Os especialistas ouvidos nos últimos dias são unânimes ao analisar que a meteorologia será ponto-chave na investigação do acidente aéreo que matou dez pessoas da família Galeazzi no último domingo (22) em Gramado.
O bimotor que os levaria até Jundiaí (SP) decolou sob forte neblina no Aeroporto Regional de Canela e caiu um minuto depois, a poucos metros da Avenida das Hortênsias. O acidente deixou 17 feridos, sendo que duas pessoas continuam internadas.
Na virada de outubro para novembro de 1997, a densa neblina que é muito característica na Região das Hortênsias também esteve no centro das atenções. Por volta das 16h30 do dia 31 de outubro, um jatinho Cessna Citation 550, de prefixo PT-LQG, que fazia táxi aéreo, atravessou a pista do então Aeroclube de Canela e atingiu duas casas próximas. Três pessoas morreram na hora.
Os jornais do Grupo Sinos deram ampla cobertura do acidente, o primeiro no local. A pista de Canela é asfaltada desde 1985. Dois anos antes, um acidente no ar envolvendo dois aviões de pequeno porte matou nove pessoas em Gramado.
“A única coisa que posso afirmar com convicção é que esta sexta não era dia de descer nesse aeroporto. Aqui só se opera visualmente”, observou na época Paulo Bergamaschi, um dos diretores do aeroclube. Ele pontuou à reportagem que no momento do acidente não chovia em Canela, mas havia forte neblina.
O jatinho, que vinha de Curitiba (PR), pousou no sentido norte-sul a pista, o mesmo que, no domingo, decolou o Piper dos Galeazzi. No entanto, o Cessna não parou a tempo, saiu da pista e caiu sobre duas casas que ficam poucos metros adiante, na Rua São Pedro. “Na pista do aeroporto, inaugurado em 1979 e asfaltada em 1985, ficaram as marcas da freada”, narrou o Jornal NH na época.
Paulo Bergamaschi disse à reportagem que pessoas do aeroclube notaram que “o avião entrou muito rápido e tocou a pista já muito distante do permitido”. “Era uma aeronave mais antiga, que não tinha reverso”, completou. Reverso é um dispositivo dos motores que auxilia na frenagem do avião.
O avião atingiu em cheio duas casas que ficam em linha reta à pista e pegou fogo. Morreram na hora o piloto Clever Antunes, o copiloto Guilherme Withiers, e o empresário Gui Pereira de Oliveira. Ele era dono da concessionária Renault de Curitiba e foi a Canela participar de uma convenção de vendas no então badalado Hotel Laje de Pedra.
Seis pessoas que estavam nas duas casas escaparam da morte por muito pouco. “Cuidado, vem um avião”, disse Adelino Benetti à filha Inês, de 12 anos, que estava na sala assistindo televisão quando foi puxada pelo pai a tempo de escapar da rota fatal do jatinho.
Adelino havia acabado de chegar em casa de moto quando percebeu o barulho atípico vindo do aeroporto. “Era inconfundível o som, mas parecia falhar”, contou ao Grupo Sinos na época. Após a explosão, as chamas atingiram três metros de altura. “Sinto felicidade por ter salvo a minha filha, graças a Deus”, disse. A esposa de Adelino estava em outra parte da casa e também escapou ilesa. Os dois cães da família não se feriram.
A segunda casa atingida pelo avião estava desocupada no momento do acidente. Outros três vizinhos da casa ao lado estavam no outro lado do imóvel quando houve a explosão e também escaparam da tragédia.
Do avião, só sobrou a cauda. O restante foi consumido pelo fogo. Os fragmentos dos corpos dos três ocupantes foram recolhidos e levados no mesmo dia para o Instituto Médico-Legal de Porto Alegre. Os destroços do avião foram retirados no dia seguinte (sábado, 1º de novembro), após levantamentos de técnicos da Aeronáutica.
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