De cada dez brasileiros, sete fazem compras em atacarejos. É isso que mostra o relatório de 2022 da Associação Brasileira dos Atacarejos (Abaas), entidade que reúne 20 grandes redes de lojas. No ano passado, os associados da entidade movimentaram R$ 239,4 bilhões no País, valor que equivale a 2,4% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Essas empresas somam um total de 1.281 lojas e 271,6 mil funcionários.
No ano passado, houve aumento de 38% de novos pontos de venda, sendo as regiões Sul, Rio de Janeiro e Minas Gerais as que ganharam maior número de lojas de atacarejo. O crescimento deste setor também tem reflexos na região, com a abertura de novos negócios. O mais recente foi na quarta-feira (3), com a inauguração da primeira loja do Fort Atacadista, do Grupo Pereira, em Canoas, com investimento de R$ 70 milhões.
No período de um ano, entre maio de 2022 até agora, ao menos sete novas lojas de diferentes empresas foram abertas na região. Além disso, há dois novos empreendimentos em construção e o anúncio da instalação de outras quatro unidades de atacarejos.
No ano passado, teve a abertura de lojas do Macromix em Portão, no mês de maio; e em Tramandaí, em agosto. No mesmo mês, o Monaco Atacado e Varejo abriu uma unidade em Parobé. Em dezembro, o Grupo Andreazza, empresa da Serra Gaúcha, lançou sua quinta unidade da Rede de Atacado Vantajão em Montenegro, no Vale do Caí.
Já em 2023, o mês de abril foi repleto de notícias. Teve a inauguração de nova loja do Monaco no bairro Canudos, em Novo Hamburgo, e a entrada do grupo Zaffari no ramo dos atacarejos, com a primeira deste tipo aberta em Gravataí, somando investimento de R$ 100 milhões.Ainda existem duas lojas em construção do Grupo Imec, que tem sede em Lajeado, sendo uma em Campo Bom e outra em Sapiranga. As unidades, que devem entrar em operação no segundo semestre, terão a bandeira Desco, gerando 360 novos postos de trabalho. Ainda há previsão do Monaco ter mais uma loja em Campo Bom e o Cestto abrir unidade em Novo Hamburgo, além de inauguração do Fort Atacadista para Novo Hamburgo e Gravataí em 2024. O Fort Atacadista terá ainda um centro de distribuição em São Leopoldo.
Vale lembrar que o Atacadão ampliou sua rede de lojas, após a integração com o Grupo BIG, que respondia pelo Maxxi Atacado. Em Sapiranga, teve conversão da bandeira BIG para Atacadão e em Novo Hamburgo, do Maxxi. Em 2022, o Atacadão teve faturamento de R$ 74,47 bilhões e ocupa o posto de maior rede de atacarejos do Brasil.
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Franca expansão
“O modelo de atacarejos continua em expansão no Brasil. Foi em novas unidades do atacarejo que um terço dos consumidores fizeram suas compras mais recentes”, diz João Pereira, vice-presidente do Grupo Pereira e integrante do Conselho Deliberativo da Abaas.
Para exemplificar a ampliação, ele cita o crescimento da própria empresa que, em 2022, vai investir R$ 660 milhões em novas unidades. “Só para o Rio Grande do Sul estamos destinando R$ 300 milhões para seis lojas em Canoas, Viamão, Caxias do Sul, Porto Alegre, Gravataí e Novo Hamburgo, e um centro de distribuição em São Leopoldo”, diz.
Formato de autosserviço reduz custos para o consumidor final
Estima-se que o atacarejo ofereça custos menores entre 10% e 15% em razão do formato de autosserviço. Segundo a Abaas, por meio de pesquisa realizada em parceria com a NielsenIQ, as compras em atacarejo alcançaram 71% dos lares brasileiros, chegando a 84% na região da grande São Paulo, conquistando consumidores das classes A e B.
“O atacarejo é uma tendência no País porque todo mundo gosta de comprar bem. Isso vale para o consumidor final, para os donos de mercados e para os donos de restaurantes, pizzarias”, garante Pereira. Ele cita uma análise da consultoria McKinsey, que aponta ser de 35% a fatia do atacarejo no setor de em 2022. “A tendência é de que chegue a 50% nos próximos anos”, ressalta.
Preços baixos atraem clientes mais distantes
A biomédica Mirela Jane Evangelista dos Santos, 24 anos, mora no bairro Vila Nova, em Novo Hamburgo, mas se deslocou até o Canudos para comprar em um atacarejo nesta semana.
“Venho pelo preço e variedade”, comenta. De acordo com ela, há produtos do dia a dia que a diferença chega a 3 reais por unidade, em relação ao mercado próximo de sua casa. Aos fins de semana, ela retorna para Riozinho, sua cidade natal. A família tem um camping no município. “Já faço compras para eles, pois no camping tem um mercadinho.”
A dona de casa Marinês Forquin, 32, fez compras pela primeira vez em um atacarejo na quinta-feira (4). Morando em Campo Bom, também foi ao estabelecimento do Canudos por indicação de um familiar. Como no fim de semana terá uma comemoração familiar em sua casa, decidiu conhecer o local para comprar bebidas. Além do preço, Marinês gostou da organização e da variedade de produtos. “Semana que vem quero voltar para fazer o rancho.”
Atenção aos hábitos dos gaúchos
O Grupo Carrefour Brasil, que responde pelo Atacadão, argumenta que o Rio Grande do Sul é um estado importante na jornada de transformação da empresa, especialmente após a integração com o BIG. Com a negociação, houve ampliação para mais de 90 lojas de diferentes formatos.
“Com cerca de 14 mil colaboradores – quase 10% do total de funcionários do grupo no Brasil, atuamos para atender as demandas específicas dos nossos clientes do Rio Grande do Sul que possuem hábitos de consumo próprios”, diz em nota.
Mais um formato para o consumidor
Para a Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), o atacarejo é um dos formatos possíveis e que estão à disposição do consumidor. “Costumamos brincar que a tendência é não ter tendência, já que há formatos de loja para os mais diferentes públicos, com variadas propostas de serviço, mix de produtos e posicionamentos”, diz o presidente da entidade, Antônio Longo.
Segundo ele, o impacto no mercado tradicional é proporcional ao volume de vendas, ou seja, qualquer estabelecimento que abrir suas portas em uma região, causará mudanças de consumo naquele local, independente de sua proposta ou formato. “O atacarejo veio pra ficar mais é somente uma das diversas opções que estão ao alcance dos consumidores”, conclui.
Para entender o conceito
O atacarejo é um tipo de negócio que faz a união entre o atacado e o varejo, em um mesmo local. Lojas de atacado são lugares que abastecem indústrias e comércios locais com vendas de produtos de médio e grande porte, geralmente com preços menores. Já o varejo é o tipo de venda direta ao consumidor final.