SILVIO MILANI

ANÁLISE: Governo faz gambiarra no trecho da morte da BR-116

Solução para o trecho entre Novo Hamburgo e Dois Irmãos é a duplicação, mas aposta é em medidas paliativas

Publicado em: 29/01/2024 07:10
Última atualização: 29/01/2024 07:16

Até o governo sabe qual é a solução para o trecho da morte da BR-116, entre Novo Hamburgo e Dois Irmãos. Mas insiste em procrastinar. E agora vem com gambiarras. Os seis quilômetros de 13 mortes em 2023 parecem condenados ao caos.


Controladores de velocidade foram instalados recentemente entre a Roselândia e o Rincão Gaúcho Foto: Isaías Rheinheimer/GES-Especial

Não é necessário láurea em engenharia de tráfego para constatar a necessidade “para ontem” de duplicação da rodovia. O governo federal tem o diagnóstico há mais de dez anos, tanto que a obra foi várias vezes cogitada, mas sequer projeto há. O fluxo só aumenta e o quadro se agrava. Qual o limite para o pandemônio da trafegabilidade?

Como resposta à mortalidade recorde do ano passado, o poder público anunciou manobras paliativas em dois pontos, entre os bairros Roselândia, em Novo Hamburgo, e Rincão Gaúcho, em Estância Velha. Em resumo, segundo o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), serão construídos um novo canteiro central e uma alça de retorno. Também haverá uma espécie de alargamento da pista.

Os remendos prometidos já estão em atraso. Inicialmente previstos para novembro, foram reagendados para janeiro. O mês está acabando e a única coisa que se tem são improvisos grotescos.

Instalaram, no último dia 12, dois controladores de velocidade que tanto podem evitar como causar acidentes. Os equipamentos, que não multam, acarretam freadas bruscas de motoristas desavisados e redução excessiva da velocidade limitada a 60 Km/h. Com medo da infração, alguns passam a 40 km/h. Imagina a tranqueira.

A providência se traduz em vício lógico da administração pública. Assim como é mais cômodo aumentar impostos quando as contas palacianas não fecham, nada mais simples que proliferar radares e faturar na desgraça em vez de investir com eficácia nas estradas sucateadas. O lado positivo é que as baterias e placas solares dos controladores do trecho da morte ainda não foram furtadas. Além de estreito, o local tem pouca iluminação.

As obras anunciadas são uma sequência não planejada de melhorias procrastinadoras como a construção do canteiro de acesso e instalação das sinaleiras na frente do posto Sapatão, na Roselândia, há poucos anos. Amenizou os problemas, mas não resolveu.

A tão esperada, necessária e urgente duplicação provavelmente não zeraria mortes, pois a letalidade no trânsito envolve essencialmente imprudência, mas certamente as reduziria. Uma infraestrutura decente de tráfego diminuiria os impactos causados por maus motoristas ao mesmo tempo que se enquadraria à função utópica do poder público de prestar serviços minimamente aceitáveis ao contribuinte.

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