A cada dia que passa diminui um pouco mais a dificuldade que a pequena Melissa Martins, de 5 anos, tem para se comunicar com as pessoas. Diagnosticada com surdez desde que fez o primeiro teste da orelhinha, a menina está aprendendo a língua brasileira de sinais. Além dela, o movimento é para tornar a escola Zeferino José Lopes uma instituição bilíngue.
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O educandário fica localizado no Morro do Calçado, no interior de Canela, e os outros 45 alunos contam com uma ajuda extra para que possam conversar com a Melissa. Todas as semanas, a professora Jaqueline Loss está à disposição para ensinar. E o engajamento é de todos.
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Apesar de a Melissa estar na escola desde o ano passado, foi em 2024 que esse trabalho iniciou. Antes, o jeito era improvisar. A diretora Adriane Selau conta que era difícil conseguir entender e ser entendida pela aluna, mas que essa comunicação está melhorando. “A sociabilização foi o grande ganho da Melissa nesses últimos anos”, pondera.
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Até em casa tudo está mais fácil. “Agora, consigo entender o que ela está me dizendo. Estou aprendendo também. Está sendo muito bom e ela adora estar na escola”, destaca a mãe da Melissa, Daiana Martins, de 26 anos.
Processo de aprendizagem
Jaqueline dá aulas há 41 anos. É mestra em Educação, com uma linha de pesquisa em desigualdades sociais, diversidade sociocultural e práticas educativas. Ainda, a especialista em educação inclusiva está se especializando em Libras. Para a professora, a missão é fazer com que alunos com deficiência estejam na rede regular de ensino.
“A língua de sinais é muito importante para as questões cognitivas, de escrita e leitura, para o processo de aprender, de reflexão. O estímulo deve começar o quanto antes, mesmo quando bebês. A Melissa está se apropriando dos sinais em uma idade boa e, principalmente, com o apoio da família”, destaca.
Jaqueline comenta que essa participação é de extrema importância, pois já presenciou pais que não permitiram que os filhos surdos aprendessem a língua de sinais.
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Evolução no dia a dia
Melissa já consegue criar frases simples. Para ajudar a fixar as palavras, um dicionário foi criado junto com ela. “Se a professora estava trabalhando sobre circo, a gente ia mostrando os sinais de palhaço, malabares, brincadeira”, ressalta Jaqueline.
Assim como a Melissa, os outros cinco alunos da turma também foram aprendendo. Uma das palavras preferidas é amor, na língua de sinais brasileira.
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Franciele Schmitt é a professora da turma. Ela cita sobre os desafios de ter uma aluna com deficiência auditiva, mas frisa que todos têm um aprendizado diário. “Ver a evolução dela é gratificante. E vamos evoluindo também, buscando aprender”, diz. “As crianças se dão muito bem. Brincam com a Melissa e ajudam ela, pois sabem que ela não consegue ouvir. É uma troca entre eles muito legal”, complementa.
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Hino da escola em Libras
Uma das atividades realizadas ao longo do ano foi o aprendizado do hino da escola na língua de sinais. Uma maneira de integrar a todos. Ao longo dos ensaios, Melissa aprendeu sobre ritmos, dança.
“Vamos sentindo o ritmo do coração, da respiração, a vibração do som saindo da caixa”, salienta Jaqueline. Esses momentos são utilizados para aguçar a curiosidade, pois os estudantes sempre tiram dúvidas sobre uma palavra, uma frase e até gestos que viram na televisão. “Às vezes, eles me mostram alguns gestos e a gente vai conversando sobre. O interessante é que a língua de sinais tem os ‘sotaques’ regionais”, completa.
Apoio do Cadie
Quem acompanha essa evolução da Melissa e de outros alunos com deficiência e altas habilidades em Canela é o Centro de Atenção e Desenvolvimento Integral ao Estudante (Cadie). A coordenadora, Deise Schnidger, reforça que existe um núcleo para pessoas com deficiência auditiva na sede da instituição, que fica no bairro Distrito Industrial.
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Nas terças-feiras, Jaqueline vai até o local e fica à disposição de estudantes da rede municipal e da comunidade em geral para auxiliar nas demandas referentes à linguagem de sinais. “Temos uma sala com recursos e estamos projetando realizar um curso, no próximo ano, para formar professores e outras pessoas interessadas”, adianta Deise.
Em 2025, Melissa vai ingressar no ensino fundamental e dará continuidade ao processo de alfabetização. Por isso, a coordenadora cita que será necessário ter um profissional intérprete para ela dentro da sala de aula. Um contrato emergencial deve ser aberto para essa contratação.
“É uma pessoa que estará sempre com ela e que fará essa tradução em tempo real. Estamos trabalhando para ampliar o vocabulário linguístico dela. Para o próximo ano, teremos que adequar toda a proposta de alfabetização da turma para ela, criando um método fonético e silábico”, acentua Jaqueline.