Luiz Hoffmann e, o Sertanejo, a Adriano Dallasanta. Ele inclusive estaria abrindo uma empresa em Canela para fazer voos panorâmicos mas, enquanto isso, voava apenas com amigos e conhecidos, o que não exigia algum tipo de autorização.
Sobrevivente homenageou seus heróis no casamento
Em março de 2011 a sobrevivente Camila casou-se em Canela. E ela fez questão de aproveitar a ocasião especial para homenagear quem a retirou do avião caído no lago naquele fim de tarde de domingo.