Os imigrantes germânicos que se estabeleceram no Rio Grande do Sul a partir de 1824 mantinham grande apreço pelas artes, e a música estava presente tanto nos lares, quanto nas igrejas, nas sociedades e nos salões de bailes.
O canto coral no Brasil também é uma herança cultural graças a esses pioneiros. E no ano em que é comemorado o Bicentenário da Imigração Alemã no Brasil, uma amostra da integração artística entre os dois países foi dada com a turnê de Mauro Harff e Luciano Rhoden, integrantes do Alles Tchê. A artista plástica Mirian Sipert Gersos também fez parte da comitiva. O trio retornou de viagem domingo (7) feliz com a repercussão das apresentações feitas em cidades como Kaiserlautern e Luxemburgo (capital de Luxemburgo).
Além dos shows, Mirian também expôs 21 telas de sua autoria, feitas em aquarela e lápis de cor. “Tenho um trabalho com a Mirian há mais de três anos chamado Duo M&M, no qual nós cantamos esse repertório em alemão. Ela tem facilidade na linguagem e na pronúncia.
No concerto do dia 27 participamos, o Luciano e eu, junto com um grupo de jazz da Alemanha. A Mirian desenvolveu junto com a celebração dos 200 anos da imigração alemã obras qualificadas dentro dos motivos brasileiros… Ela expôs essas telas na mesma noite”, explica Harff.
20ª vez na Alemanha
Harff foi convidado pela primeira vez para se apresentar na Alemanha em 1989, no Kirchentag (Dia da Igreja), em Berlim, a convite do pastor Dorival Ristoff. “Me convidou a tocar com ele dentro deste encontro fantástico dos cinco continentes da Igreja Evangélica da Alemanha (EKD)”, conta. E, desde então, passou a fazer turnês anuais.
Repertório específico
O convite foi feito pelos representantes culturais alemães no início de 2024. “Foi uma sugestão de que a gente fizesse uma celebração junto com um grupo da Alemanha para fazer essa aliança entre Brasil e Alemanha também através da música. Nós desenvolvemos um repertório puramente brasileiro, de Norte a Sul, desde Parintins do bumba meu boi até a nossa milonga do Baixo Chuí no Rio Grande do Sul”, conta Harff, que destaca a parceria de Rhoden, que também é integrante do grupo Alles Tchê.
“Esse trabalho de traduzir músicas brasileiras do português para o alemão facilita a compreensão dos alemães do conteúdo, do texto que a gente canta, independente da diversidade dos ritmos”, afirma.
O sentimento de estar na terra dos antepassados
Os artistas gaúchos tiveram um feedback muito interessante. “O show no Jazzbühne foi um sucesso. Havia tanta gente que muitas pessoas ficaram de pé”, conta Harff. A imprensa alemã rendeu elogios ao repertório e à qualidade dos músicos, citando ritmos brasileiros como baião, samba e xote.
Os artistas mostraram o que o País oferece em termos de música brasileira, com a versão em alemão. Para Harff, a turnê proporcionou um sentimento especial, pois estava na região de onde vieram os seus antepassados em meados do século 19. O bisavô dele saiu da Prússia Oriental em 1874 para se estabelecer em Sapiranga.
“O sentimento de estar aqui e poder fazer uma homenagem através da música, que é algo fantástico, vai além do corpo, ultrapassa as fronteiras do universo, a gente está muito feliz e honrado por ter essa oportunidade”, comenta.
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