FIM DAS CARROÇAS

Você vê menos carroças de tração animal pelas ruas da região? Entenda o motivo

Queda no número de denúncias de maus-tratos é um indicador que confirma a percepção que vem das ruas

Publicado em: 08/11/2023 06:57
Última atualização: 08/11/2023 06:58

A circulação de veículos de tração animal, em especial o de carroças, reduziu nos municípios do Vale do Sinos que aprovaram leis para frear os casos de maus-tratos a animais. Em Novo Hamburgo, mesmo sem a Prefeitura oferecer qualquer benefício aos carroceiros, a movimentação de carroças - que antes era comum na área urbana - está praticamente reduzida a zero.


Flagrado percorrendo ruas de Novo Hamburgo, Manoel Cláudio da Silva trocou a carroça pelo cavalo de lata ao receber ajuda da prefeitura de São Leopoldo Foto: Isaías Rheinheimer/GES-Especial

"Todo mundo começou a entender que não é 'normal' carroças na cidade. O próprio carroceiro sabe", sinaliza Ráfaga Fontoura, secretário de Meio Ambiente de Novo Hamburgo.

Fontoura explica que o problema não foi totalmente erradicado. "Temos alguns poucos focos, que não são preocupantes, fechados nos próprios bairros", observa.

Durante uma semana, a reportagem circulou por diversas ruas do município e não encontrou nenhum flagrante. Pelo contrário, encontrou casos positivos de ações promovidas contra os maus-tratos aos animais. O catador Manoel Cláudio da Silva, 60 anos, mora na Vila Progresso, em São Leopoldo, mas também vem a Novo Hamburgo recolher material reciclado para vender. Ele foi flagrado empurrando seu cavalo de lata pela Avenida Pedro Adams Filho, no bairro Santo Afonso.

Silva fazia o uso de carroça, embora nutrisse o medo de eventuais reações do cavalo, mas abandonou de vez a tração animal quando recebeu apoio da prefeitura de São Leopoldo. “Comprei uma carrocinha usada para seguir trabalhando, é um pouco mais judiado, mas acostuma”, revela.

Mais exemplos

Outro bom exemplo vem justamente de São Leopoldo, onde a prefeitura ofereceu subsídio de R$ 12 mil/ano e, após, um bônus de R$ 6 mil, para que 159 recicladores trocassem a carroça por um “cavalo de lata” ou usassem o recurso para trocar de profissão. O secretário de Proteção Animal, Walter Verbist, percebe o fim das carroças nas ruas ao analisar dados. De fevereiro de 2020 a julho de 2022, 72 cavalos foram sacrificados após serem encontrados em condições irrecuperáveis.

Esse número caiu drasticamente com a aprovação de subsídio aos carroceiros. “A partir da vigência da lei, apenas três equinos foram sacrificados devido às condições de saúde após extrema exploração, recolhemos 40 cavalos por maus-tratos, e apreendemos doze carroças”, pontua. Após o pagamento da última indenização, apenas um animal foi recolhido na carroça. “Esses números mostram que o nosso trabalho foi bastante eficaz”.

Sapiranga também apresenta números que confirmam o fim da circulação de carroças pela cidade. Desde a proibição da tração animal no perímetro urbano, a fiscalização constatou apenas duas irregularidades, que resultaram no recolhimento dos animais. Além disso, as denúncias de maus-tratos de cavalos caíram. “Tivemos uma redução drástica do número de denúncias, e também observamos a redução do abandono de animais idosos ou debilitados”, coloca o secretário Ederson Klein.

No município, 22 famílias receberam auxílio de R$ 3,6 mil da prefeitura para abandonarem as carroças e os integrantes dessas famílias participaram de cursos de manicure/pedicure e de eletricista.

Campo Bom também aprovou auxílio emergencial para as famílias inseridas no Programa Municipal de Redução Gradativa de Veículos de Tração Animal, legislação aprovado em dezembro de 2022.

Carroceiros de Novo Hamburgo ainda esperam apoio

Se na área urbana de Novo Hamburgo não foram vistos carroceiros, quando se chega na zona rural, onde ainda é permitida a tração animal, foi possível flagrar recicladores fazendo o uso de carroças para carregar os materiais que encontram pelas ruas. José Bernardo da Silva, 41, mora na Vila Getúlio Vargas, no bairro Canudos, e fazia a coleta de material reciclável no Loteamento Integração, na Lomba Grande.


José Bernardo da Silva é de Novo Hamburgo e só pode mais trabalhar com a carroça na Lomba Grande; ele aguarda a prefeitura criar programa para auxiliar carroceiros Foto: Isaías Rheinheimer/GES-Especial

Ele conta que os carroceiros de Novo Hamburgo ainda aguardam um aceno da Prefeitura para que possam seguir trabalhando na legalidade. "Só sei que a perspectiva é desoladora. Simplesmente querem tirar nosso cavalo sem qualquer contrapartida de auxílio, como aconteceu em outras cidades. Vão tirar nosso sustento", afirma.

O secretário Ráfaga Fontoura garante que não há qualquer previsão de mudança da lei quanto à circulação de veículos de tração animal na zona rural.

Gostou desta matéria? Compartilhe!
Matérias Relacionadas