As antigas salas de aula e dormitórios da escola de irmãs se transformaram em suítes e apartamentos do Mater Hotel, em Canela. O prédio conhecido como Casa Auxiliadora, que compreendia o Ginásio Nossa Senhora Auxiliadora e construído na década de 1950, passou por reformas, revitalização e, agora, compreende um novo empreendimento hoteleiro e turístico da cidade.
O casal Rafael Zilio e Patrícia Picoli adquiriu o imóvel em 2014, da Mitra da Diocese de Novo Hamburgo como um investimento. “Mas sempre com o compromisso próprio de preservar o prédio”, comenta Rafael. Por sua localização privilegiada – tem vista para a lateral da Catedral de Pedra – e pela própria disposição interna do prédio, a dupla entendeu que havia viabilidade de transformar o local em um hotel.
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Obras e revitalização
A tarefa não foi fácil. Foram muitos anos, para que houvesse um trabalho de restauração que preservasse a história construída, através da arquitetura, fotografias. “Compreendemos que o prédio é parte integrante da história de Canela. Por isso, jamais aceitaríamos um projeto que não preservasse os materiais, a volumetria e, sobretudo, o significado histórico e emocional que essa construção representa para a cidade e seus moradores”, diz.
O casal, ao adquirir o local, encontrou um prédio em situação de deterioração, com infiltrações, por exemplo. O crescimento do comércio nos arredores também evidenciava a necessidade de reabilitação dos mais de 2,1 mil m².
Ladrilhos hidráulicos, madeiras do assoalho, vigas e caibros de araucária, tijolos e todos os elementos antigos possíveis de restauração foram mantidos no prédio. Materiais novos e modernos foram então inseridos. O projeto foi todo aprovado pelo Conselho Municipal de Patrimônio Histórico.
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A primeira fase da reforma foi iniciada em 2017 e os primeiros dois anos dedicados à restauração da fachada e à revitalização das quatro lojas do térreo, hoje ocupadas por diversos segmentos comerciais – chocolateria, mercearia, confeitaria e importadora.
Já o hotel inaugurou e recebeu os primeiros hóspedes no dia 7 de dezembro. São 24 unidades no total, sendo 12 suítes nos segundo andar e 12 apartamentos completos no terceiro e quarto andar – este, antigo sótão, totalmente readaptado para receber as famílias e grupos. As diárias variam de R$ 400 a R$ 1,5 mil, conforme a unidade e época de hospedagem.
Ainda há um espaço de uso coletivo, com serviços gourmet de cafés, espumantes e vinhos, para que os hóspedes possam interagir entre eles.
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Pelos corredores, imagens antigas da escola recuperam a história. Através do uso de inteligência artificial, o casal conseguiu aumentar a resolução das fotografias, para expô-las em quadros, sem perda de qualidade.
Os quadros de formatura antigos foram restaurados e reproduzidos em painéis fotográficos, para que possam ser visualizados pelos visitantes. Os originais foram guardados e estão sob a guarda do Projeto Alma Mater, criado justamente para proteger todo o material que resgata a história de Canela e região.
História da Casa Auxiliadora
A Obra do Ginásio Nossa Senhora Auxiliadora durou vários anos. Para sua construção, foram empregadas técnicas e materiais nobres. No final da década de 1940, a educação era vista como fundamental e era priorizada pela comunidade. A Igreja autorizou o início da construção da escola antes mesmo que a Catedral de Pedra subisse suas paredes.
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Foi em 3 de agosto de 1952 que o edifício do Ginásio de Canela era inaugurado, sob as bênçãos do padre João Cônego Marchesi e com regência da irmã Aureliana. O evento contou com a presença de autoridades do Estado, como o governador, o general Ernesto Dornelles. Foi o acontecimento mais importante da região naquele ano. A escola era mista e era dirigida pelas irmãs Bernardinas, que tinham chegado a Canela em 1942. Elas haviam vindo da casa provincial de Camaquã a convite do pároco da época, o padre Hickmann.
No primeiro ano, 243 alunos estudaram. A primeira formatura ocorreu em 1953, quando as matrículas já registravam 315 alunos atendidos por 20 professoras. Em 25 anos da instituição, mais de 1,5 mil jovens passaram por lá. O uniforme azul e branco fazia parte da rotina deles, assim como da sineta da madre superiora, que informava a hora de formar filas e entrar na escola, turma por turma, em silêncio.
Após alguns anos, mudanças ocorreram. A chegada dos irmãos Maristas, uma nova instituição foi aberta e os meninos matricularam-se nesta escola. A Auxiliadora perdeu grande número de alunos. Foi então que em 1975 as manchetes dos jornais anunciavam o fechamento do colégio. A decisão foi tomada pela Congregação das Irmãs Bernardinas, durante o ano letivo, e comunicada há poucos dias antes. Havia mais demanda de escolas, do que de alunos, o que motivou o fechamento.
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O prédio, sob o comando da Mitra Diocesana, chegou a ser ocupado como seminário e abrigou o campus Hortênsias da Universidade de Caxias do Sul (UCS).
Nova fase
A projeção para a operação é identificar e alcançar um público que prime pelos detalhes. Ainda, há projeto para que os corredores se tornem galerias de arte. As paredes já foram adaptadas para tal atividade. “Entendemos que o novo luxo busca simplesmente o aconchego e a praticidade, rodeado de arte e design em cada detalhe. Nascemos com foco na liberdade, privacidade e bem-estar do hóspede, sem abrir mão de um ambiente acolhedor e que proporcione uma estadia leve, prática e memorável”, finalizam.