A estiagem que castigou o Rio Grande do Sul nas últimas semanas deixou centenas de municípios em estado de emergência, além de causar prejuízos a lavouras inteiras. Engana-se, contudo, quem pensa que terra seca, campo desprovido de pasto e açudes sem água causaram problemas a agricultores que vivem somente no interior do Estado. Canoas também sentiu o golpe da seca.
São 30 famílias vivendo da agricultura familiar em Canoas, segundo informações da Emater-RS. Trabalham em cerca de 52 hectares formados por pequenas propriedades que, somente no ano passado, movimentaram mais de R$ 2 milhões graças ao cultivo de alimentos, como hortaliças e temperos. Tudo acaba sendo comercializado para a Ceasa e também minimercados da região.
Olmir Bittencourt dos Santos, 70 anos, possui uma propriedade no bairro Mato Grande, que é responsável pelo sustento de uma dúzia de famílias. Diante do cenário de perdas, admite que ninguém estava preparado para o rigor da estiagem visto neste ano. O trabalhador cita colheitas de hortaliça completamente perdidas.
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Terra
“O problema nem chega a ser a água, porque conseguimos irrigar as plantações”, explica. “O problema é a terra seca mesmo. Mesmo depois de molhado, o chão aquece muito rápido e mata as sementes. E não adianta chover um monte e voltar o calorão.”
Trabalhando há mais de 20 anos com o plantio, Valdecir Conceição, 51 anos, é sócio-proprietário de uma área de 7 mil metros no bairro Mato Grande. Conta trabalhar cerca de 14 horas por dia na tentativa de garantir a colheita de hortaliças. Apesar do esforço, segue contando os prejuízos devido à estiagem.
“Só de uma lavoura de tomate, perdi mais de 30% do que plantei”, aponta. “Além disso, perdi toda uma leva de cebola que plantei na mesma época e acabou secando no chão.”
Acompanhamento
Engenheira agrônoma da Emater, Caroline de Lima tem vindo à cidade periodicamente, conversando e orientando os trabalhadores sobre maneiras de minimizar as perdas durante o plantio. Ela diz ainda não ter um número fechado com relação ao prejuízo total em Canoas, mas admite que ele existe e não é pequeno. “A dificuldade de replantios é muito grande por causa da bolha do calor que se forma em cidades próximas da Capital”, explica. “A baixa umidade relativa no ar, as altas temperaturas também durante a noite, além da falta de chuvas regulares acabam impactando muito”.
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