O HIV, uma das mais devastadoras epidemias do final do século XX, passou por uma notável transformação no tratamento ao longo dos anos. Em Campo Bom, o Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) tem sido uma peça fundamental nessa evolução, proporcionando atendimento especializado e humanizado para pessoas vivendo com HIV e outras doenças infecciosas.
Conversamos com a enferemeira Irlene Lucia Ackermann Schardong, a armacêutica Alice Machado Lemos e o médico infectologista Rafael Sprandel Missio sobre as mudanças significativas no tratamento e acolhimento dos pacientes.
O papel do CTA
O CTA de Campo Bom é um espaço essencial para o diagnóstico e tratamento de doenças transmissíveis. “Aqui, fazemos o acolhimento social quando alguém se descobre soropositivo,” explicou Irlene Schardong. “É um momento de muita fragilidade, e nossa equipe está preparada para oferecer suporte emocional e médico.”
Além do HIV, o CTA trata outras doenças infecciosas, como hepatites B e C, tuberculose e sífilis. “Temos cerca de 400 paciente com HIV, 70 pacientes com hepatite B e outros com hepatite C,” afirmou Alice Lemos. “A tuberculose também é comum, e o tratamento pode durar até um ano, dependendo da gravidade”, explica a enfermeira.
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O atendimento no CTA é marcado pela humanização e pelo compromisso com o bem-estar dos pacientes. “A gente tenta agilizar os processos para que o paciente se sinta motivado a seguir o tratamento,” disse Irlene. “Quando o paciente percebe que estamos valorizando sua situação, ele se sente mais encorajado.”
O CTA oferece testes rápidos para diversas doenças, facilitando o diagnóstico precoce e o início imediato do tratamento. “Os testes rápidos podem ser feitos diretamente aqui ou nas unidades de saúde do município,” explicou a enfermeira. “Mas para consultar com o infectologista, é necessário um encaminhamento.”
Especificidades no tratamento
O tratamento do HIV envolve uma série de cuidados especiais, incluindo uma extensa lista de vacinas. “Nossos pacientes têm acesso a vacinas especiais que não são oferecidas ao público geral devido à imunossupressão,” disse Irlene.
Rafael Missio, médico infectologista, destaca a importância da imunidade no tratamento. “Quando os pacientes têm uma imunidade muito baixa, precisamos avaliar o risco e o benefício antes de administrar qualquer vacina,” explicou. “Isso é fundamental para evitar complicações.”
Educação e conscientização
A educação é um componente crucial no combate ao HIV. “Muitas pessoas ainda têm concepções erradas sobre as formas de transmissão do HIV,” alertou Rafael. “O contato sexual sem proteção é a principal via de transmissão, mas também é importante destacar que o uso compartilhado de seringas e a transmissão vertical de mãe para filho são riscos significativos.”
Maternidade e HIV
Para mulheres grávidas que vivem com HIV, o tratamento é cuidadosamente monitorado para evitar a transmissão vertical. “A gestante é encorajada a não amamentar, e oferecemos fórmulas infantis por até um ano para garantir a saúde do bebê,” explicou Irlene. “Isso é essencial para prevenir a transmissão do vírus através do leite materno.”
O tratamento
O tratamento do HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana) tem evoluído significativamente desde que a epidemia foi reconhecida pela primeira vez nos anos 1980. As terapias iniciais eram limitadas e frequentemente acompanhadas por efeitos colaterais severos. Hoje, os avanços médicos transformaram a perspectiva de vida das pessoas vivendo com HIV, oferecendo tratamentos mais eficazes.
No início da epidemia de HIV/AIDS, o tratamento era rudimentar e frequentemente ineficaz. Os primeiros medicamentos, como o AZT, ofereciam apenas alívio temporário e vinham com uma série de efeitos colaterais.
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Foi só em 1996 que a terapia antirretroviral combinada, popularmente conhecida como “coquetel”, começou a ser usada. Este coquetel combinava diversos mais medicamentos antirretrovirais (ARVs) diferentes para suprimir a replicação do vírus, reduzir a carga viral no sangue e aumentar a contagem de células CD4, cruciais para o sistema imunológico.
Segundo a farmacêutica Alice Machado Lemos, os primeiros coquetéis eram complexos e caros, exigindo a ingestão de múltiplos comprimidos em diferentes horários do dia, muitas vezes com restrições alimentares específicas. Os efeitos colaterais eram comuns e podiam incluir náuseas, diarreia, neuropatia, entre outros. No entanto, essa abordagem representou um marco na luta contra o HIV, permitindo que muitas pessoas vivessem mais e com melhor qualidade de vida.
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Alice explica que a terapia antirretroviral moderna é muito mais simplificada e eficaz. Hoje, muitos pacientes podem controlar o HIV com uma única pílula diária que combina múltiplos medicamentos. Esses tratamentos são mais potentes, têm menos efeitos colaterais e são mais fáceis de aderir.
Profilaxia pré-Exposição (PrEP)
Uma das maiores inovações na prevenção do HIV é a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP). A PrEP é um método preventivo que envolve a tomada de um comprimido diário por pessoas que não têm HIV, mas que estão em alto risco de infecção.
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A PrEP tem se mostrado extremamente eficaz na redução do risco de infecção pelo HIV quando tomada consistentemente e pode ser solicitada pelo SUS, gratuitamente, por qualquer pessoa.
A evolução do tratamento do HIV, desde os primeiros coquetéis antirretrovirais até as terapias modernas e a introdução da PrEP, representa um progresso notável na medicina. Hoje, as pessoas vivendo com HIV podem ter uma expectativa de vida quase normal e uma qualidade de vida significativamente melhor. Além disso, a PrEP oferece uma ferramenta poderosa para a prevenção da infecção pelo HIV.
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