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BEM-ESTAR ANIMAL

Adotei um cão resgatado na enchente, e agora? Adestrador dá dicas para adaptação ao novo lar

Cães precisam de rotina e algumas dicas são essenciais no processo de adaptação após um evento traumático

Juliana Dias Nunes
Publicado em: 02/06/2024 às 14h:57 Última atualização: 02/06/2024 às 15h:01
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Milhares de animais foram resgatados durante as enchentes que atingiram o Estado e que ainda deixam marcas na comunidade. Muitos cães estão em abrigos temporários à espera de tutores que lhe darão um lar. E após a adoção, como funciona o processo de adaptação de um cachorro que passou por uma situação traumática como esta?

Animais resgatados e levados para abrigo em São Leopoldo | abc+



Animais resgatados e levados para abrigo em São Leopoldo

Foto: Arquivo pessoal

Guilherme Bauer, que tem empresa em Novo Hamburgo especializada em adestramento de cães, traz algumas dicas para facilitar o processo de adaptação entre o cachorro, a residência e o tutor. Segundo Bauer, os animais resgatados das cheias são tratados praticamente da mesma forma do que os especialistas chamam de “ansiedade por separação” ou “sofrimento por separação”.

“Sem querer ensinamos o cachorro a não saber ficar sozinho, quando ele fica, destrói. Levando em conta que o animal está saudável, sem anemia, sem doenças, sem que o veterinário exija uma alimentação mais pastosa e que o cão possa comer ração, o primeiro de tudo é encaixar o manejo alimentar”, diz o adestrador, ressaltando que é essencial que o cão tenha uma rotina.

Manejo alimentar

A primeira regra do manejo alimentar é: nunca deixar ração à vontade. “A gente come, levanta e vai embora quando já se está satisfeito. A mesa não fica posta o dia inteiro. Se for assim, enjoa, o paladar fica seletivo e isso não é legal. Para o cão funciona da mesma maneira. Se esvazia o pote e eu encho de novo, o cão pode ficar obeso, pode vir a não ter compromisso com a alimentação, ficar com paladar seletivo, não comer e emagrecer. Um cão adulto não precisa comer mais do que duas vezes por dia. Eu libero ele para o xixi e cocô e chamo de volta para comer sua ração. Depois que come, libero ele de novo para ver se tem mais xixi e cocô para fazer. De noite faço a mesma coisa”, ensina Bauer.

Sobre o tempo para comer, segundo o especialista em comportamento animal, ele pode ser de até 10 minutos. “Se quer estipular um tempo pra o cachorro comer, não precisa mais que 10 minutos e o ideal é que ele fique em espaço reduzido, como lavanderia, cozinha, sem perambular pela casa. Quando ele comer tudo, eu faço festa com ele. Se não comeu tudo, recolho e guardo. Se o cão não comeu tudo de manhã não posso compensar as sobras da manhã à noite. São cerca de três a quatro dias para o cão começar a “engatar a comer”. É importante ter paciência, não temos o histórico destes animais, ele pode só ter comido comida antes.”

Primeiro passo para um passeio

Bauer lembra também que é necessário ensinar o cão a caminhar. “Tem animais que não sabem utilizar guias para passear, como alguns pitbulls que vemos nos abrigos. Primeiro tenho que ensinar a caminhar dentro de casa. As distrações da rua competem comigo. Ensino a andar ao meu lado dentro de casa, sem puxar ou ficar pra trás. Isso pode ser feito mesmo dentro de um apartamento pequeno, dentro da sala ou em volta da mesa da cozinha. Vou fazendo assim até chegar perto da porta, quando chego na porta, faço carinho. Vou fazendo isso e quando passar pela porta e ele estiver tranquilo, posso avançar. Se passo pela porta e ele não está tranquilo, volto para dentro de casa”, explica.

Local de dormir

Cães abrigados em Novo Hamburgo | abc+



Cães abrigados em Novo Hamburgo

Foto: fotos Juliana Nunes/GES-Especial

E será que já posso levar o cusco para dormir na cama ou no sofá? O adestrador explica que o ideal é que durante este processo os animais tenham seu próprio espaço.

“O ideal é que os animais não durmam no sofá ou na cama ainda. Não sei como reagem, por isso, é importante ter um local onde ele se alimenta, dorme e toma água. Ideal também que quando eu for levar animais para casa, e isso em qualquer momento da vida, eu o leve pela manhã, o mais cedo possível. Isso é para poder monitorar ele. Tudo que está no ambiente é recurso para o cachorro, assim a comunicação com animal será mais limpa e melhor. Se deixo ele andar por tudo, se tem sapato fora do lugar e ele pegar, é porque entende que “está liberado”. Quando o cão chegar na casa, ele precisa ter um espaço reservado para ele. E nos dois primeiros dias é importante que ele fique muito tempo neste espaço também, é como um local de referência dentro da casa”, detalha Guilherme Bauer.

Como vou chamá-lo?

Uma das dúvidas dos tutores é sobre o nome do animal. Em alguns casos ele já vem para nossas casas com um nome anterior, incluindo situações de maus-tratos. Para isso, Bauer tem uma outra dica valiosa.

“Quando adotamos e sabemos que ele passou por maus-tratos é importante mudar o nome. Diferente de nós, os cães associam o nome como um comando. Se ele associar com algo ruim, a lógica será rejeitar o comando. E tenho que cuidar sempre para quando usar o nome ter associações positivas, como: “Tobby vamos passear!”, “Tobby, vem!” Não use para xingar ou conter o cão, ele pode rejeitar o nome e nos rejeitar também. Faça um som quando for marcar um erro.”

 

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